terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Seja o que for

Pensando em balões, lembro-me dos rodeios inesperados que a vida nos dá. Reflito sobre amizades, e o que as faz ativas e pulsantes: conhecemos novas pessoas, com novos pensamentos e objetivos a alcançar. Tornamo-nos íntimos, próximos, semelhantes e, então, a amizade surge. Mas, afinal, o que há de se fazer para manter essa relação com o mesmo ardor de antes? Existe, de fato, alguma atitude a tomar, para evitar que as amizades se esvaiam, com o tempo?
Vejo as relações entre indivíduos da seguinte maneira: somos todos balões, com cores, tamanhos e texturas diferentes, e com laços que nos prendem e nos trazem a realidade. Ao conhecer novos, estamos comprimidos em um ambiente, um circunstância, um episódio que nos trouxe juntos. E, ao girar do globo, é como se um grande recipiente, repleto de balões distintos entre si, fosse aberto, e todos os conteúdos de outrora se espalhassem pelos ares. Aquilo que, certa vez, manteve-nos juntos, transforma-se, e nos é dada outra configuração a seguir.
Restam, portanto, apenas as verdadeiras amizades. Aquelas que foram sentimentalmente cultivadas e que, mesmo com as novas experiências pelos céus, se conservam e prolongam-se. Os verdadeiros amigos são como balões, presos a nós por seus laços e que, mesmo nos esbarrando uns ao outros, por vezes, sabemos que a conexão é mais forte do que um conflito qualquer. Com os verdadeiros companheiros de estradas, dividimos a confiança e o conforto. Dividimos o mesmo elo que, esticado por metros ou milímetros, resiste da mesma forma.
Sempre.


À minha amada revisora de textos.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Realidade em cena

Eu juro que eu tento, mas, a cada novo ‘reality show’ (com o mínimo de qualidade e decência), eu tento ficar longe das telas, quando esse vai ao ar. Inutilmente; pois eles são mais fortes do que a minha vontade de parecer ‘cult’ o suficiente...
Analisando, então, os participantes de cada um que conseguiu prender a minha atenção, eu percebi que, entre todos eles, a bandeira erguida é sempre a mesma: “Eu só estou sendo eu mesmo!”. Venhamos e convenhamos: ninguém consegue manter a sua originalidade essencial, quando se está à disputa de um gordo prêmio em dinheiro, ou um outro, que vem com o tempo, e dura efêmeros 15 minutos.
Além dessa, será que todos aqueles jovens sabem, de fato, o que eles são? Se, quando na realidade das ruas, todos nós incorporamos e interpretamos incontáveis papéis e funções, buscando nos adequar às mais insanas situações; não será sendo assistido por uma quantidade surreal de pessoas que não iremos fazê-lo. Tenho que confessar, porém, que esses programas não são totalmente inúteis: percebi que esses ‘reality’ são, de fato, retratos da realidade pela qual todos nós passamos; afinal, são vários atores do cotidiano, à procura do melhor roteiro que os leve a vencer.
It’s all about winnig, after all.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Quando as Serpentinas Pousam

Mas o povo brasileiro é um bicho muito engraçado, mesmo. O mais engraçado, ainda, é quando essa curiosa formação beira a hipocrisia. Tudo bem que cada brasileiro, esteja ele no último andar de um prédio paulista imenso ou em baixo da terra, é simpático, hospitaleiro, cosmopolita e toda aquela ladinha nacionalista de que nós já estamos exaustos de ouvir. Tudo bem que a “mixagem” racial, originária daqui, é única e mal usada por aqueles que nasceram dessa mistura. Tem qualidades, tem defeitos, como outro povo qualquer. Agora, uma postura que me irrita os nervos é se vestir com a decência, a compostura, o conservadorismo ao longo do ano inteiro e, quando se chega a Fevereiro, é tudo ignorado e pisoteado por foliões quimicamente preenchidos. Esquece-se de todos os tão prezados valores de moral e bons-costumes, põe-se uma outra máscara (dessa vez, de onça, Bush ou Bin Laden) e cai-se na folia. Tudo bem, de novo, que o carnaval é uma entidade nacional, que representa toda uma cultura secular. Tudo bem que é um momento de alegria extrema e que dura instantâneos quatro dias (dependendo do estado de que se fala). Mas que é hipócrita, isso é.
Não. Não detesto carnaval; admiro, sim, o ânimo e a paixão de muitos por Ele. Também não detesto o meu próprio país, muito pelo contrário: é uma relação de amor e revolta. Amor por aquilo que nos rodeia e que, mesmo reclamando, por vezes, não conseguimos viver sem. E revolta por aquilo que não pudemos mudar... Afinal, se fosse possível mudar tudo aquilo de que não gostamos no nosso meio de vivência (no meu caso, de sobrevivência, também), atingiríamos a sociedade perfeita, e não a que se construiu. O sonho de consumo de Marx. Consegue imaginar? Eu consigo, e que puta saco ela seria.

Deixa o meu Brasil como ele está, oras.