quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Deixando o "Smile!" Tristonho

Muitas pessoas, na primeira vez em que vão ao terapeuta, são chocadas com a seguinte pergunta: você é feliz? Pausa para reflexão, e muito, muito espaço, para discussão.

Antes de mais nada, é emergencial que a ONU agregue aos Direitos Humanos o conceito de felicidade. Vamos combinar que aquele encontrado no dicionário é etimológico demais, e pouco se aproxima do real significado desse sentimento, estado de espírito, objetivo, ou seja lá o que ele for.

Antes de responder tempestiva e hipocritamente essa pergunta a alguém, pensemos no seguinte: creio eu que, em pleno 2008, ninguém ainda acredita que a felicidade plena é possível. Aliás, nada pleno é mais possível, salvas algumas raras exceções. A felicidade, assim como a paixão, a dor, entre outros, não deve ser encarada como algo a se ter sempre ao seu lado, como uma constante estável, simplesmente pelo fato que de ela não o é. Hoje, ser feliz é entender como se vive, buscar uma maneira mais confortável de se sobreviver aos percalços que a vida nos traz. Ser feliz é entender que nem sempre se está esbanjando sorrisos e otimismos, mas sim ter em mente que a vida é assim: ora esquenta, ora esfria, mas não pára.

Ser feliz é poder sentir aquele cansaço bom, de quem fez tudo o que deveria fazer e planejou, mesmo que nem tudo tenha saída da forma como se imaginava. Ser feliz é, uma vez ou outra, fugir da rotina e ir fazer nada, pensando em coisa alguma que atrapalhe, sem o menor peso na consciência – pelo menos enquanto se aproveita o momento. Ser feliz é ter a capacidade de que, quando se está no fundo do poço, saber que é possível, sim, subir à sua saída, novamente, mesmo que demore mais para subir do que se demorou para chegar ao fundo.

Não muito adianta buscar a felicidade sem parar, procurando-a por todas as esquinas, seja em forma de pessoa, seja em forma de um emprego ou de uma bolsa. A graça, que leva, sim, àquela felicidade, é encontrá-la quando menos se espera, engarrafado na Ponte Rio/Niterói, ou no metrô de Paris. Enfim, não seja feliz. Esqueça esse mandamento, e viva: aí, sim, seremos felizes, sem obrigação, e poderemos espantar muitos terapeutas pela profundidade desse pensamento.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Que Morram os Gasparetos

Sendo eu o maior leitor e releitor dos meus próprios textos, além de odiar muito deles – tamanha sinceridade em que lá deposito -, sempre reparo em alguns detalhes, por vezes nas entrelinhas, ou nem tão discretos assim. Um desses que me chamou atenção, exatamente pelo fato de estar bem visível, é essa mania que não só eu tenho, mas que muitos também o têm, mesmo que não o escrevam: dar a moral de história. É fato comprovado que terminar um texto é, muito provavelmente, a parte mais difícil dele, e que muitos escritores têm certa dificuldade, ou até implicância, em fazê-lo. Vai ver que é por isso que dar ‘um final feliz’ seja tão comum neste blog preto, branco e cinza. Mas, dessa vez, resolvi inovar. Chega de finais bonitinhos, de desfechos fofos, à lá auto-ajuda.

Vamos combinar que, mesmo que eu tanto fale e tanto tente me convencer, o equilíbrio entre os elementos de nossas vidas é, impreterivelmente, impossível. Alcançar um meio termo em que tudo que você, com todos e a todo o momento é tarefa, somente, para o Super Homem de Nietzsche – e convenhamos que esse é, além de homem, um super herói. Não que seja recomendável chutar o bale – e, nesse caso, a própria cabeça – e pouco se importar em ser equilibrado. Acho, afinal, que temos, sim, que buscar o centro das coisas, mas, caso não o encontremos, não precisamos nos sentir seres humanos deploráveis. Pelo menos se tentou, ora.

Pronto. Não disse que terminar um texto é mais difícil do que escrevê-lo por inteiro? Pois bem: e agora? Que faço? Termino de maneira graciosa e tipo Cinderela, ou não?
Óbvio que não. Terminarei assim, aqui e agora. Acabou

(Afinal, nem sempre, nas nossas vidas, terminar é, de fato, o final de algo).

(Droga, final feliz de novo? Ah, desisto: meu eu lúdico é mais forte.)