terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XV

Olha, eu sempre fui uma pessoa bastante propensa à irritação. Desde um chinelo virado de cabeça pra baixo, até uma pessoa que limpa os dentes com a língua, fazendo aquele barulhinho insuportável, a irritação sempre foi minha fiel companheira. Agora, não há nada que me irrite mais, nesse mundo, do que não conseguir me controlar. Assim, controlar os outros é uma tarefa complicada, quase impossível, porque cada um tem a sua cabeça, né? Mas não conseguir controlar a você mesmo é quase um atestado de incompetência como ser humano racional. E emocional. Emocional! É aí que tá o problema.

Quando eu tô focada no trabalho, envolvida com o planejamento alguma viagem, enfim, momentos em que minha cabeça tá ocupada demais pra ficar pensando em relacionamentos fracassados e outros futuros, eu me pego pensando em como eu irei me portar, na próxima vez em que aquele anjo maldito, chamado Cupido, me machucar, sem dó nem piedade – mesmo vindo de um pretenso anjo -, com a sua flecha do amor, da paixão, do estar-a fim, enfim. Nesse período, é tudo muito fácil: “ah, Priscila, você irá fazer isso, ou irá fazer assado. Muito bem, então, a partir disso, se ele fizer assim, você vai e faz assado de novo. Perfeito! Um guru dos relacionamentos bem sucedidos.”
Muito bacana. Tudo resolvido, como um Jogo da Memória com duas figurinhas viradas pra baixo.

Porém (há sempre, SEMPRE, um “porém” no meio, pra estragar o meu “portanto” feliz), quando aquela viagem já foi feita, e quando o trabalho me deu um descanso – não bem quisto, que fiquei claro -, todos aqueles planos parecem ter ficado ou no meu antigo destino ou no meu escritório. Por quê? Porque, quando a vontade e o sentimento batem, não há joguinhos que se mantenham, posturas que se ponham ou objetivos racionais que se concretizem: é o coração, ele, somente ele, que vão comandar os seus passos, a sua mente, os seus pensamentos, idéias e tudo, tudo mais.

Porque não há nada que se compare a sonhar, antes de dormir, com algumas pessoas, imaginando situações que possam acontecer, encontros dignos de serem filmados pelo Walt Disney, e, no dia seguinte, dar de cara com o sonhado. Com a pessoa sonhada. E fazer o quê? Em vez de se portar como se tudo estivesse bem, como se VOCÊ, Priscila, estivesse muito bem resolvida com você mesma, sem nenhuma confusão, lá vai a Priscilinha, cumprimentar o rapaz: que ela faz? Dá um sorriso estranho. Tropeça no paralelepípedo. Faz uma gracinha sem graça, e sai, também sem graça. Tudo aquilo em que você tinha pensando fica só na cabeça, mesmo, esmagado pelo coração, imponente.

Pior ainda é quando esse cara é um amigo seu, de alguma maneira, ou sai sempre com você. Aí, queridinha, senta na boneca: ele já te conhece, bem ou mal, e sabe como é o seu jeito e seus trejeitos. Por isso, ou você vira, de repente, uma atriz magnânima e disfarça MUITO bem, ou o amigo-futuro-affair (quem dera) vai perceber, né? Se isso é bom ou ruim, eu não sei.

Eu tenho a leve impressão de que passei por essas reflexões e reclamações antes, mas não vou ficar nem um pouquinho surpresa se já tiver feito essa terapia toda comigo mesmo. É tudo a mesma coisa, sempre. Mesmo que a gente quebre a cara, caia no chão, e se levante depois, a nossa essência de amante continua a mesma. E sempre vai ser desse jeito desajeitado, confuso, sem muita coordenação. Fazer o quê?

Fazer o quê?

Sei lá. Pra que pensar? Afinal, na hora de agir, tudo vai sair ao contrário mesmo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XIV

Cansei de falar de amor. Cansei de pensar em amores. Cansei, inclusive, de procurar por eles e vivê-los, até mesmo! Não me venha chamar de covarde, porque eu juro que tentei. Me entreguei a um amor aqui. Me segurei mais um pouco em um outro acolá. Segui todas as regras que as minhas amigas me impuseram, obedeci a todos os conselhos que as minhas experiências me deram. Fiz a difícil com uns. A fácil e entregue à paixão com outros. Amores. Vários tipos, cores e formas deles! E pra quê? Pra acabar mergulhada na merda, Priscila. Mergulhada, afogada, nadando nela! Sendo soterrada por... Chega. Tô ficando enjoada.

E é engraçado, porque, quando a gente tá super apaixonada, não vê as coisas e nem as pessoas como as veríamos, caso estivéssemos em nosso estado normal. Sim, porque, quando envolvidos de sentimentos rosa e nojentinhos, é como se alguém viesse com uns óculos de natação tampados com fita isolante (Sabe aquele do Gugu? Nossa, que exímia referência cultural, querida.) e colocasse nos nossos olhos. A gente não pensa direito: parece perder toda a percepção obtida com a experiência da vida; todas as lições aprendidas parecem ter sido deixadas numa gaveta, amassadas por umas contas velhas e trancadas à chave. Então, lá vamos nós, naquela Montanha Russa no escuro, e sem cinto de segurança algum. Boa sorte. Sorte, sim, porque ela é mais do que necessária, nesses casos de amor. Amor. Há! Saco.

Bom, já que falar de amor é mais forte do que o meu atual nojo e desprezo por ele, deixa eu pensar de uma vez: sabe aquela história de que as pessoas têm que ser parecidas, pras coisas darem certo? Esquece. Aquela outra de terem os mesmo objetivos de vida? Bobeira, besteira, ladainha. O mais importante, além desses pré-requisitos todos, é a sorte, meu bem. Sorte, quando os dois estão na mesma sintonia, em relação aos sentimentos. Não importa que um dos dois esteja com-ple-ta-men-te envolvido com o outro, se esse outro, na verdade, não tá a fim de nada sério, no momento. Dá raiva. Dá irritação. Revolta, nervosismo, impotência agonizante. Tudo isso junto e misturado. Mas não há o que fazer! É pura falta de sorte e de compatibilidade de tempo.

Apesar disso tudo, posso falar? ODEIO casais fofos. Eu, quando apaixonada, me recuso a fazer o casal fofo. Jamais! Como assim, no meio da rua, me surge uma voz “fofa”, falada por uma marmanja vivida, ao pé do ouvido de um outro marmanjo crescido, que acha super bonitinho aquela demonstração pública de mongolice voluntária? Pelo amor de Deus! Tudo bem que – tenho que confessar – há poucas maneiras verbais, inventadas pela humanidade, pra expressar sentimentos, mas também não precisa apelar pra uma regressão mental, né?

Por mais irritante que possa ser, quem sou pra julgar como as pessoas se expressam? Pelo menos, elas se expressam, afinal de contas. Pior são aqueles outros que se vestem em uma capa dura de frieza e sarcasmo e se resguardam ao não-envolvimento. Dos males o menor, não é? Mesmo eu adorando estar apaixonada, e me sentir cega por aquele óculos do Gugu, e me jogar naquela Montanha Russa no escuro sem cinto, é bom – muito bom! –, de vez em quando, se entregar, sim, àquela capa de sarcasmo e veneno que borbulha e meter o pau nos apaixonadinhos! Morram todos!

Agora, para com essa zona sentimento-reflexiva, e vá se entregar à sua paixão, aliás, ao amor mais seguro e estável de todos: o meu pelo chocolate.