quinta-feira, 17 de julho de 2008

Eterna Batalha

Muitas pessoas podem me ver como louco, insano, ou algo do tipo, mas devo admitir – por uma questão de honra – que a ficção mais me importa, e mais me é útil, do que a realidade, em si. Pode soar louco, novamente, mas, mesmo difícil sendo trazer a fantasia para a nua e crua, ainda insisto nessa transição maluca. O resultado vai muito além do que utopias não postas em prática.

Quando digo ficção, refiro-me não só a livros, mas a programas de televisão, filmes, e, claro, minha longa e insaciável imaginação, que consegue me tirar o sono madrugada adentro e draga-me do cotidiano pelas tardes afora. Nessas viagens – já discutidas por mim, creio eu – eu conheço novas pessoas que me trazem novos sabores a tal realidade. Vivo outras vidas, mesmo que sentado ao sofá, que jamais dele sairão. E, sim, por incrível que possa parecer, isso me ajuda a levantar a cabeça, fincar-me em meus pés, e seguir adiante.

Não é infantilidade. Nem escapismo. É, na verdade, apenas um pause, no controle remoto da minha vida factual. Enquanto esse botão está apertado, eu me aperto pra tentar visualizar novas soluções, novos sentidos e nexos pra trazer de volta, quando o play voltar a tocar.

Pois é. Infelizmente ou não, o play sempre é apertado de novo, mas isso não quer dizer que o pause tenha sido bloqueado. A não ser que a sua mente, lavada pelo cruel mundo real, assim o queira.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Walk Away

Desde que posso me lembrar, sempre tive vontade - e curiosidade - de morar fora. Não por aversão ao meu país, muito pelo contrário: uma das conclusões tiradas seria, provavelmente, a de que esse é o melhor lugar para se viver. Mesmo assim, entre as razões que levam alguém a deixar tudo para trás por três, seis meses, ou até um ano, estive pensando em quais seriam elas. Ora, isso vai, inevitavelmente, variar de viajante para nômade, mas elas não se restringem a apenas pegar um vôo e afastar-se.

A questão não se resume somente em mudar de rua, cidade ou país; abrange, também, um patamar mais psicológico e, por que não, antropofágico. Às vezes - e não são poucas - precisamos fugir da nossa rotina, dar um pause no nosso cotidiano, deixar algumas pessoas queridas em nosso mundo, e irmos pra outro, com outras rotinas, outros cotidianos e novas pessoas. Não que seja tudo por egoísmo, mas sim por uma necessidade de melhora no nosso hábitat natural. Contudo, para fazê-lo, é necessário muito mais do que dinheiro para comprar a passagem e se bancar.

Quem vê de fora pode achar muito simples: pensam, equivocadamente, que tudo é uma grande mar de rosas, do tamanho do Oceano Atlântico; e que são mil maravilhas, assim como as 7 do Mundo Moderno. Não. Aqueles que se vão, por quanto tempo for, precisam de muito mais coragem, determinação e vontade para enfrentar os obstáculos do mundo afora do que aqueles outros que sentem as saudades, em seu próprio país: por que isso acontece? Complicado de entender, mas simples de explicar: os que se vão têm que se adaptar a novas circunstâncias, novos costumes, novos hábitos, língua, ou seja, têm um novo mundo a fazer parte. Já os que os aguardam, não: estão em casa, com quem amam, com quem conhecem. Nada têm de novo a engolir, exceto o de sempre.

Então tá: passagem comprada, mala pronta, hospedagem agendada. O avião decola, nosso coração dispara a ponto de ultrapassar o girar das turbinas. Depois de um tempo, lá fora, começamos a pensar no que ficou acolá. Aqui, de onde saiu e pra onde vai se voltar, provavelmente. Creio ser essa a maior utilidade dessas viagens aparentemente loucas: quando se está fora da moldura em que se inseria - quando não preso - pode-se pensar em várias questões, resolver vários problemas, tomar várias decisões, fazer várias escolhas, mesmo que esteja tão longe dos lugares, pessoas e dúvidas que foram tratados.

Esse mundo é tão grande e diferente não à toa: existem tantos países, tantas pessoas, tantas culturas, justamente para que possamos usá-las de modo a melhorar as nossas próprias.

Eu quero ir embora.