quarta-feira, 6 de julho de 2011

Monólogos de Outros

Hoje liguei pra minha mãe e ela disse que estava no hospital. Antes que dissesse qualquer outra palavra, senti um desespero absurdo. Meu irmão estava tendo a perna engessada. Parei de respirar de vez. Em quase vinte anos de vida, se imobilizei um dedo foi muito. Nunca nem aprendi a dar estrelinha com medo de quebrar o pescoço! Fiquei chocada, ainda que sem motivo, afinal, crianças fazem isso, não fazem? Nos preocupam, se machucam, pioram e melhoram.  Meu pequeno então pegou o telefone e começou a conversar comigo, com a voz mais tranquila do mundo. Acabou minha taquicardia e senti meu corpo se resfriar como uma locomotiva no momento da parada. Meu caçula relatou o incidente, e, como deduzi, ele tinha caído na escola. Continuou e contou que fez um escândalo no consultório e o justificou com sua 'falta de costume de colocar gesso'. É tão espetacular o raciocínio de alguém de oito anos!  Em determinado momento do diálogo, Frederico me disse que era mesmo um imbecil. Não pude controlar as gargalhadas e a curiosidade. 'Só dá tudo errado na minha vida, irmã. Eu vou ter que ficar 15 dias com o gesso e não vou poder dançar na festa junina. E olha que eu estava dançando com a Gabi nos ensaios!'. Ok. Meu irmão é mais uma vítima do surto coletivo.   Todos os dias escuto no mínimo cinco pessoas reclamando de suas vidas ruins e atribuladas - eu mesma respondo por quatro delas, visto que moro sozinha e tendo a falar muito com as paredes. De qualquer forma, ao ouvi-lo proferir essa frase apocaliptica respondi prontamente:'pelo menos você dançou com ela essa semana todinha'. E ele se sentiu melhor. Realmente, preciso levar meus sábios conselhos de irmã mais velha pra minha própria vida.  Tudo realmente poderia estar pior. E mesmo com esse tempo que não passa, me sinto tão bem! É como se eu tivesse saído de um momento tão ruim, mas tão ruim, que tivesse se tornado imperativo ver o lado bom das coisas. Na verdade, não sei se é o lado bom, se é o lado avesso, se é o lado certo, mas, definitivamente, vejo um outro lado na minha rotina. E acabo vendo na dos outros também.  Embora eu não tenha passado por dificuldades ou tristezas recentemente, me sinto como se tivesse acabado de cruzar um deserto com o amigo Moisés por 40 anos, sem a menor razão aparente. E tudo fica tranquilo e bonito, mesmo quando tenho crises acadêmicas. Qual o nome disso mesmo? Acho que é alegria. É, deve ser. Eu estou alegre. E cansada. E vomitando parágrafos. E dormindo. E falando, pra dentro por fora. 

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Monólogo de Dois - Parte XXXVIII

Eu tenho plena consciência de que muitas coisas nessa vida me irritam. Tenho total noção de que meu pavio com situações corriqueiras não é nenhum curto, mas não inexistente. Mas, se eu tivesse que fazer um ranking, um Top Five de coisas que me irritam DE VERDADE, acredito que o primeiro lugar seria da batalha entre a cabeça e o coração. Mete e sentimento. Minto e sinto muito.

Por que raios a gente não consegue desvencilhar um do outro? Por que não se pode ligar um, quando for a sua vez de trabalhar, e desligar o outro, quando não for a sua hora de entrar em ação? Mesmo esse assunto sendo clichê – outra coisa que me irrita profundamente -, atenção tem de ser dada.

Não tem jeito: quase sempre, quando a nossa cabeça percebe que alguma situação da vida não nos é mais positiva e benéfica, tem sempre o coração pra te falar: “Ah, espera mais um pouco! Você tá sendo muito precipitada, Priscila! Me escuta! Me ouve!” Muitos dizem que saber ouvir o coração é uma arte, uma benção, um talento. Vai ver que, em dados momentos, deve ser mesmo. Mas, em outros, quando você percebe que, de fato, não dá mais, e só quer sair correndo, por que esse coração de papel resolve se transformar em pedra e ser mais pesado que o seu gelatinoso cérebro?

Se a gente abstrai a existência dele, sofre depois. Se a gente escuta o que ele tem a dizer, sofre agora. Ou seja, no final das contas, parece que o sofrimento é inevitável, quando se está prestes a tomar uma decisão que venha a mudar a sua vida. Vai ver que é assim que as coisas devem funcionar mesmo: toda escolha tem um lado bom e ruim, cabendo a quem escolheu saber lidar com a parte negativa e maximizar a positiva, mostrando que valeu a pena ter ido por aquele caminho...

Acho que isso se chama maturidade. Racionalismo. Praticidade. Frieza. Chame como quiser. Acho que isso é necessário, em alguns momentos da nossa vida, pra que a gente possa ir adiante. Tem vezes em que sentir não basta. Tem vezes em que é preciso pensar também. Mesmo que aperte o que sente, racionalizar é preciso.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Monólogo de Dois - Parte XXXVII

Não sei se é por causa do meu signo ser o de Leão. Não sei se é pelo minha personalidade. Não sei se é pelo fato de que eu sou um ser humano – apesar de, às vezes, mais parecer uma mula, de tão irracional-. Vai ver que é coisa de mulher. Vai ver não é nada visível. A questão? Simples, mas complexa: todos nós temos objetivos na vida. Criamos um atrás do outro, nos mais diversos caminhos e setores da nossa vida. No profissional, queremos promoção. No amoroso, queremos redenção. No pessoal, queremos atenção. E essas coisas todas que sempre queremos parecem, na maioria dos casos, estar bem distantes do que nossas mãos podem tocar, no olhos, ver, e nosso coração, internalizar. Nesse sentido, nesse caminho, andamos, atrás delas, sem saber ao certo se estamos indo pela direção correta. Sem saber se estamos indo, na verdade, a canto algum. Vamos reto, com algumas curvas e um objetivo fixo: conquistar aquele objetivo. Mas e quando conseguimos?

E quando, depois de tanto esforço depositado, tanta energia empenhada, a gente consegue o que queria, como boa e clássica criança mimada que consegue o seu pônei de aniversário? Às vezes, o mais angustiante acontece: vemos que, depois de tudo e todos, aquilo que a gente tanto buscou não era. Não era o que achávamos ser. Não é suficiente para nós, eternos insatisfeitos.

Alguns dizem: ótimo, então! Tem, agora mais um incentivo para continuar evoluindo. Evoluindo, ok. Mas evoluindo pra quê? Por quem? E, o mais abstrato, até aonde? Sim, porque, na vida, somos inclinados e criados de modo a sempre buscar melhorar o pior. Mas quem disse que o diferente é, realmente, melhor? Diante disso, por que raios eu devo continuar a seguir?

Simples, mas complexo: a gente segue por instinto, só pode. Somos mulas e/ou seres humanos, animais condicionados a sempre ir, mesmo que voltando. Devemos sempre olhar pra frente, mesmo retificando um caminho inadequado e dando marcha à ré.

O mais difícil nisso tudo não é chegar ao objetivo. Isso, com o tempo de vida, fica até fácil, decorado e ensaiado. O pior é perceber que aquilo não era pra ser como tem sido. O mais agonizante é constatar que, infelizmente, aportamos no país errado. Pousamos na pista trocada.

É hora de ir pra outro lugar. É momento de, aí sim, usar toda a força que um dia nunca se pensou em ter. Criar a chamada coragem, duplicá-la e reaplicá-la no nosso próximo objetivo. No próximo intuito.

Afinal, somo seres errantes, gritantes e nômades nas nossas próprias vidas. Mesmo que, por vezes, as nossas vidas se cruzem com a de outros, nada garante que ficarão sempre em transversal. É necessário ser Homem, com letra maisúscula, pra continuar seguindo. Sem saber ao certo pra onde ou por quê. Mas sempre tendo em mente que, quem sabe, vai valer a pena.

E isso basta.

Tem de bastar.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Monólogo de Dois - Parte XXXVI

A gente cresce. Vira gente, ou, pelo menos, acha que virou. Depois, ganha a maioridade. Vira adulta, ou, pelo menos, acho que virou. E o sonho sempre presente: achar a nossa alma gêmea, o nosso amor, a nossa outra metade. Apesar da cafonice de todas essas expressões, convenhamos que elas têm a sua serventia: são fatos. Depois de muito procurar, a gente acaba achando, afinal, enchendo o estoque de clichês: quem procura sempre acha, seja uma farpa pra se coçar ou um amor pra se estressar e sorrir. Achado o procurado. E agora?

Aquela fase inicial é a personificação de qualquer conto de fadas. Cada beijo, um novo detalhe. Cada olhar, uma nova experiência, cada sorriso, um brilho nos olhos que nos faz esquecer. Esquecer que esse frenesi todo, uma hora, passa.

Que que eu faço, então, quando vem o tempo, maldito e certeiro, trazendo com ele seus famosos tapas na cara? Não que aquela pessoa, de onde vieram tantos brilhos e sorrisos, tenha morrido. Ela só apareceu, de verdade, como é.

Nessa hora, as opções são duas: ou você, covardemente, se enfia num pote de purpurina, cisma que existe, sim, o brilho eterno de uma vida sem lembranças, e desiste; ou você olha praquilo em que se enfiou, pensa, repensa, hexapensa, e decide: por que não?

Afinal, eu não tinha crescido? Eu não tinha virado gente grande? Tá na hora de agir como tal.