terça-feira, 27 de maio de 2008

Estampado na cara

Entre tantas situações pelo mundo afora, para se ter vergonha, as pessoas a têm de estar amando, de demonstrar seus sentimentos, de serem felizes. Sentem vergonha de falar o que pensam, de ouvir o que outros dizem, de ser quem são, sem jogo de palavras ou estilos discretos e blazé montados à rua, e desmontados à frente do espelho.
Em vez de se sentirem incomodadas com um menino que tem a calçada como cama, um papelão como travesseiro e uma camisa e uma bermuda, como guarda-roupas. Não, preferem sentir-se mal com uma celulite, um cabelo crespo, ou uma unha mal feita.
Parecem crianças inocentes, por não pôr em prática a visão que desenvolveram, acerca do futuro. Lembram adolescentes imaturos, que só se importam com o que os outros acham, e nada mais lhes interessa. São, na verdade, adultos. Mesmo que não o pareçam.

Vergonha deveriam ter, sim, de ser da maneira como estão sendo. Não que assim tenham nascido, ou sido criados, mas desse jeito deixaram que se moldassem. Nesse caso, há de se admitir que o sistema tem, de fato, culpa no cartório. Mas, afinal de contas, quem criou o sistema em que se vive?

Eis a questão, tão fácil de ser respondida, mas solenemente ignorada.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Um pouquinho de Brasil

Entre tantos lugares nesse mundo
A que se pode ir
Poucos são tão únicos como este.

Entre tantas as pessoas nesse mundo
Que se pode conhecer
Poucas são tão humanas como este.

Um canto onde o soar da cuíca
mescla-se às sensações das almas
Que lá se encontram.

Quando o bater do tambor
Acompanha o ritmo
Dos corações apaixonados.

Quando o balançar do pandeiro
Confunde-se com o sacodir das cinturas.

Quando as cordas do violão
Fluem tanto quanto o remexer de cada corpo
Numa sintonia musicada.

Dão sorte aqueles que, em algum momento de suas vidas,
Tiveram a oportunidade de lá estar.
Mais sortudos ainda são aqueles que encontram um outro
Par de pernas cansadas, mas felizes, para fazer companhia ao seu.

Encontram, também, um porto, onde deságuam seus sentimentos.
Um alguém especial, para dividir o amor que sem tem a dar.
Um boca sedenta, que acompanha o tocar nos lábios alheios
como se um só fossem.

Este lugar não está no céu, mas é meu paraíso.
Não está no inferno, mas é minha perdição.
Falo, meu amigo, de uma roda de samba.

domingo, 4 de maio de 2008

Desligar-se do inevitável

Ela está em todos os lados. Presente em todos os meios de comunicação, desde jornais até ‘palm-tops’. Todos se comovem, revoltam-se, chocam-se. O que isso seria? Uma notícia. Uma notícia que, de cruel e triste, tornou-se o espetáculo protagonista do Circo de Horrores, chamado Brasil.
É fato que todos, independentemente de qualquer distinção que possa haver entre as pessoas, já sabem do que se trata e estão, provavelmente, exauridos de tanto ouvir, ler e assistir sobre o caso. Para deixa-lo mais claro e objetivo possível, fala-se da menina Isabella. Sim, a Nardoni.
Desumano? Foi. Monstruoso? Também. Incompreensível? Inclusive. É um acontecimento que merece, realmente, atenção e que deve levar à reflexão sobre o rumo que a sociedade toma. Porém, mesmo sendo tudo que foi dito, não é permissível que transformemos o mesmo em um espetáculo, a que todos assistem muito revoltados (oh!), mas acomodados em seus sofás.
Hipocrisia? Provável. Comodismo? Com certeza. Passividade consentida? Também. São essas algumas das principais características fundamentais, notadas pela perícia social, feita nos brasileiros. Em vez de buscar incontáveis hipóteses, por que não se preocupar com os reais problemas, por trás dessa espetacularização? Por que não tentar enxergar não só as conseqüências do problema e combater as suas causas? Ora, cansaria demais. É mais simples, e aparentemente eficaz, mostrar-se boquiaberto e cho-ca-do. Não é?
Não há grandes problemas na paixão do brasileiro, em geral, pelas novelas. É preocupante, sim, a conversão de casos da vida realíssima em meros folhetins das nove. E é exatamente isso que está sendo feito. Como se previsível e esperado, todos aguardam pelas cenas do próximo capítulo, com uma pequena diferença: nessa novela, o final jamais será feliz.