segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXX

Complicado. Essa é a melhor palavra que pode, um dia, quem sabe, conseguir chegar aos pés de tudo que passa pela minha cabeça e, por isso, quase sempre, é exatamente o que eu faço. Os meus pensamentos, muito confusos ou claros até demais, que bloqueiam novas concepções, comandam integralmente as minhas atitudes e me compõem exatamente no que eu sou. Ou acho ser. Nessa altura da vida, não posso afirmar que sou isso ou aquilo outro. Acho que seria limitar um animal que pode, se deixado por si próprio, alcançar novos territórios e, neles, dominar a si mesmo. Falando ainda em pensamentos e idéias próprias, não há como negar: muito do que nós temos em mente parte, por incrível que pareça, da mente dos outros. O convívio é que o nos molda não só ao meio social, mas também ao nosso próprio meio social, de nós conosco mesmos. Não seria louca de, hoje, agora, com essa idade, me dizer assim ou assado. Aliás, não sei nem se, um dia, daqui a muitos dias, meses e anos, eu vou poder afirmar, com total consciência e segurança: eu sou assim. E ponto. Acho que, nesse caso, seriam mais cabível três deles juntos, reticências...

É bem verdade que cada um, impreterivelmente, tem a sua essência. O seu interior maciço. Uma parte, bem interna, que não pode ser modificada ou mudada. Acredito que o máximo que ele faça é usar novas formas de se mostrar, desde uma briga no parquinho, uma puxada de cabelo no maternal, um assalto à massinha do coleguinha. Desde um “não” que recebe de alguém, um “sim” que ganha como maior vitória do mundo, um “talvez” que permite a si mesmo. Em cada período disso tudo, novas experiências nos evolvem, nas quais agimos de formas distintas, dependendo das circunstâncias que vierem anexas a elas. Mas a essência, como já fala por si mesma, é essencial, tanto pela sua indispensabilidade quando pela sua originalidade e autenticidade.

Mesmo que isso tudo seja um fato, também a outros possíveis fatos que ameaçam, de certa forma, a tal da essência. Não a ponto de poderem anulá-la, mas atrapalham os que a têm a descobri-la. Ao decorrer dos anos, nessas novas situações, ficamos na dúvida em qual caminho tomar. Pode ser uma carreira pela frente ou uma boate versus um cinema. Desde as escolhas mais bobas até as mais relevantes, por vezes, a nossa essência se esconde de nós, ou nós a escondemos de propósito. Experimentamos, então, novas coisas, no mais amplo sentido dessas cinco letras juntas, nessa ordem. De tudo pra tudo. Quando aquela nova foge ao que achávamos que seríamos, vem a total instabilidade. É como se, sem um de verdade à sua frente, olhássemos para um espelho dentro de nós mesmos e, nele, não víssemos mais aquela imagem a que estávamos acostumados.

Mais uma vez, nesse caso, há escolhas a serem feitas, embora, nem sempre, os resultados tenham sido os previstos, ao optar por esse ou aquele caminho. A vida é suja, baixa, cruel e nua. Ela, quando de bom-humor, até permite que as suas previsões de concretizem. Mas, infelizmente, ela é mais uma eterna mulher com TPM intensa: emotiva, escandalosa, extremista, determinista, indefinida, indefinitiva. A gente a dança conforme a música. A dirigir conforme a estrada. Depois de errar os passos e de sair no acostamento errado, buscando um atalho, mudamos um pouco do tom da música e passamos pra pista do lado.

Adaptando o externo ao nosso interno.
Deixando que o de fora nos complete por dentro.

É isso o ser influenciável? Sim.
É problemático um ser influenciável? Não.
Somos apenas pequenas peças num enorme jogo de tabuleiro, no mesmo espaço, mas com regras totalmente pessoais e diferentes. Temos que nos encaixar, na maioria dos casos, mesmo que a nossa tal essência seja forte como só.

Ela tem a sua potência.
Mas o mundo fora dela também é tenso. E forte. E potente.

Vai ver que é uma eterna batalha. Daquelas sem um fim, de fato, ou sem fatos. A cada esquina, a cada nova música que a vida tocar aos seus ouvidos, a cada nova estrada que surgir no seu caminho, resta parar, olhar e decidir: o que fazer aqui? Escolher pelo já feito, pelo já testado e comprovadamente garantido? Ou ir pelo não muito bem conhecido, não garantido, mas também não totalmente condenável? Dar um gabarito fechado e indiscutível a essa pergunta é como aquela que questiona quem você é. Não há como delimitar uma resposta, e, se houver, espero que não dure muito tempo. Não vale a pena da vida e nem é justo se deixar prender às correntes que ela pode oferecer.

A minha essência, nesse caso, não me deixa entregar ao seu próprio empobrecimento.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXIX

Engraçado... Nessas minhas andanças pelas livrarias da vida (obviamente, enfurnada em um shopping, quando, lá fora, tiveram a brilhante idéia de fazer um “Dia da Bicicleta” em um tempo horrendamente chovoso) me toquei de que o que você mais encontra pelas estantes, além de milhões de livros de autoajuda comprovadamente de péssima ajuda, são os de romance. Ah, o amor! O mais nobre e plebeu dos sentimentos humanos. O mais amado e odiado de todos. Fonte inesgotável de histórias que vão desde Romeu e Julieta até uma patética entre um vampiro sedutor e uma babaca, nada-vampiresca, que cai como uma pata. Amores pra cá. Desilusões pra lá. Orgasmos do coração por todos os lados. Mas os autores, por vezes, esquecem alguns assuntos que são tão importantes, quiçá ainda mais recorrentes do que o tão procurado amor: a incapacidade de recebê-lo. Aí, querida, não há autoajuda que salve.

Todo mundo, sem exceções, está à procura do amor. Disso, ninguém escapa. Pode ser por amor entre pessoas. Pelo amor entre um alguém e a carreira. Até mesmo o amor entre um elemento e a sua tão prezada vida de desamores, só paixões. A verdade, estampada por todos os quatro cantos, é que qualquer ser humano, que tenho o mínimo de consciência da sua genialidade intelectualmente sentimental, quer saber do que se trata essa coisa toda. Muitos querem. Tantos quanto, às vezes, mesmo querendo, esbarram com uma escuridão que impossibilita, na hora, qualquer forma de achar o tão desejado amor.

Por medo? Por experiência passadas? Por egoísmo? Por ódio a si mesmo? Motivos não faltam na minha vasta cabeça de pensadora (mesmo que aplicada a tópicos retardados e inúteis) que poderiam justificar o porquê de aquele bendito indivíduo, ou aquela outra, não se deixarem levar pela paixão. Paixão, sim, como estágio inicial a um possível outro próximo: o tal do amor. Preguiça? Pode ser mais uma razão.

Nem tô falando só de joguinhos de relacionamentos, não, mesmo que eles se enquadrem perfeitamente em um dos exemplos mais freqüentes. Nesse caso, sim, por medo de se entregar, muitas pessoas criam e vestem um escudo dificilmente destrutível. Com ele, conseguem criar os mais embaraçados diálogos, inverter situações, calcular milimetricamente o que o outro vai fazer. Eo que o próprio vai fazer, também. Transformam o que duas pessoas têm (ou teriam) em um grande tabuleiro, na maioria das vezes, com as regras ditadas por um autoritário apenas que, mesmo que não seja verdade, acha sempre que tá ganhando de lavada. Pura distração pra não aproveitar o melhor prêmio de todo vencedor de um outro jogo: o da vida mesmo.

Esses hábeis jogadores se focam tanto naquelas regras pequenas e bobas, que acabam se esquecendo de outras ainda maiores e mais potentes. Regras, ao mesmo tempo, mundialmente conhecidas e pessoalmente modificadas: as suas regras; as regras do seu jeito de amar, que, convenhamos, são muito mais deliciosas e atrativamente perigosas do que umas efêmeras e reduzidas a pecinhas.

Qual é o grande problema que há em se sentir um babaca apaixonada? Eu, metendo o pau naquela menina do vampiro, coitadinha, mal sei como ela tá bem mais feliz do que, provavelmente! Qual é o problema, também, em se deixar levar pelos enlaces do coração? Mesmo que eles venham a se romper e deixar você cair, essa queda, por mais dura que seja, vai ser muito mais útil do que ficar se segurando, antes mesmo de tentar, não?

Em qualquer situação, não só nos relacionamentos já engatinhados, os que não conseguem se deixar amar são os mais dignos de pena. Aquele que amou, sofreu, chorou e voltou a amar merece, sim, o prêmio de melhor jogador, sem sombra de dúvida. Ele, ao menos, teve a coragem e autossuficiência de se pôr lá e ver no que daria. Já os primeiros, coitados, vão continuar batalhando.

E guerreando.

Mas, afinal de contas, essa luta toda, seja em que jogo for, vai ser dele contra ele mesmo.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXVII

A gente nasce, e já tem uma mãe, um pai; os dois juntos, ou não. Quando crescemos, temos nossos primos, irmãos, irmãs, sendo eles, por vezes, as mesmas pessoas ou não. Mais velhos, um pouco, as meninas sobem no salto e os rapazes descem no nível das cantadas e, nessa diversão agonizante, fazemos amigos. No trabalho, colegas. No prédio, vizinhos. No vôo, alguém do seu lado. Não importa o momento que analisamos, parece que sempre, sempre, vai ter alguém do nosso lado, esteja lá por muito tempo ou não. Parece, também, que, mesmo que queiramos, não conseguimos ficar sozinhos. E será, mesmo, que essa neura toda (nutrida por essa cabeça doente e mal escovada) faz sentido? Será mesmo impossível ser feliz sozinho?

É fato que muita gente responde que, sim, é impossível. Até porque, existe inclusive um dia que comemora e parabeniza aqueles que estão acompanhados: o temido e odiado (pelas solteiras) e amado e ansiosamente aguardado (pelas comprometidas) Dia dos Namorados. O mundo inteiro conspira a favor de sempre achar alguém pra você. E, se não aparece uma viva alma que sossegue o faixo por mais de dois jantares e um cinema ao seu lado, a própria se sente largada, mal-amada, acaba e... Sozinha. Qual é o grande problema nisso?

Pra falar a verdade, faz todo sentido ter alguém lá, que esteja por você e com você, nas horas boas e, principalmente, nas ruins, em que você desenvolve a capacidade de ser aquela que mais espanta qualquer companhia. A gente precisa, sim, de alguém pra chorar as mágoas, rir os risos, comer pipoca, fazer nada junto, falar besteira, dar e receber bronca. Enfim, alguém que também tenha uma vida – tão complexa ou mais que a sua – e que também necessite de uma companhia pra dividir as nossas cruzes do dia-a-dia.

Mas aí dizer que não tem como ser feliz sem alguém já é poesia-bossa-nova demais, pro meu gosto. Mesmo sendo muito útil ter alguém ali, não é crucial que essa pessoa sempre esteja lá, sentada, te esperando, ou com o telefone às mãos, pronta pra sua próxima crise, solucionável com alguns calmantes orais – não comprimidos, mas palavras -. Aliás, é tão importante quanto isso tudo ter um momento só pra você. Um não. Vários. Quiçá dias e semanas de solidão. Sem se sentir solitária. Mas, apenas, sozinha, por uns tempos.

Você consegue, então, muitas vezes, recolocar em prática tudo aquilo que a companhia te ajudou a fazer, quando ainda era impossível fazê-lo sozinha, de fato. Aprende que, no final das contas, é só você contra você mesmo; e que essa é a pior batalha a ser vencida, justamente porque você conhece, melhor do que ninguém, os competidores envolvidos: tu e você.

A felicidade é tão variável quanto os tipos de pessoas que existem no mundo. E se eu, um dia, conseguir ser feliz sozinha? E se aquela moça, que se separou de um ótimo casamento (pras outras), resolveu ser melhor ficar casada só consigo própria? O nosso foco de felicidade muda de tempos em tempos. E, assim, mudam também as nossas prioridades e dispensabilidades.

[...]


E agora, querida? Corre pra vida, que, já, já, dia 12 de Junho tá chegando! Me recuso a receber cartões da minha mãe e afilhada de novo, esse ano.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXVI

Depois de passar um dia todo pensando e repensando sobre uma calça, que, por mais linda que possa ser, não merece tanto uso de neurônios assim, você precisa dar um jeito nessa sua cabeça vazia, né, amor? Aliás, vazia, em parte: ela tá cheia, sim, mas cheia de problemas com os quais eu não to com a menor vontade lidar nesse exato momento. Nem agora, nem tão cedo. Sabe quando dá preguiça de pensar no que deveria estar pensando? Pois é. Essa coisa tem me perseguido desde que eu acordei hoje. E ontem. E anteontem. E olha que pensar é um dos meus mais amados hábitos, hein? Ta bom. Confesso. É um vício porco mesmo. Nessas reflexões todas, chega sempre a hora em que temos o maior embate do milênio. É tão grande, que acontece todos os dias, com milhões de mulheres em crise, homens à beira do exame de próstata e menininhas que mal sabem a merda em que tão se enfiando, quando perdem a virgindade: o racional versus o emocional. Chamar de clichê? É pensar demais.

Com o passar da vida e as quebradas de cara, nariz e agregados, a gente aprende, sim, milhões de novas coisas, na marra ou porque nossa mãe nos falou (essa segunda vamos combinar que quase nunca acontece). Errando aqui, tentando acertar acolá, a gente, cedo ou tarde, bem ou mal, vai se moldando às previsibilidades da vida e passa a usar essa cabeçorra (que tem que existir pra mais alguma coisa, além de passar oleosidade pro meu cabelo) e a converte em um chicote, com o qual você maltrata o pobre leãozinho que são os seus sentimentos. O problema é que esse indefeso bichinho, há, pode virar uma fera, mas do que repente.

Você até se acostuma a sempre se domar com os seus pensamentos. Fica boa até com eles. Viram melhores amigos. Mas, como todo bom amigo, uma hora, ele vai viajar, ou passa um tempo fora mesmo. E você? Fica sozinha, à mercê dos inimigos da estabilidade: os Sentimentos. Aí, pronto: você até consegue racionalizar as coisas, sabe que aquilo não vai dar muito certo, e que aquele cara é muito diferente de você, e que não, e não, e não: na cabeça. Mas quem disse que ela manda o tempo todo? Aparece um que aniquila toda a sua estratégia de contenção da sua própria barreira (emocional), que, do nada, desaba, como se tivessem tirado o chão do Rebouças.

Fica assim: você sente. Não quer sentir. Pensa que não quer. Tenta não sentir. Mas, quando tá mais desprevenida, vendo um filme bobo que ama ou ouvindo uma música que ninguém sabe que ta no eu iPod, ele volta, e puxa o seu tapete.

Fica assim: se entrega? Será que seus sentimentos também não pensam? Eles são seus, afinal de contas, não? Têm que ter alguma semelhança com você e não podem te sacanear. São de você. Não?

Quem foi que inventou que pensar sobre sentir é útil? Quem disse que sentir sobre o pensar dá certo?

Acho melhor, mesmo, eu me concentrar, agora, em pensar sobre langerie. Pelo menos elas são mais fáceis de domar, né?

(Até que você se olha no espelho, toda empombada com sutiãs e calçolas-à-Bridget-Jones e pensa em quem? Nos sentimentos de nojo pelo seu corpo).

Monólogo de Dois - Parte XXV

Toda temporada, é a mesma coisa. Quando um super loja carérrima lança algum produto novo e, logo depois, todas as fashionistas (de rua e profissionais) começam a falar que é a nova moda, pronto, todo mundo corre pras lojas da vida, das mais caras as mais estou-te-dando-de-tão-barato. Aí, minha filha, se segura, que lá vem história. E piada. E vergonha alheia. O problema dessas modas ditatoriais, vistas por muitos como um Deus do capitalismo a ser seguido, é que nem sempre – aliás, quase nunca – as tendências tendem a ficar bem na galera toda que resolve segui-las. Atualmente, a que tem mais me deixado enlouquecida é aquela bendita – pra alguns – e pessimamente mal dita – pra outros -. Já foi chamada de frauda-cagada, pano em excesso e, mesmo assim, eu amo de paixão. Pena que algumas pessoas também a amem: a calça saruel. Sobe o gavião e se prepara pro tricô.

Antes de mais nada, é necessário frisar que não é qualquer aleatória, ou aleatório, que vai ficar bem com a mais nova freqüentadora das vitrines. Sem querer estipular o que ou não usar, mas vamos combinar que pessoas baixinhas – nada contra – e um pouco acima do peso – eu! – não devem lotar o seu armário com várias cores, tons e tecidos. Se lotar, querida, deixa lá dentro mesmo. A calça, por si só, já reduz a estatura das pessoas que ousam colocá-la no corpo. Logo, em vez da calça, compra um espelho, pra ver o que fica bem em você.

Aliás, eu tava vendo umas, outro dia desses, procurando uma pra mim, e, menina, vi um modelo que me deixou espantada. Não de beleza, querida, pelo contrário, pela crueldade. Nossa, o gavião da calça ia até o pé da manequim! Sabe lá Deus como a pobre conseguiu andar até a ponta da vitrine. A estampa era bonitinha, até, mas aquele gavião, meu bem, não deixa ninguém sequer pegar um ônibus. Ou andar, simplesmente. Nada de abertura de pernas por mais de 2 graus.

Outra coisa importante, da qual eu não posso me esquecer: a blusa que você usa junto com a calça. Ou o top. Ou (nunca) a bata. A saruel já é bem larguinha e espaçosa, por natureza. Logo, por favor, amada Priscila, não venha me colocar um lençol pendurado no peito e me dizer que é conceitual e que passa uma idéia. Passa idéia, sim: da irmã gêmea do boneco da Michelin.

Ou seja, tudo tem um limite. Nada de exagerar demais e deixar a roupa completamente inutilizável, mesmo que ela tenha ficado linda, no papel. Esse é o problema, né? Agora, por exemplo, meu bem, você me diz: que que vai fazer com essa barraca de acampar que você armou no seu corpo, pela pechincha de 300 reais num pedaço de pano igual a uma toalha de mesa pra piquenique?

Nunca mais saio sem identidade ou uma amiga língua-afiada: preciso me lembrar que me chamo Priscila e não Kate Moss. E preciso ser lembrada de que as vendedoras acham até um vendedor de feira desdentado lindo.

E conceitual.