sexta-feira, 15 de maio de 2009

Monólogo de Dois - Parte XIX

Olha, depois de tantos anos quebrando a cara e remontando o coração com tantos relacionamentos, eu tirei tantas conclusões que meu livro de auto-ajuda iria vender mais do que Bíblia. Mas, enquanto eu não o escrevo, fico pensando mesmo. Uma das certezas que eu tirei é a de que é muito mais angustiante e difícil reencontrar um ex do que encontrar um possível futuro namorado. Mesmo que conhecer um cara legal possa me deixar louca de nervoso, fazendo com que, obviamente, eu me erre toda, rever um cara que foi legal comigo, mesmo que tenha me destruído por dentro, é ainda pior. Ainda mais quando a gente não sabe bem se ainda sente alguma coisa por ele.

Na melhor das hipóteses, você pode programar o reencontro, mesmo que o dito cujo não saiba. Aí, que que você deve fazer, benzinho? Se emperequetar toda, mas sem exagerar e virar uma passista de escola de samba, pro rapaz não pensar que ele conseguiu te enlouquecer a ponto de você não saber mais se vestir. Deve-se colocar um punhado de boas roupas, uma xícara de maquiagem básica – eu disse básica -, e quatrocentos quilos de auto-confiança, mesmo que disfarçada. Sem essa última parte, querida, tudo o que vem antes é inútil. Com a receita pronta, fica muito mais fácil se dar bem nesse reencontro, mesmo que você saia arrasada dele. Se for o caso, pelo menos saia arrasada e bem vestida, né? É muito mais bonito estar na merda quando se está no paraíso no lado de fora.

Agora, se o encontro for de supetão, assim, de repente, há pouco a ser feito. Desculpa, mas é a realidade, queridinha. Se for na volta ou a caminho do trabalho, é legal se mostrar estressadérrima e ocupadérrima com seu emprego, pro rapaz ver que você tá envolvida com outras coisas, mesmo que tudo naquele maldito escritório te lembre dele. Voltando do trabalho, uma mexida no cabelo, pra colocá-lo num lugar decente, não faz mal. Até porque o poço de machismo que você ousou namorar nem vai reparar na sua tática. Diante disso, é tentar sempre se mostrar muito bem resolvida, né?

Mas, por favor, não vá me inventar de fazer piadas. Aliás, eu, Priscila Ferreira Becker, não posso NUNCA fazer piadas, quando eu tô tensa, cara. Minha nossa senhora, mas só sai besteira! Na melhor das hipóteses, eu consigo não me embolar na minha fala aceleradérrima e até monto um comentário engraçadinho, daqueles que você faz com seu vizinho barulhento numa manhã de um domingo chuvoso. Agora, o desastre pode ser bem pior, com certeza: gaguejo tudo, troco as pessoas da piadinha, tento me consertar, fica pior ainda e, nesse meio tempo, a pessoa já tem que ir embora pra algum canto.

Mas sejamos realistas: pouco importa, afinal, como o cara vai achar que você tá, se você, a pessoa desesperada, fica mal. Não interessa, temos que nos preocupar, sim, com o nosso estado de espírito. Se possível, a gente faz uma pose de bem-com-a-vida, desde que se dê mais valor aos verdadeiros sentimentos. Falando em sentimentos, como é que a gente faz, então, quando o reencontro só te mostra que ainda rola alguma coisa?

É impressionantemente irritante. O cara pode ter a-ca-ba-do com a sua vida, te deixado no fundo do poço, sem nem uma cordinha pra te puxar. Não importa. Eu, a princesa Aurora dos relacionamentos – sem nenhum príncipe Felipe que cante pra mim, que fique claro -, consigo esquecer tudo que ele me fez, naqueles dez minutos de reencontro, e simplesmente me transporto praquele tempo em que tudo era um mar de rosas, margaridas, todas as flores que possa imaginar. Parece que eu me desligo da memória ruim e me seguro na boa, sabe Freud lá por quê. Aí, pronto, faço cara de idiota, fico toda derretida, e deixo claro pro cara que, sim, ele ainda pode me ter, mesmo que eu faça de tudo pra não deixar isso acontecer.

Muitos me dizem que eu devo parar de fazer o estilo caranguejo e andar pra frente mesmo, buscando novas experiências e deixando essa velha pro álbum de fotos. Dizem que eu tenho que me gostar mais e procurar a felicidade. Mas e se a felicidade que eu tanto procuro estiver do lado daquele cara que, apesar de tudo, pode ser o MEU cara? E se, mesmo com todos os problemas, é pra gente estar junto? Quem garante que o certo é sair correndo pro próximo namoro?

É. Ninguém garante. Será que a vela a pena tentar de novo? Não sei, mas vale a pena arriscar pra saber. Pelo menos, na pior das hipóteses, se a volta for uma péssima idéia e tudo der errado, a gente pode cagar baldes pro próximo reencontro e eu vou ter mais um capítulo pro meu futuro-já-fracassado-best-seller.