segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Vem de(a) gente

Martha Medeiros é, sem a menos sombra de dúvidas, umas das melhores cronistas da modernidade, na minha opinião. Com um toque delicado, na seleção das palavras, ela discute temas corriqueiros como poucos talentosos. Além dessas habilidades, parece-me que Martha também desenvolveu alguns poderes psíquicos, como a leitura das mentes dos seus leitores: escreveu um texto, publicado na revista do jornal O Globo, sobre um tema que muito me faz pensar. Refleti bastante sobre o assunto que, muito me aflige, e que é presente no meu dia-a-dia (principal fonte de crônicas, afinal): a gentileza.

Como a mesma autora afirmou, ser gentil vem a se tornar uma atitude mais comum a mim não só por ser mais fácil de empregar, se comparada à grosseria, mas também pelo fato de que faz bem aos outros, e, conseqüentemente, a mim. Mas me retorna aquele velho e incansável papo do equilíbrio: nada em excesso faz bem, nem a si próprio, nem a ninguém.

No mundo em que se vive, é vital – como já dizia Darwin, em suas viagens biológico-sociológicas – que cada indivíduo se defenda e pratique formas de se manter são, tanto física, quanto psicologicamente. A gentileza em excesso surge como uma ameaça viral à preservação da espécie. Da sua própria espécie: de você. Aqueles que buscam ser sempre, impreterivelmente, gentis, acabam, sim, passando por bobos e fáceis de tapear, além de não se defenderem devidamente.

O mais curioso – eufemismos sempre úteis – é que essas situações são muito recorrentes nas nossas amizades e outros relacionamentos prezados. Como um garçom, tentando equilibrar duas bandejas cheias de taças de cristal, fazemo-nos, tentando agradar a todos e ser sempre bem quistos. Chegar ao objetivo com todas as taças intactas pode não ser uma vitória, em si: é normal que derrubemos algumas delas, ao longo do caminho, e que seus cacos de vidros machuquem a alguns. Tudo isso porque devemos, sempre, tentar proteger a nós mesmo, antes de tudo, para que, satisfeitos, possamos pôr em prática a tão discutida gentileza. Uma gentileza sincera, sem finalidade relacionamentais pré-pensadas. Ser gentil apenas por sê-lo. Essa sim é a gentileza que vale.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Em Cima do Muro

Nesse mundo que nos suporta, não existe essa regra de que algo é totalmente bom ou ruim. Tudo e todos são feitos, basicamente, desse eterno contraste que é o preto e o branco, o positivo e o negativo, o oito e o oitenta. Na verdade, torna-se problemático quando uma das duas partes sobrepõe-se à outra. Aí, sim, é preciso muito cuidado. Falando em regras, aquela que diz que nada em excesso faz bem procede, no entanto. O equilíbrio, na maioria das situações, salva a pele de muita gente, mesmo que se tenha que controlar um pouco o impulso e o instinto que há dentro de cada um. Se o orgulho é grande o suficiente para impedir alguém se de declarar, reduza. Se a timidez é tamanha que faz praticamente o mesmo, mas às avessas, o mesmo é recomendado. Assim funciona com todas as situações, mesmo que toda regra tenha sua exceção.

Dentre tantas reflexões, bom seria mesmo se o autocontrole fosse tão certo quando essa bendita dicotomia.