quinta-feira, 22 de abril de 2010

Monólogo de Dois - Parte XXXV

Todo mundo super idolatra os pensadores da humanidade. Os filósofos, apesar de, aparentemente, não comparecerem muito à cama com suas respectivas esposas frustradas, são vangloriados como os norteadores da raça humana na Terra. Pensar é tema de livro, palestra, terapia, filme. É aquilo que diferencia a gente dos outros animais, certo? Pois bem, em alguns casos, seria melhor ser uma lacraia mesmo, sem um mero raciocínio a ser concluído.

Sempre tive esse problema: quando eu criança e me deparava com uma super cachoeira, linda e maravilhosa, e uma pedra um pouco – lê-se muito, na minha concepção neurótica -, que eu deveria pular, pra chegar naquela água linda e transparente, levava tanto tempo pensando se deveria ou não me jogar, que era bem capaz que a cachoeira secasse e eu desse com a cara na terra. Pensar antes de comprar um vestido? Três horas, filosofando no provador. Pensar em ir ou não a uma noitada? Põe umas seis horas aí, sendo três pra escolher a roupa e mais três pra ver se vale a pena. Escolha de carreira? Penso até hoje. Escolha de estilo de vida? Nunca vou parar de pensar. E matuta. E reflete. E teoriza. Mas e a prática? Onde fica?

Tenho pensado muito – dã – nos problemas de pensar muito. Impressionante: eu sou tão viciada nisso, que, até quando não tem no que pensar, eu consigo me ocupar pensando no pensar demais. Enfim, Priscila, foco no raciocínio: quando a gente passa muito tempo planejando as coisas, refletindo sobre o que fazer ou não, acabamos caindo num raciocínio óbvio, e nada difícil de ser pensado. Não tem outra: se damos tempo à cabeça, tiramos minutos das pernas. Ou pensa ou executa. E, se pensa demais, pouco se executa, o que gera ainda mais pensamentos sobre a não-execução e... Ah! Que inferno!

Nos meus relacionamentos, então... Go, Sartre! Penso sobre o que tem acontecido entre mim e aquele cara legal... Penso se essa parte boa vai valer a pena... Penso nos riscos... E, enquanto isso, tudo o que eu pensei acontece, com ou seu a minha idéia prévia. E eu, cega pelas minhas idéias, que, teoricamente, deveriam me guiar, acabo totalmente perdida e perdendo vários momentos legais, já pensando no próximo, que pode ser não tão legal assim, e em como eu devo agir.

Ainda nos namoros da vida, penso se aquele namorado se encaixa nas minhas expectativas e nos que eu queria, pra um namoro. Avalio cada postura, cada atitude, cada atraso, cada escolha, cada piada, cada bar, cada encontro, e, assim, o cara que eu sempre quis pode estar exatamente na minha frente, que eu, super ocupada, não tenho a capacidade de enxerga-lo como novo. Sim, fora do padrão que eu estipulei: muita teoria, pouca prática.

Acho que cada um leva uma cruz nessa vida: uns não são muito dotados de inteligência, mas são belos. Outros, geniais, não são tão atraentes quanto se esperava. Uns são práticos, rápidos e fast-food. Outros “passionalizam” até um jogo de xadrez. Vai ver que esse é o meu carma, pensar demais vai me acompanhar até eu parar, de vez. O problema é que, quem pensa muit, geralmente, sempre quer mais do que já tem. Sempre quer aquilo que pensa em querer. Aquilo que acha e quer... e lá vem mais teoria.

Eu queria, mesmo, era ser uma lacraia. Gente, vida, fácil, rápido, indolor. Especialmente porque o pretinho básico é sempre uma boa opção. E um vermelho fatal pode ser, realmente, fatal.

Teorias sobre lacraias é o fim, querida. Vai fazer um Mestrado.