terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Monólogo de Dois - Parte XI

Desde a primeira vez em que eu fui buscar a minha amada mãezinha no aeroporto, eu me apaixonei por eles todos! Seja qual for, onde estiver, eu sei que essa vai ser a única relação estável e eterna que eu vou ter na vida: aquela entre mim e os aeroportos... Meu sonho, aliás, um dos meus sonhos é... Que você que tá falando, Priscila? Isso não é um sonho, meu bem! A não ser que você ainda tenha 10 anos de idade. Enfim, voltando ao foco do raciocínio (Raciocínio? Você chama isso de raciocínio?) Enfim, de novo! Uma das minhas maiores vontades loucas, além de querer colocar o sabonete na boca, quase sempre que eu tomo banho, é passar a noite presa em um aeroporto... Imagina, cara! Brincar de Tom Hanks, em “O Terminal”, seria má-xi-mo. E, nas férias, eu geralmente invento uma viagenzinha pra fazer, né? E viagenzinhas, quando pra lugares distantes, têm que ser da avião, né? Logo, lá me vou pro aeroporto.

Uma das coisas que mais me atrai neles são as pessoas: são, quase sempre, muito bem arrumadas, distintas, se preparando pra uma viagem de negócios, ou pra uma outra de férias, mesmo, mas viajar de avião é quase um evento. Não que você deva, queridinha, ir de longo pra lá, porque senão o pobre avião vira um daqueles de propaganda, que passam na praia, sendo que a calda do seu belo vestido longo vai ser aquela faixa. Mas, também, não precisa ir toda mulambenta, né, bem? Eu mesma já vi várias pessoas que vão viajar de avião como quem fica em casa, num domingo chatérrimo. Até de chinelo eu já vi, menina! Mas não é aquele outfit casual, estilo Mary Kate Olsen, não. É uma havaiana horrenda, com uma bermuda-peça-de-museu e uma camiseta que só não é daquelas de campanha eleitoral porque não tem a cara de um político safado na frente, porque a qualidade do tecido é a mesma, se não for pior. Isso não rola: afinal, você não tá indo pegar uma vã pra Cascadura, saindo da Penha, né?

Eu gosto mesmo é de me fingir de super habitual, como seu viajasse todos os dias, a mando da minha empresa, sendo uma executiva muito bem sucedida. O problema é quando aparece um conhecido, que você gostaria de desconhecer, e faz aquela festa, né? “Pri, querida! Como vão as coisas? Até que enfim resolveu sair daquele apartamento, né? Já tava na hora de dar uma voltinha por aí!” Aí, bem, de duas uma: ou você começa a berrar, igual a uma louca, dizendo que o respectivo conhecido é um terrorista louco disfarçado, que veio botar fogo no Galeão, ou você simplesmente concorda, e se veste, além de executiva, de monossilábica: “é.”; “urrum”; “pois é” e nada mais do que isso, sem dar papo, pra espantar aquela representação grotesca da sua realidade. Acho mais simples optar pela segunda, até porque, assim, você já cria uma inimizade de vez!

Chega a ser até engraçado, às vezes, porque eu gosto mais de ir ao aeroporto e de estar no avião do que da própria viagem em si, que pode trazer muito mais decepções do uma já garantida viagem ao aeroporto. Tirando as aeromoças antipáticas e pateticamente muito maquiadas, pras sete horas da manhã, e as eventuais companhias das cadeiras vizinhas, que podem ser péssimas, estar dentro da aeronave é bom demais. A não ser, queridinha, que o seu vôo tenha atrasado 13 horas, e que vocêzinha, queridinhazinha, esteja com a bunda numa cadeirinha (e isso sufixo não é fofo) há 5 horas, depois de ter rodado, entrado e não comprado todos os produtos de todas das lojas. Aí, benzinho, não há aeroporto, Tom Hanks ou destino que salvem!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Monólogo de Dois - Parte X

Não tem jeito. Não tem pra onde fugir, querida. É na televisão, no comercial de todas as lojas ou qualquer outra representação comercial, desde a Líder Magazine, tão irritante quanto as roupas que ela vende, até, sei lá, a Casa de Biscoito. Não só na televisão, mas também pelas ruas, no plural mais coletivo de todos no mundo: padarias, supermercados, lojas de brinquedos, lojas de jóias, restaurantes, lojas masculinas, femininas, pet-shops. Tudo e todos se vestem de vermelho, e eis que surge um velho que não vê uma espuma de barbear há 2008 anos, com uma casaca também vermelha gigantesca, estilo Elisabeth XI e um gorro horrendo. Além disso, ele tem, sim, uma risada que, quando criança, me dava medo e, agora, quando adulta – às vezes só no corpo e nas estrias -, me deixa irritada. Demais. É isso, minha gente! O Natal chegou. E aquele grito de escola de samba não foi animado.

Natal é uma coisa engraçada, assim como qualquer outro evento mundial, ou só brasileiro. Assim, pra começar a história, vamos combinar que comemorar uma mesma festa há dois mil e oito anos, eu disse dois mil e oito, não dá, cara. Tudo bem que ela tem um significado bacana e tudo mais, mas, mesmo assim, é tempo demais pra um mesmo motivo. E o pior nem é isso: é aquela eterna hipocrisia. Ah, a hipocrisia natalina!

É evidente que, levando em consideração a época de ano, a Hipocrisia Hipócrita da Silva vem toda, toda: vestida de vermelho, cheia de presentes tão hipócritas quanto ela e com aquele simpático gorro comprado numa promoção na Uruguaiana, ou, no máximo, em um camelô de Botafogo. É realmente irritante: as pessoas, seja no trabalho, na família, ou onde for, falam mal umas das outras o ano todo, reclamam do comportamento alheio, tacam pedras em todo mundo e, quando vem o Natal, toda essa raiva é posta de lado. Por quê, exatamente? Por causa de um dos presentes mais irritantes da Dona Hipocrisia: o amigo-oculto! Sim, é aquela invenção desnecessária em que, para ninguém ficar com as mãos vazias, as pessoas trocam presentes obrigatoriamente entre si, e aí é que está o problema. O que você, cara amigo-ocultista, faz quando tira uma pessoa COMPLETAMENTE aleatória? Senta na boneca, amiga. Ou melhor, no presente mesmo, e chora, meu bem! Tem que se virar em mil para descobrir do que aquela respectiva pessoa quer ganhar, e a situação piora: o que você, Priscilinha, meu chuchu, vai dizer no seu discurso? Que aquela pessoa é muito legal? Você não a conhece. Que ela tem um ótimo caráter? Você nunca o testou, porque você não a conhece. Que ela é muito simpática e extrovertida? Não, você nunca saiu com ela, sequer trocou meia dúzia de palavras com ela, porque você não a conhece. Que ela trepa muito bem? Não, você nunca trepou com ela, porque vocês não se conhecem, porra! Ah, calma, calma, querida. Não precisa se estressar mais, não: a própria compra de presentes já é estressante o suficiente.

Sim, porque você fala, todo final de ano, depois daquele respectivo Natal, que, no ano que vem, você não vai dar presente pra mais ninguém, que chega dessa palhaçada. E o que acontece? Não consegue. Chega Dezembro do próximo ano, e lá vou eu, fazer todas aquelas compras de novo, pra chegar na casa de mamãe com mais sacolas do que linhas de expressão na cara e ter que distribuir aquela presentada pra aqueles primos pentelhos que pisam no seu pé de propósito e estão sempre com a porra da boca suja. De chocolate. Além disso, você ainda tem que ouvir aquela desculpa tão velha quanto o aniversariante desse evento: “Olha, Pri, foi só uma lembrancinha, tá bom? Só pra não passar em branco!”. Olha você, Tia Fulana: vai à merda! Eu prefiro, sinceramente, passar meu Natal em branco, sem seu presente, do que ganhar um pano de prato, porra! Aí meu Natal fica é roxo. De raiva!

Como se já não bastasse, a gente ainda tem que dividir em mil, além da compra de presentes, pra passar o Natal na casa de mil – sim, mais mil – partes da família, né? Tem, sempre, que dar um pulinho na casa da vovó, em Campo Grande, na casa do papai, em Niterói, e na casa da Titia, na puta que pariu. Olha só, minha gente: eu já gastei todo o meu 13º com os presentes! Não tenho esse dinheiro todo pra gasolina, não! E o mesmo acontece com a minha paciência, que acaba muito mais rápido do que o meu 13º.

Mas, depois de tantos vermelhos, tanto nas roupas das pessoas, quanto na minha conta bancária, vem o ano novo! Que beleza! Aí, sim, a coisa fica mais divertida, né? Pelo menos é uma festa mais com cara de festa e tudo mais... Uma festa, afinal de contas! Eu gosto mais, sim, do réveillon, mesmo que, todo ano, seja a mesma queima de fogos, na mesma praia.

Só sei que, afinal de tudo isso, o que sobra? Banha e mais banha. Mais banha ainda! Porque, depois de passar o natal em tantas casas diferentes, e comer tantas ceias diferentes, e de comer todo o resto delas, por dias e mais dias, a gente tem que, afinal, enfiar a cara no iogurte, nosso velho companheiro.

Aliás, acho que vou mandar um bilhetinho anônimo pras minhas tias, pra elas me darem um estoque enorme de iogurte, em vez de um pano de prato.

Have yourself a Merry Fucking Xmas! Apesar de tudo.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Monólogo de Dois - Parte IX

Eu não sei quem foi o maluco transloucado que disse, um dia, que saudade é uma coisa boa de sentir. Ah, cara, independemente de qualquer lição que se possa extrair de um tempo separado de alguém, aliás, independemente de qualquer coisa, eu não suporto e não me importo em sentir uma vontade monstruosa de ficar alguém e não poder estar, seja por qual motivo for.


Tá. Tudo bem, eu preciso confessar que tudo nessa vida tem seu lado bom e ruim, bom ou ruim ou bom e/ou ruim, e a saudade não foge a essa regra, não. Por mais dolorosa que ela possa ser, por mais agonizante que ela possa parecer, ela ensina, sim, sempre alguma coisa pra quem a sente. Não, Priscila, você não está entrando em contradição, apenas está vendo as coisas como elas são, oras: mesmo sendo algo desconfortável, ruim de sentir, ela, a saudade, tem lá sua vantagem, digamos. Com ela, por exemplo, a gente percebe, mais do que nunca, como aquela pessoa faz falta ou como era maravilhoso estar na presença dela.


Aliás, nem precisa ser na presença, de fato.

Acho que o que o mais dói na saudade é a impossibilidade da proximidade. É mais ou menos assim: quando a gente sente saudade de alguém, é porque está longe, ou impossibilitado de ver, certo? Pois bem, na verdade, esse fato não é o que mais incomoda, mas sim aquela que nos proíbe, terminantemente, de ver aquela pessoa. Tá. Confuso, né? Tentemos simplificar, para você mesma entender: é como se, um belo dia, numa tarde quente ou numa manhã chuvosa, a gente resolvesse ligar pra aquela pessoa saudosa, ou quisesse encontrá-la, sair pra almoçar, pra ir ao cinema, pra voltar de um shopping a quilômetros de distância, enfim, estar com aquele indivíduo. Muito bem, isso tudo é possível, não é mesmo? É possível, até o ponto em que aquele respectivo se vai, seja por algum tempo, seja pra sempre, seja para o que for. Isso sim é o que mata, que machuca, que faz sofrer: a impossibilidade, a impotência, o estar-preso.


Seja lá o que isso tudo for, eu realmente não me importo. Sério, menina! Eu, de fato, não me interesso, agora, em desvendar segredos obscuros ou em responder questões que não merecem ser respondidas, pela inutilidade daquelas respostas. Só sei que a saudade dói. Machuca. Faz sofrer. Só sei que chega de saudade: a realidade é que, sem ele, não há paz, não há tristeza. Seja ele quem for, ou onde estiver. Desde que seja ele. Somente ele.

E ponto final.

Da capital.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Monólogo de Dois - Parte VIII

Resolvi resolver minhas resoluções. Não de uma vez por todas, evidente, mas ao longo do tempo em que elas fizerem sentido. E, não, isso não é porque o ano novo está chegando, até porque eu não acredito nessas baboseiras supersticiosas. Tá, tudo bem, eu acredito um pouquinho, sim, mas não ao ponto de me molhar toda, inclusive encharcar o meu futuro caríssimo vestido de ano novo, só pra pular sete ondas, ou doze, não sei agora, pra tal da Iemanjá. (Tal? Perdão, oh, imaculada Iemanjá! Não tinha a intenção de ofender Vossa.. Hum.. santidade?)

Voltando às minhas resoluções, decidi ser decidida, mesmo que nem sempre, e mesmo que nem tão certa assim.

Decidi, também, por sempre pensar naquilo e naqueles que me deixam feliz, e conservá-los acima de tudo e de todos. Pode até soar como egoísmo, mas, se nós mesmas não tomarmos conta de nós mesmos, quem vai tomar? Mamãe, a essa altura da vida, queridinha, já largou de mão faz tempo, né? Acho que um pouco de individualidade, e, sim, Priscila, individualismo sempre são necessários.

Decidi, também, que vou deixar minhas racionalidades um pouco de lado. Não vou ignorá-las completamente, óbvio, (até porque de que me serviria ter me ferrado toda nessa vida, se eu não aprendi nada e não coloquei nenhum aprendizado em prática, né? Tudo tem sua utilidade, afinal), mas vou colocar em cima dos meus raciocínios e previsões mal sucedidas o meu coração. Meu coração e todos os meus sentimentos, sim, antes do cérebro e dos pensamentos. Não quero viver pensado sempre antes de agir e nem calculando o quanto eu vou me machucar aqui ou acolá. Vou, simples e objetivo, viver a minha vida, e isso inclui, sim, sair se tropeçando por aí, e levantando, e tropeçando, e levantando. E tropeçando. E levantando.

Decidi, também, parar de me preocupar tanto assim com dietas e afins, e revistas de beleza e seus afins, e iogurtes irritantes e seus afins, os iogurtes líquidos, daqueles de garrafa. De que adianta ficar calculando quanto de banha-lateral-no-culote a gente ganhou em uma semana? Essa banha, então, é pior ainda! É aquela banha que TODO MUNDO, sem exceção, tem. E tem coisa mais bonita do que um corpo normal? Humano? Natural da própria vida? Eu que não quero passar o resto da minha pensando em ficar igual a uma Barbie versão gigantesca.

E o que me impressionou bastante, diante disso tudo, é que eu realmente me vi mudando. Andando pra frente. Evoluindo! Sendo pra melhor ou pra pior, é necessário experimentar e tentar coisas novas, isso se já não encontramos aquilo que nos satisfaz. Afinal das contas, a gente só não muda, mesmo, porque inventa desculpas externas que, logo, não podem ser resolvidas por nós mesmos. Somos muito espertos e inimigos da gente. E eu cansei de brincar de bipolar nisso tudo. Chega de Ruth e Raquel “revival” na minha vida! Serei uma das duas, somente. Ou as duas juntas, né? Porque ninguém consegue ser tão babaca quanto a Ruth, e nem tão má quanto a Ruth. Somos o meio-termo. Às vezes mais de uma, às vezes mais de outra, enfim, gente de verdade.

Agora só falta coloca-los em prática, né? Medo dessa parte, medo dessa parte... Nossa, Priscila, mas como você tá gorda, mulher! Toma vergonha nessa cara e entra numa dieta! Toma, além da vergonha, um iogurtezinho light de leve e...

Merda.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Monólogo de Dois - Parte VII

Sem sono. Na internet. Um pouco de televisão.
Sem sono. Uns cigarros. Uns lanches na madrugada. E uns quilos a mais.
Sem sono. Umas músicas que me deixam com sono. Uma música que me deixa sem sono. Sem sono. Sem saco.
Sem sono. Confusa.

Eu só sei que me cansei dessa insônia que me dá, toda época em que eu tiro férias. Pseudo-férias, na verdade, porque, naquele escritório, eles te ligam pra avisá-la de que terá que trabalhar terça-feira, às 10h da manhã. Mas fazem essa ligação terça, às duas da tarde! Tá. Tudo bem, exagerei um pouco. Mas o desespero que me bate é o mesmo!

Então, é uma coisa engraçada: quando a gente tá trabalhando, reclama, xinga e soca as paredes de impaciência e cansaço. Quando vêm as férias, e a gente pensa que tudo será maravilhoso, que teremos tempo pra tudo e que faremos o que quisermos, vêm a falta do que fazer e a sobra de tempo. Sobra até demais! E já sabe, né, Priscila? Cabeça vazia, oficina da mulher-confusa-neurótica, ou seja, o diabo de saias.

Com essas férias de mentira, eu fiquei um tempo sem ver aquele que era a fonte das minhas confusões e alegrias. Pude pensar um pouco, então, no que estava acontecendo. No que estava me acontecendo. Porque, quando a gente tá na boa, no bem e bom, a gente nunca realiza a realidade, né? (Ih, redundante e óbvia. Nem pra filosofar você serve mais, chuchu.). É, a gente precisa estar fora da moldura pra analisar o quadro como ele é, entende? É aí que a gente consegue enxergar onde a gente se meteu, o que deixou acontecer, o que fez, e vem ele. Ele. O desespero! Será que fiz certo? Será que eu to sendo hipócrita? Platônica? Sim, porque, pra um relacionamento dar certo, precisa de... Hum... De que mesmo?

Eu só sei que não agüento mais ficar reclamando com as minhas amigas, nos sagrados bares de todo dia. Reclamo de que a vida é complicada. Mas reclamao falando sério, mesmo! Por que, oh, senhor? Por que as coisas têm que ser tão não-fáceis? Por que eu já não nasci com a bunda cheia de dinheiro, com um marido me esperando, com filhos prontos, sem problemas? Por quê? Óbvio que elas riem, e falam que a vida é pra ser difícil e complicada mesmo, pra que possa valer a pena, né? E me dizem, também, pra eu aproveitar os bons momentos, que é isso que deixa a vida mais prazerosa. Tem uma, aliás, que sempre me fala Carpe Diem.

Carpe Diem? Vai à merda! Como você pode “carpediemar” quando tá cheia de problemas, o que é uma constante?! O máximo que eu alcanço é rir das minhas próprias desgraças, com todo o humor negro e ironia possíveis. Desculpa, queridinha, mas aquela mulheres lindas, dos comerciais de iogurte e margarina (light) simplesmente não existem. Nada de praias maravilhosas, homens te segurando no colo e te rodando pela areia. O que eu tenho, há, o que tenho? Ipanema cheia. Areia suja de latinhas. Calor, muito calor! E nada de margarina light, pra mim: eu me encho é de manteiga mesmo. E daquelas boas, bem amarelas, da roça, que engordam horrores. Como mesmo! Isso, sim, é a parte boa da vida.

E outra coisa engraçada é que, quando a gente tá trabalhando, reclamamos sempre do celular que não pára de tocar, e daquelas secretárias antipáticas que te ligam com uma voz fanha chatíssima, e blá, blá, blá. E nas férias? Ninguém te liga, filha. O máximo que você tem é uma mensagem. De homem? Não: ou é o seu horóscopo (que me deixa mais tensa ainda, porque só anuncia tragédia e problema) ou é a Vivo, meu carma, que ainda me manda os saldos que me restam? Por favor, né? Manda esse povo da Vivo tirar férias também! Ou seja, a Vivo vem, e eu morro.

É nas férias, também, que os medos vêm com mais clareza ainda. Porque, quando trabalhando, a nossa cabeça tá cheia de outros assuntos: trabalho, projetos, café. De férias, não: alguma coisa tem que ocupar essa cabeçorra enorme, né, filhinha? E seriam pensamentos positivos? Óbvio que não: realidade, Priscila, lembra? Medo de quê? De escuro (tanto o físico, quanto o psicológico). Medo de magoar os outros. Medo de me magoar. Medo de me envolver. Medo do efêmero. Medo de não saber distinguir. Medo de decidir errado. Medo de ter medo.

Cansei de pensar. Já tô ficando com dor de cabeça. Chega, Pri. Vai ler alguma coisinha, alguma revista bacana. É: você assina trocentas revistas, e nunca lê nenhuma, mesmo! Lê agora, ora. Deixe-me ver essa daqui.

[...]

Página 34: “O que fazer nas férias”.
O que fazer nas férias?!
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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Monólogo de Dois - Parte VI

Às vezes, - lê-se sempre -, eu me divirto comigo mesma, sabia? Não que eu fiquei na frente do espelho, fazendo caretas igual a uma retardada e rindo da minha própria condição ridícula, mas me faço rir sem querer, assim como certas pessoas por aí, né, Dona Priscila? E uma das situações que, depois de passada, mais me diverte é a minha relação louca e instável com... Músicas. Sabe aquela história de Montanha Russa Emocional? Então, é só colocar os fones do meu iPod no ouvido ou ligar o rádio do carro, e pronto: é dada a largada dos carrinhos, e os giros começam a me deixar enjoada, e feliz, e nervosa, e tudo ao mesmo tempo e misturado. É mais ou menos assim:

(Now Playing Como Eu Quero - Kid Abelha)

Ai, ai, meu pai. Não é que a gente combina? Quando eu fico muda, ele faz cara de mistério, e vice-versa! A gente ri juntos, mesmo que eu tenha que disfarçar a minha risada totalmente não-sociável. Aliás, pelo contrário, né: espanta o povo. Se bem que eu descobri que ele também a dele. Mas quer saber? Hum, eu quero ele. Ah, como eu quero! Eu sei que a gente pode dar certo junto, ele me ensina, quase sempre, como ser bem melhor, mesmo quando eu não vejo nada de bom, em volta. E eu? Eu ensino pra ele como as coisas mais simples podem, sim, ser significativas: sempre transformo o rascunho dele em arte final. Isso, Cinderela! Suspira, que a vida é feita disso, menina! (Menos de suspiros comestíveis, por favor).

(Now Playing Back to Black – Amy Winehouse)

Mas você, hein? Francamente! Parece uma pirralha de doze anos de idade, que nunca namorou na vida. Acha, realmente, que ele vai te querer pra sempre? As palavras sempre complicam a nossa, e qualquer outra relação. Um dia, ele vai voltar praquela cachorra, sem vergonha e infantil que pintou e bordou o coraçãozinho lindo dele, ou vai arranjar uma outrazinha qualquer por aí afora (até porque piranha, naquela escritório, não é o que falta, né?) Eu? Volto pra fossa. É lá em que eu resido. Não?

(Now Playing I’m Like a Bird - Nelly Furtado)

Não, não! Você não vive na fossa, nem no fundo do poço, nem na saída dele, mulher! Que isso?! Levanta, sacode e poeira, ajeita a calcinha e dá a volta por cima, sem despentear o cabelo! Você é... É... Um pássaro! Sozinha ou acompanhada, você voa por aí, sem saber onde mora, e sem ter idéia de onde a sua alma foi parar. Livre. Pra voar. De preferência, na primeira classe.

(Now Playing Menino do Rio – Mart’nália)

De preferência acompanhada? Não. Não, senhora: necessariamente acompanhada. Hoje, necessariamente acompanhado por ele, na companhia dele, envolvida nos braços dele, nos beijos dele. Beijos desse menino. Menino do Rio. Meu. Nossos beijos que me dão um calor. Calor que me provoca arrepios. Arrepios que batem no coração. Coração do eterno flerte. Flerte que me faz sonhar. Sonhar com desejos. Desejos que desejam o desejo dele. Ui, menina! Segura, segura!

(Now Playing Maria Rita – Num Corpo Só)

Tá. Ok. Segurei, segurei! Mas acho que segurei demais, pra variar. Por que essa mania de pensar, sempre, que não vai dar certo, e que tudo vai acabar um dia? Custa muito ser um pouco otimista? Só pensa no dia em que tudo se termina, e quando você vai atrás de um amor pra assumir o lugar dele. Seria muito pouco, depois do que eu já senti. É ele, com o jeito dele, que alegra o meu mundo, que andava vazio, vazio. E é só beijar a boca dele que eu me arrepio toda. Ui! Se bem que eu nem sei o que eu sinto. Hoje. Ou ontem. Não sei dar nomes a essas coisas. Pra falar a verdade, eu nem sei quantas vezes eu sonhei o meu corpo, junto ao corpo dele. Num corpo só.

[...]

Oi?
Mas o que que é isso?
Eu não acredito que eu tive a coragem de colocar Spice Girls na minha lista de músicas.

É, queridinha: você, de fato, é uma pirralha de doze anos!

OFF (“If you wannabe my lover, you gotta go with my friends...!” Uhul! Eu sempre quis ter aquela elasticidade toda da Mel C… Será que eu consigo? [...] Ai, minha perna, porra! Distendi um músculo, fato! Pelo menos não foi do coração. Nem do meu. E, espero, que nem do dele).

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Monólogo de Dois - Parte V

Ai, gente, mas me diz uma coisa? Por que a minha vida tem que ser tudo, menos fácil? Tá, eu sei que a vida de ninguém é fácil, mas a minha? Ah, é pior do que a de todo mundo nessa mundo. É, sim, tá? Pára com essa mania de ficar polindo as suas reclamações e reduzindo os seus problemas a uma escolha de roupa, Priscila! Os seus problemas são, sim, grandes, mesmo que muitos deles se resumam a escolher o que vestir. E isso é um problemão, sim, ok? Sabe aquela vontade que dá de sair da sua própria vida, e poder olhar pra ela como uma tabuleiro? Então, assim, você poderia pegar as pecinhas que a compõem, e colocar onde bem entendesse! Ah, que perfeito seria, né? Se bem que escolher onde colocar as pessoas não deve ser uma tarefa muito fácil, mas de uma decisão eu tenho certeza: definitivamente, não iria me envolver com ninguém do meu trabalho.

Ah, cara, eu sei que tem a parte boa: você trabalhando com alguém que o atraia, é vantajoso, porque a gente se encontra sempre, né? O problema, minha amiga, é que tem dias em que você não tá com o MENOR saco pra se arrumar: tem vontade de acordar, prender essa juba leonina que, depois de muito trabalho, vira um cabelo; botar uma calça de moletom, um par de meias velhas, umas havaianas e pronto! Nem uma gota de base sequer! Aí, sim, complica: gente, o que foi aquela minha roupa essa semana? Ele deve ter me achado patética: uma camisa um pouco larga, mas meio justa, listrada, com uma calça meio apertada, mas larga também, e um casaco nada apertado! Mais uma vez, eu tentei parecer descolada, mas eu acho que fiquei mais pra deslocada. Enfim, como se isso tudo já me bastasse, ele é meu chefe. Não é O chefe – até porque, se fosse, eu já teria me atirado pra cima dele há muito tempo... -, mas é superior, nem que seja no tamanho!

Foi quando a gente se esbarrou de manhã: eu, com uma cara ótima de quem tinha acordado às cinco horas da matina, e ele, com cara de quem tinha acordado horas mais tarde, porque pode. O que me deixa mais agoniada é que a gente combinou que não iria falar pra muita gente do trabalho do nosso namoro/rolo/nada-disso. É óbvio que eu não me agüentei, e contei pra algumas amigas minhas, né? Afinal, o que é uma mulher sem as amigas? O pior: o que é uma mulher com amigas, mas amigas que não podem saber de alguma coisa que está abalando a vida dessa mulher, do começo da história, que tem aquelas amigas, do final da história? (Confusa, Priscila.) Elas são as partes que faltam em mim: a corajosa e esperançosa e a realista e calculista. Só sei que elas duas, agora, estão incentivando a coisa a dar certo.

E você realmente acha que ele não contou pra nenhum amigo do escritório dele? Conheço bem essa raça, minha filha: homem é homem – e que homem é aquele, hein?-. Eu já percebi a cara que alguns dos amigos dele fazem, quando me vêem. - sabe aquele sorrisinho que diz: eu sei o que você fez no sábado passado? Então, é o que eles usam pra me cumprimentar. - Mas eu até gosto, sabia? Pelo menos o nosso relacionamento-não-iniciado toma um caráter mais real, né? Assim, eu posso... É: eu posso me envolver mais ainda. Excelente, Priscila. Excelente!

No esbarrão, foi somente um bom-dia normal. Mentira! Não que a gente tenha se agarrado, mas os olhares, ah, os olhares fizeram daquela bom-dia de pão velho um bom-dia de um baguete france fresquinha, que acabou de sair numa padaria colonial linda, à beira da Torre Eiffel. (Hum, mas você tá ficando cada dia melhor nisso, hein? Cafona do ano, nas metáforas: babaca!) Enfim, os olhares até me animaram a correr no banheiro e botar algum pó nessa cara que não vê sol há meses. Foi cada um pro seu canto, cada um fazer o seu trabalho, como se eu conseguisse ficar mais de três minutos sem pensar nele, né? Até um desenho eu fiz, senhor! Um desenho! Priscila, queridinha, você não tá mais no primeiro ano, ok? Acorda! [...] Mas ficou fofo.

Até que eu resolvo dar uma volta pelos corredores... Estava de saco cheio de ficar sentada naquela cadeira, mesmo! Esse povo da minha sala passa o tempo todo desfilando corredor afora, só falta uma roupa e uma passarela. E, óbvio, aquelas barangas emagrecerem horrores, né? Lá fui eu, cantarolando comigo mesmo a música, a nossa música que eu inventei que é nossa! (primeiro ano, FATO!). Dei uns dois passos, e quando eu iria dar o terceiro, dei de cara com ele! (Eu dei tudo, né? Menos o que eu queria. Menina, que horror!). Dei de cara com ele, e parei! Parei, e sorri. Sorri, e me odiei pro resto da vida: idiota! Mas por que tem que falar merda, menina? Não consegue ficar com essa boca grande fechada? Ele estava indo pegar o elevador, mas eu resolvi ir pelas escadas: era melhor, porque eu não duvido nada de eu agarrar ele, no meio do elevador.

Cada degrau era um xingamento diferente de mim pra mim mesmo: fui da babaca à piranha desesperada – sim, eu sou as duas ao mesmo tempo!-. Resolvi dar uma volta pela rua, pra espairecer, quando eu passei pela padaria. Você sabe que, mesmo depois de ter acabado de comer uma boiada inteira de picanha, se eu vejo comida, eu como! Pra quê?

Dei de cara – de novo – com uma baguete francesa fresquinha! É: nem pão eu posso comer mais! Pelo menos eu perco peso.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Monólogo de Dois - Parte IV

Sim, eu fui! Ele foi! Nós fomos! Meu Deus, nem acredito que, depois de tanta agonia, a gente realmente saiu decentemente, sem chefes ao redor, e sem escritório sob nossos pés e cabeças. E o mais curioso e engraçado é que, para variar, tudo aquilo que eu havia planejado deu errado, né? Típico, Priscila. Típico. Isso acontece desde que você queria ser a princesa seqüestrada, na pecinha da escola, e acabou sendo umas das maçãs que caíam das árvores. E caíam uma vezinha só. Já deveria ter se acostumado, mas nada.

Eu poderia ficar me lembrando de cada minuto pra sempre, como se ele tivesse acabado de passar. Para começar o desastre que deu certo, eu rodei, andei, subi escadas e desci elevadores de todos os shoppings aos que eu tive paciência de ir. Para quê? Nada. Não achei uma peça de roupa decente, que me agradasse e que tivesse um preço razoável. Até porque eu me recuso, terminantemente, a pagar 200 reais em um vestido. Fiquei pensando, então, em alguma roupa que eu tivesse naquele esvaziado armário, e nada. Consegui até me lembrar de algumas, mas, para variar, elas estavam pra lavar, mesmo não estando sujas. Eu tô precisando dar umas dicas pra essas empregada, hein?

Íamos sair num dia. A família dele resolveu convocá-lo no mesmo dia. Sim, na mesma hora, né? Até porque, se fosse em horário diferente, não seria a minha vida, óbvio. Nada é fácil pra você, Priscila. Nada! Conclusão: quando ele conseguiu ser libertado das garras genéticas, eu já não poderia mais sair. Não, não era desculpa, óbvio, mais uma vez. Eu, aquela louca psicótica, morrendo de ansiedade e medo, nunca iria desmarcar, mesmo a roupa não dando certo, e mesmo eu tendo acordado com um Arquipélago das Bermudas, em forma de espinhas na testa. Desmarcamos, então, mas acabamos saindo. Pelo telefone. Sim! Ficamos horas ao telefone! Pra desligar, ah, foi um parto. Mas a criança acabou nascendo, e a gente, desligando o telefone, depois de muitos joguinhos de palavras, que eu nunca consigo fazer direito: sempre se entrega, né, babaca?

Qual não foi a minha surpresa quando ele me liga, no dia seguinte, remarcando a nossa saída? Nossa, foi uma loucura! Saí correndo que nem uma doida pela casa, direto pro meu quarto, pra esvaziar aquele guarda-roupa todo de novo, pra ver, de novo, que nada prestava. Fiquei desesperada, gritando sem parar, até que eu achei, perdido, no fundo no armário – quando eu estava socando as portas de raiva -, um vestido lindo! Era, na verdade, da minha mãe, e ela resolveu restaurar e me dar. Isso é uma coisa engraçada, né? Se alguém mais novo coloca uma vestido, um óculos ou calça velha, vira vintage e retrô. Agora, se uma velha coloca essas coisas velhas, ela é só uma velha sem noção. Fingi, então, ter total desprendimento sob as minhas roupas, como se aquela peça tivesse surgido sem querer e sem esforço, tipo – Opa! Achei. -.

E eu fui. Ele foi. Nós fomos! O problema é que, como se trata da minha vida amaldiçoada, eu cheguei super atrasada, e não porque quis fazer um charme – o que acabou acontecendo, eu acho -, mas porque me enrolei toda naquele trânsito maldito, nessas ruas do Rio, que são muito confusas. Também, por que eu fui inventar um lugar tão complicado, só pra parecer cult e casual, né? Acho que só a roupa da mamãe já seria o suficiente pra mostrar como eu era desencanada. Ou cafona e velha.

Conversamos, rimos. Bebemos, comemos. Mesmo aquele maldito lugar estando lo-ta-do, - o que não fazia o menos cabimento, levando em consideração o dia e a hora -, teve alguns momentos em que eu consegui me sentir sozinha. Só com ele à minha frente. E isso acontecia a toda hora que ele me sorria um sorriso cheio de significados – tá, nesse caso, tinha significado, sim, ok?

De repente, do nada, ele me surpreende. Foi inesperado. Foi invovador. Foi impulsivo. Foi inédito. Foi bom. Demais! Nem quero me lembrar, pra não começar a rir, sozinha. Só sei que saí de lá flutuando como uma pluma, mesmo estando tão gorda quanto trezentos quilos de plumas. E a gente já tem até uma música nossa. Tá, tudo bem, ele ainda não sabe disso. Mas foi uma música que tocou na minha cabeça logo depois que eu o vi indo embora, andando calmamente – ou nem tão calmo assim -, e eu sorri, sem querer, sem prever. Involuntariamente.

Ih. Música pros dois, sem ele saber?
Flutuando igual a uma pluma?
Sorriso involuntário?
Merda.
Merda! Será que isso em que eu tô pensando?

Mas cadê aquela bendita revista de auto-ajuda agora, Senhor? Não. Não é essa, nem essa. Nem essa. É, amiga: acho que você já tá na merda. Naquela merda que cheira a perfume francês. Masculino, nesse caso. Bem-vinda!

Burra.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Monólogo de Dois - Parte III

Calma, Priscila. Muita calma nessa hora! Mesmo que muitos discordem desta máxima, escolher a roupa certa é, sim, definitivo pra que algum relacionamento vá pra frente, em especial no dia do primeiro encontro. É, amiga: vai ser essa semana, cara! Ui, que nervoso bom esse... Sabe aquela vontade que dá de sair correndo pelas ruas, beijando e rodando todo mundo? E aquela outra de sair dançando pela casa de calcinha e sutiã? Ah, que delícia! Muito bem, mas agora se concentra, porque a decisão é importante.

Uhm, bem, temos aqui, então, um armário, de três portas, com cerca de oito gavetas, e uns três cabideiros, também. É matematicamente impossível – mesmo que eu não creia muito nessas exatidões numéricas – que eu não tenha uma roupa que me agrade aqui, nesse mundo de panos, paetês e all-stars. Pensa positivo e abre a cabeça pra novas possibilidades de combinações, mulher. Tenta juntar aquela blusa baratinha com aquela calça super cara... Que tal? Vejamos...

Tudo bem: temos, daquele amontoado de roupas, algumas peças que são plausíveis de serem usadas no dia D. Bom, levemos em consideração que é um bar, né? Muitas pessoas saem de seus respectivos trabalhos e vão direto pra lá, ou seja, não precisa se arrumar demais. Se bem que, se eu for casual, ele nem vai me notar, no meio daquela multidão de gravatas afrouxadas e pastas deixadas de lado. Ah, vamos inovar, vamos ousar! Isso é moda: reinvenção!

[...]

Tá. Ok: essa história de moda reinventora só dá certa quando você tem um estilista italiano do seu lado, sentado na sua cama, dando opinião sobre as suas combinações! Tentar inovar só me deixa ridícula e esquisita, mas nunca fashion. E pára com essa falsa esperança de que é possível, dependendo do seu senso de moda, mudar a aparência, e se mostrar renovada, tá? O máximo que você vai conseguir é ficar igual a um bolo de casamentos, cheia de camadas e sobreposições, e mais gorda do que nunca.

[...]

Ah, gostei dessa aqui: blusa básica, mas não nula. Calça jeans, mas não surrada. Sandália alta, mas não uma de passista de escola de samba. Ah, mas que coisa apagadinha, hein? Vamos dar um up nisso daqui, querida! [...] Até que essas pulseiras caíram bem, né? E esse cabelo, preso atrás, mas relaxado e jogado, ao mesmo tempo, está passando auto-controle e tranqüilidade – como se ele fosse reparar nisso-.

Péssima. Péssimo! Essa história de ir pelo básico deixa tudo muito... Básico! Não chama a atenção, tira o brilho que eu já não tenho, enfim, não dá para ser. Só me resta uma opção, né? Ir às compras! Afinal, eu trabalho para quê? É pra me sentir bem e bonita mesmo! Depois eu penso nas contas da vida...

Vamos? Então, vamos!

Mas com que roupa eu vou ao shopping?

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Monólogo de Dois - Parte II

Não me diga que eu não esperei. Esperei, sim, mas nada daquele bendito telefone tocar. E, pra completar, a tecnologia se encarrega de criar ainda mais agonias com fios: celular, orkut, MSN, e outras cadeiras elétricas psicológicas que já são meu quase-segundo lar. E liguei, sim.

Tudo bem que, àquela altura do campeonato, eu não estava nem um pouco nervosa ou apreensiva, até ele atender o telefone. Aí todo auto-controle foi-se embora, porque foi empurrado pela mudez: e agora? Nos dois segundos entre o "alô?" dele, e o meu "alô!", eu consegui pensar em quase toda a nossa história que ainda não aconteceu. Genial! Como é possível uma mulher chegar a esse ponto? Ficar imaginando uma situação avançada que ainda nem começou? Mas é muita falta do que fazer, ein? Ou falta do que viver? E, não: assistir ao Globo Repórter, Priscila, não é uma forma de vida aceitável!

Menina, se concentra, por favor? Você estava pensando em quê, mesmo? Ah, dos dois segundos que pareceram dois milênios, né? E não é que pareceram? Todas as piadas convenientes que eu tinha preparado sumiram, magicamente, junto com aquele suado auto-controle. A minha risada socal (é: todo mundo tem uma gargalhada que só usa da frente de familiares, dos mais íntimos, ou vendo uma comédia, sozinho, se engasgando com a pipoca logo depois); então, aquela risada pro mundo virou quase uma crise de risos de gás hélio com onda de maconha, a cada vírgula que ele, tecnologicamente, falava.

E não podemos nos esquecer, em hipótese alguma, de que fui eu quem ligou, né? Vamos combinar que, mesmo estando no século XXI e toda aquela baboseira de "mulher-ex-sexo-frágil" já tendo virado senso comum (e argumento batido de redação), uma mulher tomar a iniciativa, pra muitos, quer dizer uma destas duas coisas: ou é desesperada, e não viu outra opção, ou é piranha mermo. E vamos combinar, de novo, que é melhor ser piranha. A piranha, pelo menos, se diverte sempre, tá cagando pro que os outros pensam, e tá feliz - mesmo que não devsse -. Já a desesperada, não. Tá desesperada, afinal, né?

Mas, pensando no desastre ambiental que poderia ter sido a nossa primeira conversa depois do primeiro encontro - que não foi um encontro, mas um encontrão mesmo, no meio daquele corredor do trabalho, de frente pra escada-, acho que eu até consegui disfarçar bem. Você tava nervosérrima, lembra? E, mesmo assim, consegui recuperar algumas das minhas piadas perdidas nos alôs iniciais, e até a minha risada sexy-mulher-controlada voltou.

Depois dessa ligação, quando eu estava em casa, uns dias depois, sentada naquela bendita poltrona, do lado daquele bendito telefone, ele me manda uma mensagem. Ahá! Acabei de achar a primeira inveção da modernidade que ajuda os relacionamentos: a mensagem de texto! Afinal, você pode levar quanto tempo quiser - não muito - para respondê-la, sem se preocupar em gaguejar ou falar alguma coisa errada. O único problema é que alguns celulares simplesmente ignoram acentos, todos eles, e fazem você parecer uma analfabeta, né? Pelo menos todos sabem que isso acontece.

A resposta da mensagem? Depois de horas procurando um jogo de palavras perfeito, com a informação perfeita, pontuação, concordância e regência impecáveis, eu mandei qualquer merda que veio à minha cabeça cansada de uma dia de trabalho, mas reavivada por aquele sinal de vida inesperado.

Se bem que ele podia ter resolvido dar esse sinal de vida naquele dia da topada, né? Pelo menos eu não estaria com uma cabeçorra branca no meu pé, que mais parece um OB aberto, enrolado no meu dedinho...

Mas vai valer a pena, Priscila. Mesmo que essa pena seja sonhar mais do que viver, ao menos por enquanto. E, mesmo assim, a gente pode inverter esse final fatídico de uma começo-não-começado. Até porque você é uma mulher decidida, e vai fazer o que possível for pra ter ele pra você, certo?!

Ah, não: auto-ajuda de revista de novo, não!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Monólogo de Dois

Pára com essa neurose toda, menina! Você é uma mulher madura, experiente com a vida e que conhece o lugar onde pisa, certo? Ai, mas que idiota que eu sou: tentando me convencer de coisas que nem eu mesma sei se quero acreditar. O que me importa, agora, é que eu tenho de parar com essa mania irritante de ficar reparando em tudo que ele faz, diz ou parece querer dizer. Ele ter mexido o dedo não quer dizer que ele queria se casar. Ele ter sorrido um sorriso diferente não quer dizer que ele mais feliz comigo do que com outra. Todas essas teorias, que essas mulheres babacas, como eu, passam horas usando, não servem para absolutamente nada, a não ser para nos deixar mais inseguras e incertas ainda.

Genial conclusão! Parabéns! Agora só falta você se levantar dessa poltrona – que já deve estar cansada de ouvir as suas reclamações – e fingir que nunca inventaram telefone, e que não há nenhum meio de comunicação que vocês possam usar pra dizer um ‘oi’. Vamos? Então tá. Ih, mas e se ele resolver ligar agora? E se, nesse exato minuto em que eu encostar a primeira célula do meu primeiro dedo do pé nesse chão gelado, ele começar a digitar o número da minha casa? Ora, se isso acontecer, eu dou um tempo – fazer um charme nunca é demais – e atendo, fazendo uma voz blasé de quem estava lendo um livro do Nietzsche. Mas você não acabou de se comprometer a esquecer essas teorias idiotas, que aquelas revistas, ainda mais idiotas, enfiam na nossa cabeça? Age de acordo com o que você pensa, ora! É a vantagem de ser humana, não? Ou seria a desvantagem?

Tá bom. Vou até a cozinha, pegar um iogurte zero calorias que não mata a fome nem de uma anoréxica de dieta, vou fingir que estou me deliciando com seu sabor e cremosidade, e vou me convencer de que, naquele pote, tinha vindo um Big Mac. Mas vou andando bem devagar, para que correr? [...] Droga, não consegui controlar minhas pernas, corri igual a uma maratonista, dei uma topada na geladeira, quebrei a gaveta de talheres, e ainda derrubei o pote daquele iogurte horroroso no chão! E pra que mesmo? Pra esse telefone maldito não tocar! Plena sexta-feira à noite, eu em casa, sendo obrigada a assistir a essa múmia almada, chamada Sérgio Chapelin, apresentando um programa chatíssimo que fala sobre os bichos do pantanal mato-grossense? Aqui, ô meu senhor, não existe nenhum veado aí, não? Ah, porque aqui, nessa cidade, tem pra dar e vender!

[...]

Sentada, na mesma poltrona, mas agora com o dedinho roxo do encontro com a geladeira. Bom... Excelente! Que mulher madura e experiente era você, mesmo? Vai fazer alguma coisa que preste, menina! Sei lá, vai ler aquele Nietzsche complexado e na encolha, vai! É mais útil do que ficar aqui, sem faze... (Trim! Trim!) Alô? (voz rouca, tossi logo depois, por causa de uma parte mais dura do iogurte que fica presa na minha garganta).

[...]

Ótimo, mas por que raios eu iria querer mais um cartão de crédito? Me diz, por favor! Tem como comprar vergonha na cara pra homens? Se der, me vê logo umas trezentas, um pra cada futuro relacionamento superficial e efêmero que eu vá ter!

Cansei dessa brincadeira. Perdeu toda a graça! Nem raciocinando mais eu estou direito. Vou praquela cama, sozinha, rodeada por meus travesseiros pra coluna que destroem meu pescoço, e por aquele edredom que esquenta no calor, e esfria no frio. Ah, que bom deitar. Por que eu não vim antes, não é mesmo? Poderia ter dormido muito mais!

Vamos dormir, né? Huuuum...

Mas e se ele me liga logo agora?

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Derivações Impróprias

Morro de calor.
Morro de saudades.
Morro com a frieza de gente.
Já morri de amor.

Vivo de alegrias.
Vivi de tristezas.
Vivo a vida.

Morro de ciúme.
Morro de inveja branca.
Morro de inveja negra.
Morro de preguiça de ser

Morro.
Um morro de sentimentos.

E, ainda assim, vivo.
Mesmo morrendo pelos caminhos.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Deixando o "Smile!" Tristonho

Muitas pessoas, na primeira vez em que vão ao terapeuta, são chocadas com a seguinte pergunta: você é feliz? Pausa para reflexão, e muito, muito espaço, para discussão.

Antes de mais nada, é emergencial que a ONU agregue aos Direitos Humanos o conceito de felicidade. Vamos combinar que aquele encontrado no dicionário é etimológico demais, e pouco se aproxima do real significado desse sentimento, estado de espírito, objetivo, ou seja lá o que ele for.

Antes de responder tempestiva e hipocritamente essa pergunta a alguém, pensemos no seguinte: creio eu que, em pleno 2008, ninguém ainda acredita que a felicidade plena é possível. Aliás, nada pleno é mais possível, salvas algumas raras exceções. A felicidade, assim como a paixão, a dor, entre outros, não deve ser encarada como algo a se ter sempre ao seu lado, como uma constante estável, simplesmente pelo fato que de ela não o é. Hoje, ser feliz é entender como se vive, buscar uma maneira mais confortável de se sobreviver aos percalços que a vida nos traz. Ser feliz é entender que nem sempre se está esbanjando sorrisos e otimismos, mas sim ter em mente que a vida é assim: ora esquenta, ora esfria, mas não pára.

Ser feliz é poder sentir aquele cansaço bom, de quem fez tudo o que deveria fazer e planejou, mesmo que nem tudo tenha saída da forma como se imaginava. Ser feliz é, uma vez ou outra, fugir da rotina e ir fazer nada, pensando em coisa alguma que atrapalhe, sem o menor peso na consciência – pelo menos enquanto se aproveita o momento. Ser feliz é ter a capacidade de que, quando se está no fundo do poço, saber que é possível, sim, subir à sua saída, novamente, mesmo que demore mais para subir do que se demorou para chegar ao fundo.

Não muito adianta buscar a felicidade sem parar, procurando-a por todas as esquinas, seja em forma de pessoa, seja em forma de um emprego ou de uma bolsa. A graça, que leva, sim, àquela felicidade, é encontrá-la quando menos se espera, engarrafado na Ponte Rio/Niterói, ou no metrô de Paris. Enfim, não seja feliz. Esqueça esse mandamento, e viva: aí, sim, seremos felizes, sem obrigação, e poderemos espantar muitos terapeutas pela profundidade desse pensamento.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Que Morram os Gasparetos

Sendo eu o maior leitor e releitor dos meus próprios textos, além de odiar muito deles – tamanha sinceridade em que lá deposito -, sempre reparo em alguns detalhes, por vezes nas entrelinhas, ou nem tão discretos assim. Um desses que me chamou atenção, exatamente pelo fato de estar bem visível, é essa mania que não só eu tenho, mas que muitos também o têm, mesmo que não o escrevam: dar a moral de história. É fato comprovado que terminar um texto é, muito provavelmente, a parte mais difícil dele, e que muitos escritores têm certa dificuldade, ou até implicância, em fazê-lo. Vai ver que é por isso que dar ‘um final feliz’ seja tão comum neste blog preto, branco e cinza. Mas, dessa vez, resolvi inovar. Chega de finais bonitinhos, de desfechos fofos, à lá auto-ajuda.

Vamos combinar que, mesmo que eu tanto fale e tanto tente me convencer, o equilíbrio entre os elementos de nossas vidas é, impreterivelmente, impossível. Alcançar um meio termo em que tudo que você, com todos e a todo o momento é tarefa, somente, para o Super Homem de Nietzsche – e convenhamos que esse é, além de homem, um super herói. Não que seja recomendável chutar o bale – e, nesse caso, a própria cabeça – e pouco se importar em ser equilibrado. Acho, afinal, que temos, sim, que buscar o centro das coisas, mas, caso não o encontremos, não precisamos nos sentir seres humanos deploráveis. Pelo menos se tentou, ora.

Pronto. Não disse que terminar um texto é mais difícil do que escrevê-lo por inteiro? Pois bem: e agora? Que faço? Termino de maneira graciosa e tipo Cinderela, ou não?
Óbvio que não. Terminarei assim, aqui e agora. Acabou

(Afinal, nem sempre, nas nossas vidas, terminar é, de fato, o final de algo).

(Droga, final feliz de novo? Ah, desisto: meu eu lúdico é mais forte.)

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Vem de(a) gente

Martha Medeiros é, sem a menos sombra de dúvidas, umas das melhores cronistas da modernidade, na minha opinião. Com um toque delicado, na seleção das palavras, ela discute temas corriqueiros como poucos talentosos. Além dessas habilidades, parece-me que Martha também desenvolveu alguns poderes psíquicos, como a leitura das mentes dos seus leitores: escreveu um texto, publicado na revista do jornal O Globo, sobre um tema que muito me faz pensar. Refleti bastante sobre o assunto que, muito me aflige, e que é presente no meu dia-a-dia (principal fonte de crônicas, afinal): a gentileza.

Como a mesma autora afirmou, ser gentil vem a se tornar uma atitude mais comum a mim não só por ser mais fácil de empregar, se comparada à grosseria, mas também pelo fato de que faz bem aos outros, e, conseqüentemente, a mim. Mas me retorna aquele velho e incansável papo do equilíbrio: nada em excesso faz bem, nem a si próprio, nem a ninguém.

No mundo em que se vive, é vital – como já dizia Darwin, em suas viagens biológico-sociológicas – que cada indivíduo se defenda e pratique formas de se manter são, tanto física, quanto psicologicamente. A gentileza em excesso surge como uma ameaça viral à preservação da espécie. Da sua própria espécie: de você. Aqueles que buscam ser sempre, impreterivelmente, gentis, acabam, sim, passando por bobos e fáceis de tapear, além de não se defenderem devidamente.

O mais curioso – eufemismos sempre úteis – é que essas situações são muito recorrentes nas nossas amizades e outros relacionamentos prezados. Como um garçom, tentando equilibrar duas bandejas cheias de taças de cristal, fazemo-nos, tentando agradar a todos e ser sempre bem quistos. Chegar ao objetivo com todas as taças intactas pode não ser uma vitória, em si: é normal que derrubemos algumas delas, ao longo do caminho, e que seus cacos de vidros machuquem a alguns. Tudo isso porque devemos, sempre, tentar proteger a nós mesmo, antes de tudo, para que, satisfeitos, possamos pôr em prática a tão discutida gentileza. Uma gentileza sincera, sem finalidade relacionamentais pré-pensadas. Ser gentil apenas por sê-lo. Essa sim é a gentileza que vale.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Em Cima do Muro

Nesse mundo que nos suporta, não existe essa regra de que algo é totalmente bom ou ruim. Tudo e todos são feitos, basicamente, desse eterno contraste que é o preto e o branco, o positivo e o negativo, o oito e o oitenta. Na verdade, torna-se problemático quando uma das duas partes sobrepõe-se à outra. Aí, sim, é preciso muito cuidado. Falando em regras, aquela que diz que nada em excesso faz bem procede, no entanto. O equilíbrio, na maioria das situações, salva a pele de muita gente, mesmo que se tenha que controlar um pouco o impulso e o instinto que há dentro de cada um. Se o orgulho é grande o suficiente para impedir alguém se de declarar, reduza. Se a timidez é tamanha que faz praticamente o mesmo, mas às avessas, o mesmo é recomendado. Assim funciona com todas as situações, mesmo que toda regra tenha sua exceção.

Dentre tantas reflexões, bom seria mesmo se o autocontrole fosse tão certo quando essa bendita dicotomia.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Eterna Batalha

Muitas pessoas podem me ver como louco, insano, ou algo do tipo, mas devo admitir – por uma questão de honra – que a ficção mais me importa, e mais me é útil, do que a realidade, em si. Pode soar louco, novamente, mas, mesmo difícil sendo trazer a fantasia para a nua e crua, ainda insisto nessa transição maluca. O resultado vai muito além do que utopias não postas em prática.

Quando digo ficção, refiro-me não só a livros, mas a programas de televisão, filmes, e, claro, minha longa e insaciável imaginação, que consegue me tirar o sono madrugada adentro e draga-me do cotidiano pelas tardes afora. Nessas viagens – já discutidas por mim, creio eu – eu conheço novas pessoas que me trazem novos sabores a tal realidade. Vivo outras vidas, mesmo que sentado ao sofá, que jamais dele sairão. E, sim, por incrível que possa parecer, isso me ajuda a levantar a cabeça, fincar-me em meus pés, e seguir adiante.

Não é infantilidade. Nem escapismo. É, na verdade, apenas um pause, no controle remoto da minha vida factual. Enquanto esse botão está apertado, eu me aperto pra tentar visualizar novas soluções, novos sentidos e nexos pra trazer de volta, quando o play voltar a tocar.

Pois é. Infelizmente ou não, o play sempre é apertado de novo, mas isso não quer dizer que o pause tenha sido bloqueado. A não ser que a sua mente, lavada pelo cruel mundo real, assim o queira.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Walk Away

Desde que posso me lembrar, sempre tive vontade - e curiosidade - de morar fora. Não por aversão ao meu país, muito pelo contrário: uma das conclusões tiradas seria, provavelmente, a de que esse é o melhor lugar para se viver. Mesmo assim, entre as razões que levam alguém a deixar tudo para trás por três, seis meses, ou até um ano, estive pensando em quais seriam elas. Ora, isso vai, inevitavelmente, variar de viajante para nômade, mas elas não se restringem a apenas pegar um vôo e afastar-se.

A questão não se resume somente em mudar de rua, cidade ou país; abrange, também, um patamar mais psicológico e, por que não, antropofágico. Às vezes - e não são poucas - precisamos fugir da nossa rotina, dar um pause no nosso cotidiano, deixar algumas pessoas queridas em nosso mundo, e irmos pra outro, com outras rotinas, outros cotidianos e novas pessoas. Não que seja tudo por egoísmo, mas sim por uma necessidade de melhora no nosso hábitat natural. Contudo, para fazê-lo, é necessário muito mais do que dinheiro para comprar a passagem e se bancar.

Quem vê de fora pode achar muito simples: pensam, equivocadamente, que tudo é uma grande mar de rosas, do tamanho do Oceano Atlântico; e que são mil maravilhas, assim como as 7 do Mundo Moderno. Não. Aqueles que se vão, por quanto tempo for, precisam de muito mais coragem, determinação e vontade para enfrentar os obstáculos do mundo afora do que aqueles outros que sentem as saudades, em seu próprio país: por que isso acontece? Complicado de entender, mas simples de explicar: os que se vão têm que se adaptar a novas circunstâncias, novos costumes, novos hábitos, língua, ou seja, têm um novo mundo a fazer parte. Já os que os aguardam, não: estão em casa, com quem amam, com quem conhecem. Nada têm de novo a engolir, exceto o de sempre.

Então tá: passagem comprada, mala pronta, hospedagem agendada. O avião decola, nosso coração dispara a ponto de ultrapassar o girar das turbinas. Depois de um tempo, lá fora, começamos a pensar no que ficou acolá. Aqui, de onde saiu e pra onde vai se voltar, provavelmente. Creio ser essa a maior utilidade dessas viagens aparentemente loucas: quando se está fora da moldura em que se inseria - quando não preso - pode-se pensar em várias questões, resolver vários problemas, tomar várias decisões, fazer várias escolhas, mesmo que esteja tão longe dos lugares, pessoas e dúvidas que foram tratados.

Esse mundo é tão grande e diferente não à toa: existem tantos países, tantas pessoas, tantas culturas, justamente para que possamos usá-las de modo a melhorar as nossas próprias.

Eu quero ir embora.

domingo, 8 de junho de 2008

Final nem tão feliz

Poucos assim o vêem, mas escrever pra si própria pode ser o melhor reflexo, e o mais fiel retrato daquilo que se sente. Sem esperar a aprovação de terceiros, ou os elogios de quartos, expressar como se é, de fato, sem nada em troca, é a melhor forma de se conhecer melhor, de ver as mudanças pelas quais passamos e o que elas causaram na gente. Venho reparado, em minhas últimas hemorragias verbais, que a dificuldade de terminar aquilo que se começa vem se fazendo presente. Não que haja um bloqueio repentino, ao concluir um texto ou uma idéia, mas há sempre o mesmo final. Como uma novela, a mensagem passada ao fim é quase sempre a mesma, no meu caso: deve-se esquecer da racionalidade, e se entregar às emoções. Refleti bastante, então... Será que essa freqüência no final seria um indício? Um sinal de que quem escreve é aquele que mais precisa seguir seu próprio conselho? Tenho quase certeza de que sim.

Quando se diz pra seguir o que falamos, mas não o que fazemos, se está pondo em prática uma das maiores dificuldades das pessoas: fazer, de fato, o que se pensa ser certo. Concluir textos pode ser fácil, mas pôr em prática aquilo que se escreve já são outros quinhentos.

Falando em finais, mudo o meu de quase sempre: em vez de ficar pensando em como acabar um texto, pensemos mais em como estamos concluindo as nossas reflexões e o bom ou mau uso delas.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Olho Vivo

Cansei de falar do amor. Não somente do meu, mas dos nossos, afinal, tudo que se sente é, inevitavelmente, percebido pelos outros. Considero-me um perito nessa questão. Absorvo os sentires alheios como se meus fossem, sem a menor cerimônia ou receio, e é esse, provavelmente, o problema.

Quando se é munido desse verdadeiro talento e carma, ao mesmo tempo, pode se estar suscetível a verdadeiros bombardeios de sentimentos. Não só meus, mas de todos, como disse. Mas creio ser esse não um problema de fato, apenas uma condição para que se possa ser do jeito que se é, assim: sentimental.

Entretanto, ter intenso contato com os amores de outros não garante, de forma alguma, que vá se ter a mesma conduta e experiência quando se trata dos seus sentimentos. Complica a situação, pois se encontra não mais na platéia, mas no foco dos holofotes, com a corda no pescoço e com as asas do coração preparadas a voar.

Nesse caso, não há análise que resolva, nem matemática que defina. Não há outras saídas, a não ser arrancar essa corda, abrir os braços e deixar-se ir. Para que se prender a fatos e dados, afinal? O prazer que se tem quando fazemos o que a cabeça desaprova, mas o coração aplaude, vale muito mais do que qualquer conclusão sentimental que se possa obter.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Estampado na cara

Entre tantas situações pelo mundo afora, para se ter vergonha, as pessoas a têm de estar amando, de demonstrar seus sentimentos, de serem felizes. Sentem vergonha de falar o que pensam, de ouvir o que outros dizem, de ser quem são, sem jogo de palavras ou estilos discretos e blazé montados à rua, e desmontados à frente do espelho.
Em vez de se sentirem incomodadas com um menino que tem a calçada como cama, um papelão como travesseiro e uma camisa e uma bermuda, como guarda-roupas. Não, preferem sentir-se mal com uma celulite, um cabelo crespo, ou uma unha mal feita.
Parecem crianças inocentes, por não pôr em prática a visão que desenvolveram, acerca do futuro. Lembram adolescentes imaturos, que só se importam com o que os outros acham, e nada mais lhes interessa. São, na verdade, adultos. Mesmo que não o pareçam.

Vergonha deveriam ter, sim, de ser da maneira como estão sendo. Não que assim tenham nascido, ou sido criados, mas desse jeito deixaram que se moldassem. Nesse caso, há de se admitir que o sistema tem, de fato, culpa no cartório. Mas, afinal de contas, quem criou o sistema em que se vive?

Eis a questão, tão fácil de ser respondida, mas solenemente ignorada.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Um pouquinho de Brasil

Entre tantos lugares nesse mundo
A que se pode ir
Poucos são tão únicos como este.

Entre tantas as pessoas nesse mundo
Que se pode conhecer
Poucas são tão humanas como este.

Um canto onde o soar da cuíca
mescla-se às sensações das almas
Que lá se encontram.

Quando o bater do tambor
Acompanha o ritmo
Dos corações apaixonados.

Quando o balançar do pandeiro
Confunde-se com o sacodir das cinturas.

Quando as cordas do violão
Fluem tanto quanto o remexer de cada corpo
Numa sintonia musicada.

Dão sorte aqueles que, em algum momento de suas vidas,
Tiveram a oportunidade de lá estar.
Mais sortudos ainda são aqueles que encontram um outro
Par de pernas cansadas, mas felizes, para fazer companhia ao seu.

Encontram, também, um porto, onde deságuam seus sentimentos.
Um alguém especial, para dividir o amor que sem tem a dar.
Um boca sedenta, que acompanha o tocar nos lábios alheios
como se um só fossem.

Este lugar não está no céu, mas é meu paraíso.
Não está no inferno, mas é minha perdição.
Falo, meu amigo, de uma roda de samba.

domingo, 4 de maio de 2008

Desligar-se do inevitável

Ela está em todos os lados. Presente em todos os meios de comunicação, desde jornais até ‘palm-tops’. Todos se comovem, revoltam-se, chocam-se. O que isso seria? Uma notícia. Uma notícia que, de cruel e triste, tornou-se o espetáculo protagonista do Circo de Horrores, chamado Brasil.
É fato que todos, independentemente de qualquer distinção que possa haver entre as pessoas, já sabem do que se trata e estão, provavelmente, exauridos de tanto ouvir, ler e assistir sobre o caso. Para deixa-lo mais claro e objetivo possível, fala-se da menina Isabella. Sim, a Nardoni.
Desumano? Foi. Monstruoso? Também. Incompreensível? Inclusive. É um acontecimento que merece, realmente, atenção e que deve levar à reflexão sobre o rumo que a sociedade toma. Porém, mesmo sendo tudo que foi dito, não é permissível que transformemos o mesmo em um espetáculo, a que todos assistem muito revoltados (oh!), mas acomodados em seus sofás.
Hipocrisia? Provável. Comodismo? Com certeza. Passividade consentida? Também. São essas algumas das principais características fundamentais, notadas pela perícia social, feita nos brasileiros. Em vez de buscar incontáveis hipóteses, por que não se preocupar com os reais problemas, por trás dessa espetacularização? Por que não tentar enxergar não só as conseqüências do problema e combater as suas causas? Ora, cansaria demais. É mais simples, e aparentemente eficaz, mostrar-se boquiaberto e cho-ca-do. Não é?
Não há grandes problemas na paixão do brasileiro, em geral, pelas novelas. É preocupante, sim, a conversão de casos da vida realíssima em meros folhetins das nove. E é exatamente isso que está sendo feito. Como se previsível e esperado, todos aguardam pelas cenas do próximo capítulo, com uma pequena diferença: nessa novela, o final jamais será feliz.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Metalingüisticamente

Confesso que já não escrevo há tempos... De fato, uma série de circunstâncias consideráveis pode vir a atrapalhar a produção literária de uma pobre ser humano (afinal, ainda não inventaram máquinas criativas suficientes para fazê-lo). Dentre elas, há as mais óbvias e conhecidas por todos, mesmo que não pratiquem tal atividade: falta de assunto ou de inspiração. Ora, reflitamos e convenhamos, assunto é uma fonte inesgotável, pra quem dele sabe fazer bom uso; e não há assunto ruim, e sim o mal analisado e abordado. Inspiração? Ok, realmente, não é encontrada em toda esquina, mas também não sofre de extinção, ainda.
O maior impedimento a um texto, bom ou apenas útil, é a passividade do autor diante dos obstáculos. Escrever verdadeiras obras literárias, quando se está a flor da pele? Fácil. Quero ver tirar coelhos do coração quando a vida nos tira até o tempo para submeter-nos aos sentimentos. Seja por uma rotina corrida, ou por um excesso de racionalismos, há fases em que as emoções parecem acanhar-se, devido a razões que até aquele que deveria sentí-las desconhece. Desesperador, para alguns, aliviante, para outros, mas comum a todos.
O que fazer?
Pois bem, se soubesse a resposta precisa, resolveria boa parte dos problemas emocionais que tanto assolam os terapeutas de plantão. Quando não nos sentimos hábeis a constituir um bom texto, por que não escrever sobre essa aparente incapabilidade? O resultado por impressionar.

E me impressionou.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Marrom no Branco

Nada parecia fazer sentido. Aquilo que, um dia, me deixava extasiada de felicidade, hoje, apenas faz lembrar-me de como era bom gargalhar do mais estúpido. Sabe aquela sensação única de calma, serenidade, mesmo quando nem tudo a nosso redor está às mil maravilhas? Não sabia mais onde achar. Vida profissional? Fiz pós-graduação em “empregos desestimulantes”, e mestrado em fracasso. Vida Amorosa? De que merda de amor se fala? Um amor repleto de egoísmos, de defeitos, de obstáculos que se multiplicam a cada superação? É esse o tal do amor tão declamado, cantada e perseguido? Prefiro ficar vazia, então. Preparava, calmamente, seu diário chocolate quente, como alguém que assiste à morte de seu maior inimigo: fria e meticulosamente. Encarava o desmanchar do creme, em meio a tanto leite e chocolate, como a sua própria vida: se esvaindo e fragmentando, por entre um espaço de onde não se pode fugir. Olhar ao redor? Procurar por saídas? Inútil. Lúdico. Tolo, com exceção de uma alternativa: agarrar nos milhões de diferentes grãos de chocolate, e tentar o nunca antes experimentado. Arriscar em favor de pequenas oportunidades de salvação, mesmo que não se tenha a menor perspectiva de sucesso. É isso! Não é? Bom, pelo menos, eu espero que seja. Só me falta, agora, encontrar os grãos de chocolate por fora do bule. Difíceis de ver, sim, mas unicamente doces quando encontrados. E eu quero os meus de volta. Hoje, e sempre.

domingo, 16 de março de 2008

Conexões

Nove meses de espera e, quando nascemos, o fazemos com um estridente choro inaugural. Sábio para um recém-nascido, afinal, já começa praticando algo que fará muitas outras vezes.
Estar vivo e ativo é, inquestionavelmente, uma porrada (sic) atrás de outra, com eventuais tombos e bombas, ao longo do caminho. Ao virmos ao mundo, parece que nos atiramos em um longo e infinito campo minado, recheado por armadilhas e arapucas. Dentre essas, uma das mais comuns é conviver com expectativas. Antes das más interpretações, disserto: lá estão elas, sempre, a todo tempo, dispostas aos montes. As expectativas são, de fato, atraentes como um pote de doces a uma criança, uma certeza a um adolescente, ou a felicidade eterna, ao adulto. Porém, diferentemente de suas comparações, as expectativas podem ser muito mais traiçoeiras do que simples balas e chocolates, moleque.
Sem elas, não há como evoluir. É elementar, básico, quase matemático. Sem elas, não se move, não se escolhe, não se acerta nem se erra. Em síntese, não se vive, apenas existe, como um peso de papel, ou como uma pedra, em meio ao nada. São essenciais, portanto, para quem quer fazer de suas férias nesse campo de batalha, que é o viver, algo útil e memorável.
Com elas, entregamo-nos a um outro infinito, mais colorido, cheiroso, tátil. Quase encantado. Há mil e uma possibilidades, todas realizáveis e perfeitamente possíveis de tornarem-se reais. Uma delícia! Mas, ao fazer o que se deve, é recomendado –e necessário- precaução.
Cuidado, sim, pois se é envolvido por todo um universo paralelo de fantasias e múltiplas-escolhas (sem ter que marcar um xis sequer; pelos menos no começo), e se perde por dentro dele, não realizando o que era pra ser efetivado. Viajamos e viajamos no que pode ser, no que poderia ser, sem nos concentrar no que será, de fato, sem hipóteses, sem ‘se’ e ‘caso’. E, quando a realidade nos puxa, com toda a sua força já por nós conhecida, levamos um bom tabefe na cara, como uma injeção de cafeína pura: acorda!
Eis mais uma questão sem conclusão; mais um prato sem receita; mais uma interrogação, sem ponto final, mas rebatida com outra pergunta. Independentemente de todas as conversas de botequim, todas as convenções e conferências da Filosofia, não se confeccionou, ainda, uma resposta objetiva à pergunta que não se quer calar, e que cala todos: usar ou não da vasta disponibilidade de expectativas no nosso próprio mercado imaginário? Sem baboseiras inconseqüentes de “se atire como se fosse num precipício, sem olhar pra trás” e agregados, cheguei à seguinte conclusão: como filhos, nossas expectativas são surpreendentes e devastadoras. Se não tê-las, como sabê-las? E eu, particularmente, não me atrevo em não as ter.

terça-feira, 11 de março de 2008

Sem Querer

Não quero muito.
Não exijo demais.

Na minha inconfortavelmente deliciosa condição de apaixonado, apenas me contento com o pouco, que me dás, que se transforma em o suficiente, pra mim. Por mais torturante que seja, me contenho com o que sinto. Com o que imagino. Com o que vejo.

Sinto meus olhos nos seus. Vejo meus pensamentos em você. Imagino minha boca na sua e minhas mãos, entrelaçadas às nossas. Platonismo ou não. Paixonite ou não. Sinto-me bem, quando você assim o está. Sinto-me inquieto com a sua inquietude. Radiante com o seu entusiasmo. Condicionado ao seu sorriso, afogado por suas lágrimas. Bobo, fascinado e embasbacado? Não, apenas.

Sou, também e principalmente, louco por você.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Pura Biologia?

Um caldeirão de sensações e sentimentos. Essa é, a meu ver, uma das mais fiéis definições do que é o Homem. Complexo, denso, mesclado e tudo mais que vem dentro desse turbilhão de emoções e sentires. Decodificar o que se sente pode não ser a parte mais difícil, para alguns. Está-se percebendo algo estranho, que pulsa nosso coração com cada vez mais força, e chacoalha nossos pensamentos com cada vez mais intensidade. Pára, analisa, e descobre, em tese, aquilo que se está sentindo.
Sentir, sentir, sentir. Não importa quantas vezes se escreva, quantas vezes se fale, ou quantas vezes o tenhamos; vai ser sempre um elemento presente dentro de nós, reconhecível ou não. O pior é quando se reconhece uma emoção, e essa, por sua vez, é definitivamente patética. Sem querer ofender aquilo de mais preciso que temos, mas, algumas vezes, vemo-nos bobos, infantis, estúpidos, por estarmos em determinada situação, mesmo quando se tem a capacidade de racionalizar os fatos, e comprovar o quão sem-sentido é o nosso estado.
E agora, cowboy? Depois de muitas tentativas, acho que não há o que se fazer. Simples assim, sim: por mais que se pense, por mais que se esforce, um sentimento só é superado por outro, semelhante ou oposto. A razão, em casos de coração, nada mais é do que o resultado inútil, de um impotente bolo de neurônios.

sábado, 1 de março de 2008

Sensatez Moderna

Uma manhã úmida, um corpo quente, travesseiros brancos.
Acordou quase enforcada pelo próprio lençol, com um braço dormente. Num impulso, ergueu seu corpo e sentou-se, fazendo as molas pularem.
Disse: “É hoje. Hoje!”
Pensou em todos os benefícios que seu ânimo matinal traria.
Reconheceu, além desses outros, os prós, contras, e o necessário para fazê-lo.
Recolheu forças pra pôr os pés sobre o frio chão adormecido.
E, depois de tanta relutância, voltou a se deitar.
Afinal, trocar a realidade por sonhos e pesadelos, às vezes, é o melhor a se fazer.

Ludicamente racional.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Seja o que for

Pensando em balões, lembro-me dos rodeios inesperados que a vida nos dá. Reflito sobre amizades, e o que as faz ativas e pulsantes: conhecemos novas pessoas, com novos pensamentos e objetivos a alcançar. Tornamo-nos íntimos, próximos, semelhantes e, então, a amizade surge. Mas, afinal, o que há de se fazer para manter essa relação com o mesmo ardor de antes? Existe, de fato, alguma atitude a tomar, para evitar que as amizades se esvaiam, com o tempo?
Vejo as relações entre indivíduos da seguinte maneira: somos todos balões, com cores, tamanhos e texturas diferentes, e com laços que nos prendem e nos trazem a realidade. Ao conhecer novos, estamos comprimidos em um ambiente, um circunstância, um episódio que nos trouxe juntos. E, ao girar do globo, é como se um grande recipiente, repleto de balões distintos entre si, fosse aberto, e todos os conteúdos de outrora se espalhassem pelos ares. Aquilo que, certa vez, manteve-nos juntos, transforma-se, e nos é dada outra configuração a seguir.
Restam, portanto, apenas as verdadeiras amizades. Aquelas que foram sentimentalmente cultivadas e que, mesmo com as novas experiências pelos céus, se conservam e prolongam-se. Os verdadeiros amigos são como balões, presos a nós por seus laços e que, mesmo nos esbarrando uns ao outros, por vezes, sabemos que a conexão é mais forte do que um conflito qualquer. Com os verdadeiros companheiros de estradas, dividimos a confiança e o conforto. Dividimos o mesmo elo que, esticado por metros ou milímetros, resiste da mesma forma.
Sempre.


À minha amada revisora de textos.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Realidade em cena

Eu juro que eu tento, mas, a cada novo ‘reality show’ (com o mínimo de qualidade e decência), eu tento ficar longe das telas, quando esse vai ao ar. Inutilmente; pois eles são mais fortes do que a minha vontade de parecer ‘cult’ o suficiente...
Analisando, então, os participantes de cada um que conseguiu prender a minha atenção, eu percebi que, entre todos eles, a bandeira erguida é sempre a mesma: “Eu só estou sendo eu mesmo!”. Venhamos e convenhamos: ninguém consegue manter a sua originalidade essencial, quando se está à disputa de um gordo prêmio em dinheiro, ou um outro, que vem com o tempo, e dura efêmeros 15 minutos.
Além dessa, será que todos aqueles jovens sabem, de fato, o que eles são? Se, quando na realidade das ruas, todos nós incorporamos e interpretamos incontáveis papéis e funções, buscando nos adequar às mais insanas situações; não será sendo assistido por uma quantidade surreal de pessoas que não iremos fazê-lo. Tenho que confessar, porém, que esses programas não são totalmente inúteis: percebi que esses ‘reality’ são, de fato, retratos da realidade pela qual todos nós passamos; afinal, são vários atores do cotidiano, à procura do melhor roteiro que os leve a vencer.
It’s all about winnig, after all.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Quando as Serpentinas Pousam

Mas o povo brasileiro é um bicho muito engraçado, mesmo. O mais engraçado, ainda, é quando essa curiosa formação beira a hipocrisia. Tudo bem que cada brasileiro, esteja ele no último andar de um prédio paulista imenso ou em baixo da terra, é simpático, hospitaleiro, cosmopolita e toda aquela ladinha nacionalista de que nós já estamos exaustos de ouvir. Tudo bem que a “mixagem” racial, originária daqui, é única e mal usada por aqueles que nasceram dessa mistura. Tem qualidades, tem defeitos, como outro povo qualquer. Agora, uma postura que me irrita os nervos é se vestir com a decência, a compostura, o conservadorismo ao longo do ano inteiro e, quando se chega a Fevereiro, é tudo ignorado e pisoteado por foliões quimicamente preenchidos. Esquece-se de todos os tão prezados valores de moral e bons-costumes, põe-se uma outra máscara (dessa vez, de onça, Bush ou Bin Laden) e cai-se na folia. Tudo bem, de novo, que o carnaval é uma entidade nacional, que representa toda uma cultura secular. Tudo bem que é um momento de alegria extrema e que dura instantâneos quatro dias (dependendo do estado de que se fala). Mas que é hipócrita, isso é.
Não. Não detesto carnaval; admiro, sim, o ânimo e a paixão de muitos por Ele. Também não detesto o meu próprio país, muito pelo contrário: é uma relação de amor e revolta. Amor por aquilo que nos rodeia e que, mesmo reclamando, por vezes, não conseguimos viver sem. E revolta por aquilo que não pudemos mudar... Afinal, se fosse possível mudar tudo aquilo de que não gostamos no nosso meio de vivência (no meu caso, de sobrevivência, também), atingiríamos a sociedade perfeita, e não a que se construiu. O sonho de consumo de Marx. Consegue imaginar? Eu consigo, e que puta saco ela seria.

Deixa o meu Brasil como ele está, oras.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Sinfonias

A raça humana é, de fato, cômica... Eu sei que já devo ter escrito um número de textos sobre ela proporcional à sua quantidade sobre a face da Terra, mas não me canso de discutir seus sintomas de TOC agudo. E, com seus estranhos hábitos, criaram-se verdadeiros abismos invisíveis, que todos sabem que existem, mas insistimos em renegar os pobres fatos. Nessa hipocrisia, há alguns elementos inclassificáveis que, milagrosamente, reúnem os mais diferentes tipos de Homens, morando esses aqui, lá, ou não se sabe onde: uma dessas entidades é a Música. É, essa mesma; aquela que, de onipresente, está em cada esquina, de cada cantinho obscuro do Mundo. Dispensando línguas, idiomas ou tradições, é uma das poucas misturas que consegue reduzir aqueles abismos a pontes, e fazer dos semelhantes mais parecidos, afinal. Ultrapassa a pura audição e invade cinco e todos os outros sentidos de quem com ela tem contato e se entrega às notas e letras. Aproveitemos, então, essa poção mágica que nos foi dada aos montes, mas sem possibilidades de clonagem ou cópia que se preze; nem hoje, nem nunca.