segunda-feira, 13 de abril de 2009

Monólogo de Dois - Parte XVIII

Ih, mas o que eu já ouvi de gente por aí fora dizendo que terapia (ainda) é coisa de maluco e doido, nem quero parar pra contar. Olha só, vocês, pessoas nascidas em 1758, pensem melhor na besteira que falam. Dizer que mulher não serve pra dirigir eu até entendo, aliás, aceito, porque tem uma base factual (tem, sim, infelizmente). Mas ofender a classe do divã só me mostra e confirma uma coisinha: aqueles que pensam assim são os que mais precisam de uns papos profissionais sobre si mesmos.

Pra começar, vamos dar nome aos bois, às vacas e aos cabritos: o terapeuta NÃO vai resolver os seus problemas, muito menos mudar quem você é. Pelo contrário, ele vai te ajudar a entender quem você é, e a como lidar com suas características essenciais, te mostrando os melhores caminhos a tomar e os melhores pensamentos e nutrir. Simples assim, como a teoria freudiana.

É evidente que isso não impede que você, caro paciente, se embole todinha no meio das suas divagações. Em primeiro lugar, é super compreensível que, no começo do tratamento, a gente se sinta desconfortável em falar tudo sobre a sua vida, principalmente as partes mais vergonhosas e desconfortáveis, pra um total estranho. Tudo bem que eu nunca tive esse problema, porque falar sobre as minhas preocupações é tão normal quanto não ter uma vida sexual ativa, de fato. Mas o medo, no começo, é super aceitável.

Agora, também não vai pelos extremos, né? Uma coisa é você ter intimidade profissional com o seu terapeuta. Outra é você ligar pra ele, no meio da madrugada, reclamando de que aquele cara, que você conheceu numa festa aleatória e em quem você, BÊBADA, chegou, não quer saber de você. Queridinha, o terapeuta também é uma pessoa, com problemas tão graves ou mais que os seus. Por isso, acorda pra vida, porque senão você vai acabar obrigando o seu próprio terapeuta a também fazer terapia (o que é super normal).

De qualquer maneira, é sempre bom manter uma distância entre você e o seu terapeuta maravilhoso, cheiroso, inteligente, com um sorriso magnífico e que te entende melhor do que outro homem que jamais conheceu. E ainda te dá balinhas toda semana, sem você nem precisar dormir com ele. Sim. Já me apaixonei pelo meu terapeuta! E foi a pior idéia que eu já pude ter. Por quê? Você quer realmente se lembrar dessa cena patética? Ok. Resolvi que iria, então, tentar impressionar o Doutor-gostosão lá. Por isso, na semana seguinte, fui maquiada igual a uma traveca, quando tem Baila Gay no Scala. Coloquei uma roupa com o decote que ia até o primeiro andar do prédio e fui. Chegando lá, comecei a me reafirmar toda, dizendo que já tinha me resolvido em relação a todos os meus problemas de relacionamentos e que já estava mais do que pronta pra embarcar em algo novo, com segurança, confiança, respeito e muito amor... Quando ia continuar o meu discurso, eis que olho pra mão do cara e ele está, ineditamente, com uma aliança de noivado. Menina, na hora, eu meti vinte e sete balas de caramelo na boca e fui ao banheiro. Tirei aquele Abapuru de Picasso da minha cara, me borrei toda, e comecei a chorar. De novo.

Voltando àquele povinho medíocre que condena a terapia, eu nem me estresso. Mentira, me irritar, é evidente que eu me irrito, mas nada que me faça descer do salto, pegar meu sapato finíssimo e encravar na testa do medieval que pensa assim. São pessoas superficiais que, na verdade, usam de preconceitos mal fundamentados (como todos são) pra compor um autossegurança e independência de mentira. Querida, NINGUÉM na face dessa terra do Aquecimento Global é completamente ok consigo mesmo. Todo mundo tem problemas, medos, vícios e preocupações, certo? Logo, benzinho, corre pro divã e se faz.

É por essas e outras que, hoje, eu me sinto muito melhor do que me sentia, ontem. Tenho mais confiança em mim mesma, mais força pra enfrentar os meus problemas e tempo. Tempo até demais, porque ficar pensando na teoria da terapia, sendo que você é uma jornalista, nem Freud explica. Vai arranjar o que fazer, antes que você se atrase pra sua consulta com aquele homem divino, inteligente, meu mais novo psiquiatra.

Merda.