domingo, 13 de dezembro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXXII

É uma coisa muito irritantemente engraçada mesmo. A gente, quando tá sozinha, no prático estado civil ou no coração, vai ao cinema, assistir a um filme super mela-cueca, mela-calças, calcinhas, casacos e acessórios, chegando ao ponto de gargalhar em algumas cenas. Você e outras amigas (não nos diria, jamais, amargas, mas realistas, por assim tomar) metem o pau naqueles encontros impossíveis no metrô, nas juras de amor trocadas e, em algumas vezes, destroem, sem piedade, uma trilha sonora um pouco mais fofa. O fofa, aliás, super irrita a quem não está... Numa fase nada fofa. Eis que tudo aquilo que era motivo de piadas, de um humor negrérrimo por evidência, salta das telas, estapeia a sua cara desconfiada e, pronto: você é, então, o seu próprio ex-motivo de piadas.

É uma situação tão inesperada quanto o rolo de um filme se partir no meio, ou receber uma pipoca na cabeça, vinda de um favelado atrás de você (só pra constar, Priscila, se nos cinemas aos quais você tem ido isso acontece, meu bem, vamos trocar de shopping). Mais do que de repente, você faz uso daquele ótimo e muito útil zoom pessoal (quando consegue sair do seu próprio corpo e observar-se friamente) e repara que, pra você ser a própria história de “Um Amor pra Recordar”, só falta morar num buraco em Ohio, ainda acreditar na utilidade de tatuagem de hena e ser muito cafona nas roupas. Porque, de resto, você tá se enquadrando em todos os pré-requisitos do teste. Fazer aquela voz fofa-retardada-infantil vira outra simpática-uma-coisinha-só-de-vocês-dois. Em plena sexta-feira, o programa-de-velha-encalhada-ou-da-sua-mãe, quando vão só ao um restaurante, comer uma coisinha (outro fator de EXTREMA irritação, diminutivos; mas esses continuam irritantes) passa a ser o momento-de-privacidade-mais-legal-do-que-qualquer-noitada. Você se empolga e, às vezes, nem nota que, querida: você é a própria Sabrina, a Holy em pessoa, e, em alguns casos mais críticos (curáveis, no entanto), a Maria do Bairro brasileira.

Vê, então, que os antigos motivos de piada são, agora, motivos de taquicardia emocional. Vê que o humor mais seco se embebe todo de uma melado rosa pink; uma magenta, pras mais refinadas, também serve. Vê que você... É quase outra pessoa, se for comparar os seus gostos de hoje com os de ontem. Melhor: as suas prioridades de apaixonada (loucamente, mas achada, não perdida) e as de não-apaixonada (perdida, mas não loucamente). Hum, que coisa estranha. Outra pessoa? Se minha terapeuta (sim, Priscila, hoje, com a crise econômica mundial, é super normal usar a sua melhor amiga como psicanalista) me ouvisse chamar a mim de outra pessoa, iria me matar. Que é isso, afinal?

Simples, mas complexo: é você, ainda, só que com outro alguém que, nessa cena da vida real, completa a parte que faltava. Sem aquela baboseira de alma gêmea (como se ainda fosse útil salvar-se da cafonice melada nesses pensamentos todos), é um outro que combina com você e mostra que o fofo-irritante, até então, pode ser muito bem-vindo.

Mostra que ficar o sábado inteiro de sol, em casa, fazendo comida, vendo televisão, falando besteira, dentro de um pijama antissocial, vendo coisas inúteis na internet, rindo e sorrindo sem dar dor no maxilar pode, sim, ser não só possível, mas muito bom também.

Mesmo com isso tudo, a gente ainda mantém o mínimo de originalidade, claro, o básico pra poder dizer ao Orkut quem você é (pergunta mais existencial na atualidade, convenhamos). Guardadas as devidas exceções entre o cinema e a vida que ele retrata (fielmente ou não), você pode dizer, sim, que ta exatamente no meio do caminho nessa importação e exportação entre a sétima arte e primeira de todas: viver.

E essas novidades todas devem vir do que a gente tanto procurava, munidas do nosso humor negro e das nossas super noitadas. Vai ver que a gente acabou de achar não precisamente aquilo que tanto queria encontrar; mas uma outra coisa que a gente nunca pensou em achar, mas que nos surpreendeu. Sendo brega ou não, a melhor postura, nesses casos, só pode ser uma: aproveitar que você foi aprovada no teste do seu próprio filme, agarrar a chance, fazendo as nossas cenas, os nossos remakes, as nossas edições. Acreditando que, apesar de não parecer, é possível ter o nosso próprio filme melecado e romântico. O que vai acontecer ao longo dele, só o diretor sabe (que, nesse caso, não existe). De qualquer maneira, eu é que não vou desperdiçar o meu ingresso.

Afinal, por que eu não posso ser uma Iris de mim mesma?

domingo, 6 de dezembro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXI

A volta dos que não foram.

Dos 7 Pecados Capitais até hoje estamentados, eu acho que a gente deveria criar mais um 7. Melhor dizendo, acho que uns 77 a mais, quem sabe, iriam dar vazão a todas as besteiras que a gente faz na vida e que, pelo seu sempre final trágico e herege, deveriam ser terminantemente punidas pela igreja. Não pela católica, óbvio. Mas pela igreja de todos nós, mocinhas e mocinhos, fiéis ao amor perfeito. Ou, pelo menos, ao pouco imperfeito.

Uma dessas posturas (praticada por mim em quase todos os meus namoros, ficadas, rolos, enrolos e indefinições sociais) é a maldita teimosia. Eu, na minha subconsciente pretensão e soberba, meto-me uma coisa na cabeça e só tiro de lá em dois casos: ou quando eu conseguir fazer o que quero, ou quando o insucesso chega a um ponto em começa a me fazer mais mal do que bem. E, em relacionamentos, essa cisma toda aparece em várias situações, mas em um, em especial: no querer (ferrenhamente, em alguns casos) mudar o outro, mesmo sabendo que isso é terminantemente impossível. Mesmo depois de todas as regras e tipos esclarecidos, ou seja, o que é aceitável e o que o outro tem como hábito imutável. Mesmo estando a par de tudo o que pode acontecer, você, burramente, fecha os olhos pra realidade e acredita na sua (in)capacidade de fazer tudo virar flores e borboletas.

A coisa vai mais ou menos assim: a gente conhece alguém que, mais do que naturalmente, tem as suas diferenças, defeitos e qualidades. O talento de um bom namorado ou boa namorada seria justamente conseguir lidar com as oposições e distinções que encontra no parceiro, certo? Pena que o mundo não perfeito. Pra ninguém. Diante daqueles contrapontos, eu faço de tudo, se gostar mesmo da pessoa, pra tentar me adaptar ao jeito dela de ser. Me condiciono a abrir mão de várias preferências minhas, experimentar novos programas (sociais ou na cama), ver gente nova, fazer coisas novas. A gente ta junto é pra isso mesmo! Pra evoluir, como pessoa, e melhorar, como parceiro.

O engraçado é que, em alguns casos, a gente vai se ajustando ao jeito do outro pra, ironicamente, depois de tomada, querer fazer com que ele (ou ela) se molde ao nosso! Estranho? Louco? Sim. Muito. Minha cabeça, de tão exercitada e utilizada, acaba se esticando tanto que vira uma corda pra eu me enforcar, sendo cada idéia um pedacinho que a ocupa. Nessa loucura toda, a gente vai se desmontando, contando com que o outro, diante do nosso esforço em se adaptar, também vá se desmontar tanto quanto a gente. Ótima opção, hein?

O problema acontece justamente quando a gente perde a noção do que é aceitável e daquilo que já vira um pecado inconcebível. Contra nós mesmos. Nessa cisma toda por tentar se adaptar ao estilo de ser do outro, muitas vezes, mesmo sem perceber, a gente vai perdendo a ciência do que nós éramos, antes de tudo começar a começar. Mesmo que ninguém saia de um namoro igual a como entrou, é indispensável que a sua personalidade e as suas crenças se mantenham minimamente coerentes, oras! Afinal, quem é você? Se essa pergunta soar como um vazio, na sua cabeça, no meio de um namoro, corre pra sua igreja e vai rezar uma novena: a coisa tá feia.

Tudo se desmorona quando começamos a contar quantas concessões cada um fez. Nessa história toda de se modelar ao jeito do outro, NUNCA vai se saber quem abriu mão de mais coisas. Só e apenas aquele que passou pelas mudanças (buscando melhorar um namoro) sabe o quão difícil foi pra ele fazer aquilo.

Temos um impasse. Um obstáculo. Mais um, depois que tantos que um namoro, naturalmente, tem que enfrentar. Eis que, sem mais saber direito quem você é (e isso não sendo uma remodelagem de personalidade, mas uma perda dela), sem saber o que quer, direito, só resta uma opção: colocar na balança, clichê, mas verdadeira, pesando o lado bom e o ruim. Mesmo que haja muitos momentos legais, se esses estiverem sendo esmagados e trucidados pelos ruins (que, inevitavelmente, parecem sempre ser mais pesados), é hora de parar e pensar na sua religião.

Pensar na fé que temos em nós mesmos, não como religiosos que freqüentam cultos, mas na fidelidade com a nossa felicidade, com o nosso bem-estar, a curto e a longo prazos. Conformar-se que as coisas fogem ao seu controle, que você não vai mudar o mundo, muito menos o seu namorado. Entender que namoros dão mais errado do que certo. E que, diante disso, você só precisa evitar o máximo dos pecados: a teimosia, que leva a uma possível autodestruição.

Entre os tantos pecados que a gente comete (contra nós mesmos), só existe uma punição, que não inclui setecentas ave-marias: é quando se sente, na pele, o reflexo dele, do pecado, que cismamos em cometer, mesmo com todos os conselhos e experiências. Nesse caso, nem Deus, nem ninguém vai te ajudar terminantemente: só você, o Céu e o Inferno da sua própria existência.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXX

Complicado. Essa é a melhor palavra que pode, um dia, quem sabe, conseguir chegar aos pés de tudo que passa pela minha cabeça e, por isso, quase sempre, é exatamente o que eu faço. Os meus pensamentos, muito confusos ou claros até demais, que bloqueiam novas concepções, comandam integralmente as minhas atitudes e me compõem exatamente no que eu sou. Ou acho ser. Nessa altura da vida, não posso afirmar que sou isso ou aquilo outro. Acho que seria limitar um animal que pode, se deixado por si próprio, alcançar novos territórios e, neles, dominar a si mesmo. Falando ainda em pensamentos e idéias próprias, não há como negar: muito do que nós temos em mente parte, por incrível que pareça, da mente dos outros. O convívio é que o nos molda não só ao meio social, mas também ao nosso próprio meio social, de nós conosco mesmos. Não seria louca de, hoje, agora, com essa idade, me dizer assim ou assado. Aliás, não sei nem se, um dia, daqui a muitos dias, meses e anos, eu vou poder afirmar, com total consciência e segurança: eu sou assim. E ponto. Acho que, nesse caso, seriam mais cabível três deles juntos, reticências...

É bem verdade que cada um, impreterivelmente, tem a sua essência. O seu interior maciço. Uma parte, bem interna, que não pode ser modificada ou mudada. Acredito que o máximo que ele faça é usar novas formas de se mostrar, desde uma briga no parquinho, uma puxada de cabelo no maternal, um assalto à massinha do coleguinha. Desde um “não” que recebe de alguém, um “sim” que ganha como maior vitória do mundo, um “talvez” que permite a si mesmo. Em cada período disso tudo, novas experiências nos evolvem, nas quais agimos de formas distintas, dependendo das circunstâncias que vierem anexas a elas. Mas a essência, como já fala por si mesma, é essencial, tanto pela sua indispensabilidade quando pela sua originalidade e autenticidade.

Mesmo que isso tudo seja um fato, também a outros possíveis fatos que ameaçam, de certa forma, a tal da essência. Não a ponto de poderem anulá-la, mas atrapalham os que a têm a descobri-la. Ao decorrer dos anos, nessas novas situações, ficamos na dúvida em qual caminho tomar. Pode ser uma carreira pela frente ou uma boate versus um cinema. Desde as escolhas mais bobas até as mais relevantes, por vezes, a nossa essência se esconde de nós, ou nós a escondemos de propósito. Experimentamos, então, novas coisas, no mais amplo sentido dessas cinco letras juntas, nessa ordem. De tudo pra tudo. Quando aquela nova foge ao que achávamos que seríamos, vem a total instabilidade. É como se, sem um de verdade à sua frente, olhássemos para um espelho dentro de nós mesmos e, nele, não víssemos mais aquela imagem a que estávamos acostumados.

Mais uma vez, nesse caso, há escolhas a serem feitas, embora, nem sempre, os resultados tenham sido os previstos, ao optar por esse ou aquele caminho. A vida é suja, baixa, cruel e nua. Ela, quando de bom-humor, até permite que as suas previsões de concretizem. Mas, infelizmente, ela é mais uma eterna mulher com TPM intensa: emotiva, escandalosa, extremista, determinista, indefinida, indefinitiva. A gente a dança conforme a música. A dirigir conforme a estrada. Depois de errar os passos e de sair no acostamento errado, buscando um atalho, mudamos um pouco do tom da música e passamos pra pista do lado.

Adaptando o externo ao nosso interno.
Deixando que o de fora nos complete por dentro.

É isso o ser influenciável? Sim.
É problemático um ser influenciável? Não.
Somos apenas pequenas peças num enorme jogo de tabuleiro, no mesmo espaço, mas com regras totalmente pessoais e diferentes. Temos que nos encaixar, na maioria dos casos, mesmo que a nossa tal essência seja forte como só.

Ela tem a sua potência.
Mas o mundo fora dela também é tenso. E forte. E potente.

Vai ver que é uma eterna batalha. Daquelas sem um fim, de fato, ou sem fatos. A cada esquina, a cada nova música que a vida tocar aos seus ouvidos, a cada nova estrada que surgir no seu caminho, resta parar, olhar e decidir: o que fazer aqui? Escolher pelo já feito, pelo já testado e comprovadamente garantido? Ou ir pelo não muito bem conhecido, não garantido, mas também não totalmente condenável? Dar um gabarito fechado e indiscutível a essa pergunta é como aquela que questiona quem você é. Não há como delimitar uma resposta, e, se houver, espero que não dure muito tempo. Não vale a pena da vida e nem é justo se deixar prender às correntes que ela pode oferecer.

A minha essência, nesse caso, não me deixa entregar ao seu próprio empobrecimento.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXIX

Engraçado... Nessas minhas andanças pelas livrarias da vida (obviamente, enfurnada em um shopping, quando, lá fora, tiveram a brilhante idéia de fazer um “Dia da Bicicleta” em um tempo horrendamente chovoso) me toquei de que o que você mais encontra pelas estantes, além de milhões de livros de autoajuda comprovadamente de péssima ajuda, são os de romance. Ah, o amor! O mais nobre e plebeu dos sentimentos humanos. O mais amado e odiado de todos. Fonte inesgotável de histórias que vão desde Romeu e Julieta até uma patética entre um vampiro sedutor e uma babaca, nada-vampiresca, que cai como uma pata. Amores pra cá. Desilusões pra lá. Orgasmos do coração por todos os lados. Mas os autores, por vezes, esquecem alguns assuntos que são tão importantes, quiçá ainda mais recorrentes do que o tão procurado amor: a incapacidade de recebê-lo. Aí, querida, não há autoajuda que salve.

Todo mundo, sem exceções, está à procura do amor. Disso, ninguém escapa. Pode ser por amor entre pessoas. Pelo amor entre um alguém e a carreira. Até mesmo o amor entre um elemento e a sua tão prezada vida de desamores, só paixões. A verdade, estampada por todos os quatro cantos, é que qualquer ser humano, que tenho o mínimo de consciência da sua genialidade intelectualmente sentimental, quer saber do que se trata essa coisa toda. Muitos querem. Tantos quanto, às vezes, mesmo querendo, esbarram com uma escuridão que impossibilita, na hora, qualquer forma de achar o tão desejado amor.

Por medo? Por experiência passadas? Por egoísmo? Por ódio a si mesmo? Motivos não faltam na minha vasta cabeça de pensadora (mesmo que aplicada a tópicos retardados e inúteis) que poderiam justificar o porquê de aquele bendito indivíduo, ou aquela outra, não se deixarem levar pela paixão. Paixão, sim, como estágio inicial a um possível outro próximo: o tal do amor. Preguiça? Pode ser mais uma razão.

Nem tô falando só de joguinhos de relacionamentos, não, mesmo que eles se enquadrem perfeitamente em um dos exemplos mais freqüentes. Nesse caso, sim, por medo de se entregar, muitas pessoas criam e vestem um escudo dificilmente destrutível. Com ele, conseguem criar os mais embaraçados diálogos, inverter situações, calcular milimetricamente o que o outro vai fazer. Eo que o próprio vai fazer, também. Transformam o que duas pessoas têm (ou teriam) em um grande tabuleiro, na maioria das vezes, com as regras ditadas por um autoritário apenas que, mesmo que não seja verdade, acha sempre que tá ganhando de lavada. Pura distração pra não aproveitar o melhor prêmio de todo vencedor de um outro jogo: o da vida mesmo.

Esses hábeis jogadores se focam tanto naquelas regras pequenas e bobas, que acabam se esquecendo de outras ainda maiores e mais potentes. Regras, ao mesmo tempo, mundialmente conhecidas e pessoalmente modificadas: as suas regras; as regras do seu jeito de amar, que, convenhamos, são muito mais deliciosas e atrativamente perigosas do que umas efêmeras e reduzidas a pecinhas.

Qual é o grande problema que há em se sentir um babaca apaixonada? Eu, metendo o pau naquela menina do vampiro, coitadinha, mal sei como ela tá bem mais feliz do que, provavelmente! Qual é o problema, também, em se deixar levar pelos enlaces do coração? Mesmo que eles venham a se romper e deixar você cair, essa queda, por mais dura que seja, vai ser muito mais útil do que ficar se segurando, antes mesmo de tentar, não?

Em qualquer situação, não só nos relacionamentos já engatinhados, os que não conseguem se deixar amar são os mais dignos de pena. Aquele que amou, sofreu, chorou e voltou a amar merece, sim, o prêmio de melhor jogador, sem sombra de dúvida. Ele, ao menos, teve a coragem e autossuficiência de se pôr lá e ver no que daria. Já os primeiros, coitados, vão continuar batalhando.

E guerreando.

Mas, afinal de contas, essa luta toda, seja em que jogo for, vai ser dele contra ele mesmo.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXVII

A gente nasce, e já tem uma mãe, um pai; os dois juntos, ou não. Quando crescemos, temos nossos primos, irmãos, irmãs, sendo eles, por vezes, as mesmas pessoas ou não. Mais velhos, um pouco, as meninas sobem no salto e os rapazes descem no nível das cantadas e, nessa diversão agonizante, fazemos amigos. No trabalho, colegas. No prédio, vizinhos. No vôo, alguém do seu lado. Não importa o momento que analisamos, parece que sempre, sempre, vai ter alguém do nosso lado, esteja lá por muito tempo ou não. Parece, também, que, mesmo que queiramos, não conseguimos ficar sozinhos. E será, mesmo, que essa neura toda (nutrida por essa cabeça doente e mal escovada) faz sentido? Será mesmo impossível ser feliz sozinho?

É fato que muita gente responde que, sim, é impossível. Até porque, existe inclusive um dia que comemora e parabeniza aqueles que estão acompanhados: o temido e odiado (pelas solteiras) e amado e ansiosamente aguardado (pelas comprometidas) Dia dos Namorados. O mundo inteiro conspira a favor de sempre achar alguém pra você. E, se não aparece uma viva alma que sossegue o faixo por mais de dois jantares e um cinema ao seu lado, a própria se sente largada, mal-amada, acaba e... Sozinha. Qual é o grande problema nisso?

Pra falar a verdade, faz todo sentido ter alguém lá, que esteja por você e com você, nas horas boas e, principalmente, nas ruins, em que você desenvolve a capacidade de ser aquela que mais espanta qualquer companhia. A gente precisa, sim, de alguém pra chorar as mágoas, rir os risos, comer pipoca, fazer nada junto, falar besteira, dar e receber bronca. Enfim, alguém que também tenha uma vida – tão complexa ou mais que a sua – e que também necessite de uma companhia pra dividir as nossas cruzes do dia-a-dia.

Mas aí dizer que não tem como ser feliz sem alguém já é poesia-bossa-nova demais, pro meu gosto. Mesmo sendo muito útil ter alguém ali, não é crucial que essa pessoa sempre esteja lá, sentada, te esperando, ou com o telefone às mãos, pronta pra sua próxima crise, solucionável com alguns calmantes orais – não comprimidos, mas palavras -. Aliás, é tão importante quanto isso tudo ter um momento só pra você. Um não. Vários. Quiçá dias e semanas de solidão. Sem se sentir solitária. Mas, apenas, sozinha, por uns tempos.

Você consegue, então, muitas vezes, recolocar em prática tudo aquilo que a companhia te ajudou a fazer, quando ainda era impossível fazê-lo sozinha, de fato. Aprende que, no final das contas, é só você contra você mesmo; e que essa é a pior batalha a ser vencida, justamente porque você conhece, melhor do que ninguém, os competidores envolvidos: tu e você.

A felicidade é tão variável quanto os tipos de pessoas que existem no mundo. E se eu, um dia, conseguir ser feliz sozinha? E se aquela moça, que se separou de um ótimo casamento (pras outras), resolveu ser melhor ficar casada só consigo própria? O nosso foco de felicidade muda de tempos em tempos. E, assim, mudam também as nossas prioridades e dispensabilidades.

[...]


E agora, querida? Corre pra vida, que, já, já, dia 12 de Junho tá chegando! Me recuso a receber cartões da minha mãe e afilhada de novo, esse ano.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXVI

Depois de passar um dia todo pensando e repensando sobre uma calça, que, por mais linda que possa ser, não merece tanto uso de neurônios assim, você precisa dar um jeito nessa sua cabeça vazia, né, amor? Aliás, vazia, em parte: ela tá cheia, sim, mas cheia de problemas com os quais eu não to com a menor vontade lidar nesse exato momento. Nem agora, nem tão cedo. Sabe quando dá preguiça de pensar no que deveria estar pensando? Pois é. Essa coisa tem me perseguido desde que eu acordei hoje. E ontem. E anteontem. E olha que pensar é um dos meus mais amados hábitos, hein? Ta bom. Confesso. É um vício porco mesmo. Nessas reflexões todas, chega sempre a hora em que temos o maior embate do milênio. É tão grande, que acontece todos os dias, com milhões de mulheres em crise, homens à beira do exame de próstata e menininhas que mal sabem a merda em que tão se enfiando, quando perdem a virgindade: o racional versus o emocional. Chamar de clichê? É pensar demais.

Com o passar da vida e as quebradas de cara, nariz e agregados, a gente aprende, sim, milhões de novas coisas, na marra ou porque nossa mãe nos falou (essa segunda vamos combinar que quase nunca acontece). Errando aqui, tentando acertar acolá, a gente, cedo ou tarde, bem ou mal, vai se moldando às previsibilidades da vida e passa a usar essa cabeçorra (que tem que existir pra mais alguma coisa, além de passar oleosidade pro meu cabelo) e a converte em um chicote, com o qual você maltrata o pobre leãozinho que são os seus sentimentos. O problema é que esse indefeso bichinho, há, pode virar uma fera, mas do que repente.

Você até se acostuma a sempre se domar com os seus pensamentos. Fica boa até com eles. Viram melhores amigos. Mas, como todo bom amigo, uma hora, ele vai viajar, ou passa um tempo fora mesmo. E você? Fica sozinha, à mercê dos inimigos da estabilidade: os Sentimentos. Aí, pronto: você até consegue racionalizar as coisas, sabe que aquilo não vai dar muito certo, e que aquele cara é muito diferente de você, e que não, e não, e não: na cabeça. Mas quem disse que ela manda o tempo todo? Aparece um que aniquila toda a sua estratégia de contenção da sua própria barreira (emocional), que, do nada, desaba, como se tivessem tirado o chão do Rebouças.

Fica assim: você sente. Não quer sentir. Pensa que não quer. Tenta não sentir. Mas, quando tá mais desprevenida, vendo um filme bobo que ama ou ouvindo uma música que ninguém sabe que ta no eu iPod, ele volta, e puxa o seu tapete.

Fica assim: se entrega? Será que seus sentimentos também não pensam? Eles são seus, afinal de contas, não? Têm que ter alguma semelhança com você e não podem te sacanear. São de você. Não?

Quem foi que inventou que pensar sobre sentir é útil? Quem disse que sentir sobre o pensar dá certo?

Acho melhor, mesmo, eu me concentrar, agora, em pensar sobre langerie. Pelo menos elas são mais fáceis de domar, né?

(Até que você se olha no espelho, toda empombada com sutiãs e calçolas-à-Bridget-Jones e pensa em quem? Nos sentimentos de nojo pelo seu corpo).

Monólogo de Dois - Parte XXV

Toda temporada, é a mesma coisa. Quando um super loja carérrima lança algum produto novo e, logo depois, todas as fashionistas (de rua e profissionais) começam a falar que é a nova moda, pronto, todo mundo corre pras lojas da vida, das mais caras as mais estou-te-dando-de-tão-barato. Aí, minha filha, se segura, que lá vem história. E piada. E vergonha alheia. O problema dessas modas ditatoriais, vistas por muitos como um Deus do capitalismo a ser seguido, é que nem sempre – aliás, quase nunca – as tendências tendem a ficar bem na galera toda que resolve segui-las. Atualmente, a que tem mais me deixado enlouquecida é aquela bendita – pra alguns – e pessimamente mal dita – pra outros -. Já foi chamada de frauda-cagada, pano em excesso e, mesmo assim, eu amo de paixão. Pena que algumas pessoas também a amem: a calça saruel. Sobe o gavião e se prepara pro tricô.

Antes de mais nada, é necessário frisar que não é qualquer aleatória, ou aleatório, que vai ficar bem com a mais nova freqüentadora das vitrines. Sem querer estipular o que ou não usar, mas vamos combinar que pessoas baixinhas – nada contra – e um pouco acima do peso – eu! – não devem lotar o seu armário com várias cores, tons e tecidos. Se lotar, querida, deixa lá dentro mesmo. A calça, por si só, já reduz a estatura das pessoas que ousam colocá-la no corpo. Logo, em vez da calça, compra um espelho, pra ver o que fica bem em você.

Aliás, eu tava vendo umas, outro dia desses, procurando uma pra mim, e, menina, vi um modelo que me deixou espantada. Não de beleza, querida, pelo contrário, pela crueldade. Nossa, o gavião da calça ia até o pé da manequim! Sabe lá Deus como a pobre conseguiu andar até a ponta da vitrine. A estampa era bonitinha, até, mas aquele gavião, meu bem, não deixa ninguém sequer pegar um ônibus. Ou andar, simplesmente. Nada de abertura de pernas por mais de 2 graus.

Outra coisa importante, da qual eu não posso me esquecer: a blusa que você usa junto com a calça. Ou o top. Ou (nunca) a bata. A saruel já é bem larguinha e espaçosa, por natureza. Logo, por favor, amada Priscila, não venha me colocar um lençol pendurado no peito e me dizer que é conceitual e que passa uma idéia. Passa idéia, sim: da irmã gêmea do boneco da Michelin.

Ou seja, tudo tem um limite. Nada de exagerar demais e deixar a roupa completamente inutilizável, mesmo que ela tenha ficado linda, no papel. Esse é o problema, né? Agora, por exemplo, meu bem, você me diz: que que vai fazer com essa barraca de acampar que você armou no seu corpo, pela pechincha de 300 reais num pedaço de pano igual a uma toalha de mesa pra piquenique?

Nunca mais saio sem identidade ou uma amiga língua-afiada: preciso me lembrar que me chamo Priscila e não Kate Moss. E preciso ser lembrada de que as vendedoras acham até um vendedor de feira desdentado lindo.

E conceitual.

sábado, 22 de agosto de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXIV

Todos os dias, é basicamente a mesma coisa. A gente acorda, lava essa cara mal lavada que Deus nos deu, mergulha numa bacia de café extra forte e nada virgem e começa a deixar que a bendita agenda nos programe. Tudo milimetricamente programado pra que possa aproveitar ao máximo o seu dia, não necessariamente com um sentido positivo. Afinal, trabalho, contas, engarrafamentos, flanelinhas, banheiros sem papel higiênico e barriga grande (no seu corpo ou não) existem, né? A gente tenta e, com o tempo, consegue se organizar ao máximo, pra evitar que o mínimo de erros previstos e imprevistos aconteça. Até com os nossos futuros possíveis relacionamentos é assim. É bem capaz que, daqui a um tempo, eu tenha um anexo na minha super agenda eletrônica – da qual eu sei usar uma opção das milhões que vêm nela – o perfil do cara perfeito. Alto, mas nem tanto, até porque é bom alcançar a boca dele, de vez em quando. Simpático, mas não efusivo e indiscreto. Inteligente, mas não irritantemente genial, afinal, ninguém quer ficar ouvindo sobre Nietzsche ou a patologia do H1N1 numa mesa de bar. E a lista não tem fim. Mas, como se trata de uma vida e não de um livro de romance daqueles que vendem em bancas de jornal, nem sempre, aliás, quase nunca, o cara previsto e desejado – sabe-se lá por quê – aparece. Inclusive, é bem capaz que, nessa página da sua agenda, tudo dê errado e apareça um cara que, apesar de não preencher quase nenhum dos seus requisitos, preenche a sua cabeça e, quem sabe, o seu coração, quando você tá sentada numa privada sem papel higiênico, ou quando tá presa em um engarrafamento quilométrico. E aí? Rasga aquele anexo, bem.

Comigo, isso acontece direto. Ou até menos do que eu queria que acontecesse. Muitas mulheres, assim como você, minha cara Pri-Pri, planejam o cara perfeito, no encontro perfeito, no lugar perfeito, tudo no pretérito mais-que-perfeito. Imagina, sonha, ri de você mesma, mas continua achando que aquele perfil se encaixa perfeitamente com o seu. O problema é que, na maioria dos casos, você não sabe o que é o seu perfil, nesse quesito tão nublado que são os relacionamentos. Não que falte autoconhecimento. Na verdade, deve faltar mesmo noção de que você pode ir muito mais além do que pensa ou prevê.

Você não é nenhum vidente da vida pra saber o que vai te acontecer, na próxima vez em que, depois de uma noitada pra qual você se emperequetou toda, quase pra ir à premiação do Oscar, achando que iria achar O homem perfeito, e acaba conhecendo um não-tão-perfeito assim comendo um salgado bem gordurento – nada coerente com a sua roupa – depois da boate. Essas coisas acontecem mesmo. Graças a alguém, seja ele o cosmos ou Deus.

O problema é quando você se agarra naquele bendito estereotipo que acha, ACHA, que seria sua alma e corpo gêmeos e não se desgruda nem por um decreto papal. Começa, então, a se sabotar, voluntária e propositalmente, evitando enxergar o que um outro, nada cabível na sua lista de exigências, pode acrescentar a ela. O que eu tenho percebido, mesmo, é que esses são os mais interessantes e os mais surpreendentes.

Aceita, afinal das contas (de bar e boate), que aquele rapaz possa até ter uma chance com a sua linda e solteira pessoa. Reluta e se segura, no começo, achando que pode ir contra a maré do coração. Aliás, a maré das sensações, porque, bem ou mal, lá pelo início da coisa, você ainda não tá apaixonada, né? (Depois de tantas caras e corações quebrados, não é possível que você não tenha aprendido nada!). É, na verdade, uma maré de sensações, sim, porque ela vai além dos sentimentos, apenas. Vai mais pro campo dos sentidos, os cinco ou mais, incluindo o sexto e sua eventual inutilidade.

Nesse choque que é conhecer a imperfeição perfeita, em forma de homem, você acaba não rasgando a sua página da agenda, mas adicionando, a ela, novos tópicos de possíveis perfis. Sim, continua definindo o cara ideal, mesmo depois de ver que a última versão dele caiu por água. Não tem jeito. A gente tem medo da insegurança e da instabilidade. Justamente por isso, quer planejar tudo, inclusive quando será o primeiro beijo, a primeira transa, o primeiro orgasmo, a primeira viagem; mas se esquece de que, primeiro, vem exatamente a não previsibilidade total das coisas. E, nisso tudo, você vê que tem muito mais chances por aí afora do que aquele Cauã Raymond que você jurava que iria achar.

O pior, mesmo é quando o tal cara que não deveria aparecer se mistura com a sua vida profissional, familiar, conjugal - sonha, querida. sonha-. Aí, deu-se tudo: nada mais naquela sua maravilhosa super high-tech agenda serve, bem. Joga ela fora e compra uma de papel mesmo!

(Mas tira a página do perfil antes, tá? Nunca se sabe).

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXIII

Minha mãe adora fazer. Minha avó, então, aprendeu com a minha bisa e trouxe como herança pra todos os netos, netas, sobrinhos-netos, sobrinhas-netas e agregados. Minhas amigas preferem fazer isso a ir ao cinema, como hobby. Na verdade, mesmo, todo mundo faz! Não tem jeito. Alguns assumem e dão a cara a tapas. Outros preferem disfarçar essa característica inerente ao ser humano, na eterna busca idiota pela perfeição inexistente. Não. O tópico não é sexo, Priscila. Eu sei que ele virou um problema pra você, justamente pela sua falta, mas vamos ao foco da reflexão. Foco! O que todo mundo faz? Falar mal dos outros. E haja agulhas de tricô.

Gente, por favor, sem extremismos, tá? Qualquer pessoa nesse mundão de meu Deus já falou, fala ou vai falar mal de alguém. Todos nós temos as nossas características próprias e que são, várias vezes, diferentes das dos outros. É mega normal, justamente porque diferença, por vezes, causa desconforto, não tem jeito. É a velha lei do Narciso, né? “O que não me é semelhante me é estranho”. Gente, que que eu fumei hoje, além das milhões de carteiras da Carlton? Tô tão filosófica.

Ah, mas essa filosofia acaba na hora, quando começa a malhação. Quem dera que ela fosse de glúteos, bíceps e tríceps, querida. É da vida alheia mesmo. Eu sou uma grande suspeita pra falar. Adoro criticar. Tudo e todos. É de fato o meu passatempo mais praticado. [...] Gente, você assume isso como quem ganha uma medalha de honra ao mérito, por ter reencontrado o dedo perdido do Lula, né? Não. Não tenho orgulho de ser assim. Mas acho, realmente, que a supercrítica faz parte da minha essência, sabe? Não é só em relação aos outros – e, amada, nisso eu sou boa -, mas o pior: muito em relação a mim, principalmente.

Todo mundo que é um pouquinho venenoso com a vida alheia tem, por trás dessa pose toda de autossuficiência, um grande e gritante recalque. Sim, sim, nem adianta tentar suavizar a realidade pra você mesma, querida. Já bastam os quilos de maquiagem que fazem isso todos os dias. O pior problema de quem é muito crítico é exatamente criticar a si mesmo! E, a partir disso, vem aquele velho problema: a não-aceitação.

Aí, meu bem, tudo se desenrola. Por trás daquela máscara de comentários afiados, é bem provável que tenha uma faca, bem afiada também, que machuca o crítico a cada vez que ele se olha no espelho, literalmente, ou quando ele vê a realidade refletida nos pensamentos. E é exatamente por isso tudo que ele mete o pau nos outros (mas sexo de novo?): quando ele fala mal de fulano e beltrano, desvia a atenção dos seus próprios defeitos. Defeitos esses que, se fossem avaliados por aqueles críticos que os têm, seriam destruídos com comentários. Isso mesmo: muitas vezes, a gente fala mal dos defeitos dos outros justamente por não aceitar que nós mesmos também tenhamos esses problemas.

Hipócrita? Não necessariamente. Há casos e mais casos, com detalhes e mais detalhes. Não dá pra generalizar, né? Nesse caso, só o Doctor Phill e Márcia Godlschmidt pra resolver essas pinimbas todas.

Meu Deus, que nojo de você mesma! Usando Márcia na sua reflexão? Aquela pretensa psicóloga moralista, que baseia a sua profissão em dar conselhos a pobres pessoas que ainda confiam na sua – falta de – capacidade pra palpitar sobre a vida alheia e que ainda é aplaudida por uma platéia de donas-de-casa que deixaram a panela no fogo só pra assistir ao guru dos desesperados sem TV a cabo?

[...]

Não disse? Acho que é genético.

domingo, 12 de julho de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXII

Sabe aqueles dias em que você não tem mesmo nada pra fazer e, por benção dos céus, nem queria ter mesmo? Então, é nesses dias em que adoro fazer nada comigo mesma, mas sempre acompanhada de um filme bem pão-do-dia-anterior. Adoro ver filmes que eu já vi antes, seja há milênios – isso inclui todos, eu disse TODOS, os filmes da Disney –, ou alguns outros que eu vi, pela última vez, no mês passado. Ontem, lá pela madrugada, depois de me irritar mais uma vez com a originalidade de Roberto Carlos, em seu 50o (ou seria 500o?) ano de carreira, me deparei com um filme brasileirinho que eu adoro. Nada daqueles filmes que retratam o terror da Ditadura Militar, não. Um bem bobinho, mas que, lá pela quarta ou quinta vez que você assiste, passa mensagens diferentes: A Dona da História. À primeira vista, assim como um amor avassalador – ou melhor, uma paixão avassaladora -, ele não transmite muita coisa concreta, não. Mas, depois de conhecer melhor aquele amor louco, passa a vê-lo com outros olhos, não é? Dessa vez, então, demorei muito pra dormir, inclusive, não por causa do Rodrigo Santoro. Tá, não SÓ por causa do Santoro, mas pelo que o filme me fez pensar: quem é, afinal das contas e das cenas, a protagonista da sua vida?

É evidente que, de supetão, todo mundo insiste e quer acreditar que a resposta “Eu sou!” é a mais realista e cabível. Convenhamos que ela é a mais confortável de se dizer pra si mesma. As pessoas têm essa mania que, dependendo do grau, é quase autodestrutiva: você não precisa ser a Helena das Páginas da sua Vida o tempo todo, benzinho. É mais do que aceitável – e, até mesmo, recomendável – que a protagonista se enfie atrás das câmeras por algumas cenas, sim, deixando que o roteiro faça o seu papel por um ou dois cortes do diretor. Falando nele, quem é o diretor mesmo? Aí que vem a questão. Helenas, se preparem: vocês, além de serem as respectivas, são também o Manoel Carlos e, principalmente, um Boninho da sua vida.

Você não precisa estar sempre no foco da iluminação, com aqueles holofotes te cegando a córnea e torrando o couro cabeludo da peruca. Tem, antes de qualquer coisa, que conseguir justamente o controle das cenas, sejam elas protagonizadas por você ou não. Quando eu falo de controle, não falo só de planejamento. Nada de dar uma de Monica Geller e começar a arrumar tudo nos mínimos detalhes, mas saber arrumar tudo, quando os mínimos e os máximos detalhes estiverem uma grande bagunça. Esse é o papel do diretor. Conseguir organizar as cenas, colocar os atores na ordem certa, no momento adequado, com a voz melhor selecionada. Com o figurino escolhido e o texto, na ponta da língua. Se não der muito certo, bem ou mal, tem o que a gente chama de edição, né? Mas, na vida, será que dá pra editar o que já aconteceu?

Olha, eu, Priscila, solteira convicta e deprimida, alguns anos de vida, vencedora de incontáveis Oscars pela minha brilhante direção sobre a minha vida (categoria que, aliás, deveria ser inventada e instituída às pressas), posso te afirmar, caro pupilo, com toda certeza: não é tão simples editar uma vida quanto um filme. Apagar o que aconteceu, mesmo que se tente muito, simplesmente não dá. É tão simples, que fica complicado. O que a gente pode fazer mesmo, e eu acho que deva, é colocar as cenas mal desenroladas numa caixa, lá no fundo; cedo ou tarde, eles vão ser úteis, mesmo que a gente não queria ou não perceba. Nessa edição, não há cortes nem exclusões. Tudo é reaproveitado.

Mas e o final desse filme todo? Será que vai ter aquele beijo suculento, pelas barbas do Rod Santoro, numa rua clássica de Ipanema, ao som da Luciana Mello? Será que os espectadores, figurantes e atores secundários vão aplaudir de pé o seu roteiro, autoria, direção e atuação? Sabe o que o mais? Pouco importa o que os outros pesaram, pensam, ou vão pensar o seu filme. Afinal, amada, ele é SEU.

O que realmente importa é se você, quando olhar pra trás e vir algumas cenas prontas e devidamente editadas, vai querer, naqueles dias em que você não tem mesmo nada pra fazer e, por benção dos céus, nem queria ter mesmo, assistir ao seu filme pela milésima vez e tê-lo como sua companhia.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXI

15 de Agosto. Aliás, alguns dias a mais em Agosto, alguns outros em Julho e, se eu não me engano e a minha memória mergulhada em mancadas não me engana, alguns de Setembro. Eita época tensa pra nascerem pessoas complicadinhas. Afinal de contas, meu bem, são todas de um dos signos mais complexos, difíceis e que, por contraditório que pareça, adoram ser assim: leoninos. Mesmo que eu não acredite muito nesse negócio de horóscopo (ok, eu sei, sei que eu sou a cara cuspida e escarrada de quem é viciada em horóscopo), eu me impressiono, às vezes, em como esse danado mata mais questões do que alguns meses de terapia, menina. Falando em mortes, assumo a minha vida: sim, meu nome é Priscila (vai, gente, agora é quando vocês respondem: “oooooi, Priscila!”) e sou leonina... Desde que eu nasci. E sabe o que mais? Não pretendo largar esse vício tão cedo.



Podem adicionar umas características novas aqui, outras lá. Tirar umas de lá, outras daqui. Mas eu, no cúmulo do meu signo atuante, posso me considerar a personificação do Leão. Tirando a insegurança que, aliás, aparece como reflexo do excesso de segurança. Complicado? Óbvio. Leonina, lembra? É mais ou menos assim: o leonino é tão acostumado a sempre vencer e ser bem-sucedido que a menor possibilidade de perda ou insucesso (muito presente na vida de todos os signos dos astros) faz com que eles, no seu enorme bom senso de sempre exagerar, aumentem e dramatizem à enésima potência. Aí, pronto: se sentem despreparados (eu!), instáveis (quem será?), volúveis e indecisos (ok, meus sobrenomes) e por aí vai. E vai, mesmo, porque nós temos muito, mas muito mais complicações do que uma leve fase de Drama-queen.



Imagina um leão pomposo, dourado, brilhando no meio de uma selva que nem existe mais. Imaginou? Agora imagina esse mesmo leão, com a juba escovada ou tratada, a barba feita, um peeling básico e uma maquiagem jogada de leve? Pois é. É assim que a maioria dos leoninos se sente. Eles têm uma preocupação – insalubre e vergonhosa de admitirem, às vezes – de serem muito vaidosos. Eu tenho uma amiga de uma prima que... Tá bom. Ok. Eu acho que, pelo menos com meus pensamentos, eu posso evitar essa mentirada, né? Eu, eu mesma, sou capaz de passar mais tempo escolhendo uma roupa do que tomando banho. O leonino valoriza tanto a aparência alheia, que acaba se preocupando tanto quando com a sua própria. Afinal, se é pra criticar, que o seu ponto de crítica esteja quase perfeito em você. Não vejo muito problema nisso, não, desde que não se esqueça de quem há também a roupa interna e a maquiagem do coração. Isso, querida, já deu pra perceber que eu vejo. Até demais.



Além disso, sabe aquela história de querer se o centro das atenções? Também não é pra tanto. Tá, no meu caso, até poder ser. Mas todo leonino, no mínimo, precisa estar inserido e ativo, seja lá qual for a situação. Por exemplo, uma mesa de bar do tamanho daquela da Santa Ceia. Vários núcleos misturados. Alguns que nem se conhecem. Pode ter certeza de que não vai ver nenhum representante da juba do zodíaco quieto, num canto, cutucando o celular. A não ser que seja, justamente, pra chamar a atenção de alguém. A gente gosta de ser notado, sabe? Se sabe, não vê nada de errado nisso. Né, leoazinha?



É óbvio que a gente tem problemas. Aliás, muitos. Pra começar, conhece extremos? Então, são as nossas calcinhas e sutiãs da alma. Racionais ou passionais demais. Organizados ou bagunçados demais. Desesperados ou controlados demais. Meio-termo é um termo que o leonino não conhece. E sabe o que mais? É bem capaz que nem queira conhecer. Nós não gostamos de estabilidade; nos incomodamos com o silêncio; o pacato nos irrita.



Irritados. Vorazes. Reais. Da realeza. Todo leonino, mesmo que um pouco tímido, sabe se valorizar nas horas certas, mesmo que isso só venha depois de muita porrada. Alguns ficam meio podres por dentro. Outros, nem tanto. Mas fazem jus ao seu porto e posto de reis da selva. E, vamos combinar? Poder fazer “raaaaw”, pelo zodíaco afora, é bem mais divertido do que um “glup, glup” de peixes, ou um barulho irreproduzível dos escorpiões.



Mas, não. Eu não acredito muito nisso tudo, não. Aliás, nem conheço muitos detalhes.



(Mais uma caracaterística? Têm uma capacidade mais do que normal de se enganar).

terça-feira, 2 de junho de 2009

Monólogo de Dois - Parte XX

Chega uma hora, cedo ou tarde, em que as noitadas não te tiram mais de casa com a mesma empolgação, caçar homem pelas ruas, como um caçador na Amazônia, atrás do último mico leão-dourado, não põe mais a sua arma em pé. Chega a hora em que tudo o que você quer é tudo aquilo que você um dia achou chato: passar o dia todo embaixo das cobertas (com o ar ligado, afinal, Londres não é aqui), vendo filmes românticos idiotas e impossíveis (mas que ficam bastante reais), abraçada, agarrada, mergulhada naquele cara que te faz, pura e simplesmente, bem. E agora?

Não sei se é a maldita menopausa que tá chegando, ou se eu to assistindo ao Sex and the City demais da conta (ou os dois, né? Afinal, pra ficar viciada em Sex and the City, querida, só estando na menopausa). Eu sei mesmo é que me cansei dessa vida badalada, que eu tenho vivido. No começo, é tudo festa. Literalmente. Você trabalha a sexta-feira toda, igual a um estagiário iniciante estudante da Universo; fica exausta, mas se obriga a sair. E se diverte, afinal de contas. Chega em casa morta e ainda tem que dar plantão no escritório no sábado seguinte. Problema? Algum. Acorda puta da vida, amaldiçoando a última geração indígena e portuguesa do seu chefe (que, enquanto você madruga, depois de um leve cochilo de 2h, deve tá babando no pescoço da mulher dele) e vai trabalhar. Na semana que vem, repete a mesma coisa.

E haja roupa pra sair. Haja dinheiro pra gastar. Haja disposição pra usar. E fígado pra destruir. E, pra que mesmo? Pra você pegar um ou dois caras de quem você mal lembra o que eles fazem da vida (sim, o nome, pelo menos, eu lembro. Ainda não cheguei a esse grau de assanhamento e amnésia) e nunca mais vê. E, de repente, do nada, o seu ânimo pra sair acaba. O seu dinheiro termina (muito antes do ânimo. Até porque, de onde vem mesmo a grana pra bancar essa vida toda? Pois é). E tudo o que você quer é fazer absolutamente na-da. Mas sozinha? Ah, não.

Aí é aquela coisa: você começa a se lembrar dos últimos relacionamentos (que, enquanto duraram, foram) bem-sucedidos e cisma que ainda ama aquele canalha que foi passar férias do trabalho e se demitiu de você. Mete na cabeça que vai dar tudo certo e tal. Mas nem pra isso eu tenho ânimo, cara. Um dia, eu juro, vou abrir uma lojas de homens delivery. Nada de michê, por favor. Vai ser uma coisa mais alto nível. É. Melhor desistir dessa idéia.

E fica se remoendo, triste pelos cantos, mortinha, mortinha. Cadê o meu cara? Onde ele tá? Numa das boates a que eu fui não vai ser. E o pior é que, poxa vida, eu mereço alguém legal, sabe? Tenho meu trabalho, meu apartamento, meu carro, minha vida tá encaminhada (menos a minha cabeça e tranqüilidade, óbvio), feia já me disseram que eu não sou e tudo mais! Que esse bando de homem quer, hein? Umazinha que fique lavando louça pra ele e passando a gravata do rapaz?

Eu sei que também não é por esse extremo todo, mas, cara, que que eu tenho de errado, me diz? Aliás, o erro tá em mim? Assim, sem querer ser pouco modesta (coisa que eu nunca sou, imagina), mas eu não vejo nada de muito errado, em mim, pra não achar um cara que me preste pra alguma coisa, a não ser pra trocar um pneu e a lâmpada da sala. O problema deve tá com os outros mesmo. Não é possível.

Eu quero mesmo é ser amada e amar. Ser cuidada e ter de quem cuidar. Poder contar com alguém pra dividir uma conquista ou uma vitória. Ter alguém do meu lado, até mesmo quando meu cabelo estiver um lixo, assim como eu toda. Alguém de quem eu seja e que seja meu, até quando os nossos corações se gostarem e as nossas idéias concordarem umas com as outras. Eu quero o que deve ser meu. O que todo mundo diz que tem aí fora, mas que eu, até agora, não achei. Eu mereço isso tudo.

[...]

Gente, olha eu, aqui, pensando na vida enlouquecidamente, com a televisão ligada e o fogão aceso. Ainda tenho que me arrumar pra sair, meu pai. As meninas já devem ter chegado lá na portaria, pra gente pra boate nada ideal, com decoração cinematográfica, que eu detesto, mas acabo indo.

Mas, pera aí? Com qual roupa eu vou? Não tirei dinheiro, meu pai! Ah, quer saber, eu vou é alugar um filme na Blockbuster, ligar pra minha amiga, Danusa, e me enfiar é num balde de pipoca, vendo filmes babacas e rindo da vida. Afinal de contas, é mais barato, divertido, magro e... Deprimente.

Encalhada.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Monólogo de Dois - Parte XIX

Olha, depois de tantos anos quebrando a cara e remontando o coração com tantos relacionamentos, eu tirei tantas conclusões que meu livro de auto-ajuda iria vender mais do que Bíblia. Mas, enquanto eu não o escrevo, fico pensando mesmo. Uma das certezas que eu tirei é a de que é muito mais angustiante e difícil reencontrar um ex do que encontrar um possível futuro namorado. Mesmo que conhecer um cara legal possa me deixar louca de nervoso, fazendo com que, obviamente, eu me erre toda, rever um cara que foi legal comigo, mesmo que tenha me destruído por dentro, é ainda pior. Ainda mais quando a gente não sabe bem se ainda sente alguma coisa por ele.

Na melhor das hipóteses, você pode programar o reencontro, mesmo que o dito cujo não saiba. Aí, que que você deve fazer, benzinho? Se emperequetar toda, mas sem exagerar e virar uma passista de escola de samba, pro rapaz não pensar que ele conseguiu te enlouquecer a ponto de você não saber mais se vestir. Deve-se colocar um punhado de boas roupas, uma xícara de maquiagem básica – eu disse básica -, e quatrocentos quilos de auto-confiança, mesmo que disfarçada. Sem essa última parte, querida, tudo o que vem antes é inútil. Com a receita pronta, fica muito mais fácil se dar bem nesse reencontro, mesmo que você saia arrasada dele. Se for o caso, pelo menos saia arrasada e bem vestida, né? É muito mais bonito estar na merda quando se está no paraíso no lado de fora.

Agora, se o encontro for de supetão, assim, de repente, há pouco a ser feito. Desculpa, mas é a realidade, queridinha. Se for na volta ou a caminho do trabalho, é legal se mostrar estressadérrima e ocupadérrima com seu emprego, pro rapaz ver que você tá envolvida com outras coisas, mesmo que tudo naquele maldito escritório te lembre dele. Voltando do trabalho, uma mexida no cabelo, pra colocá-lo num lugar decente, não faz mal. Até porque o poço de machismo que você ousou namorar nem vai reparar na sua tática. Diante disso, é tentar sempre se mostrar muito bem resolvida, né?

Mas, por favor, não vá me inventar de fazer piadas. Aliás, eu, Priscila Ferreira Becker, não posso NUNCA fazer piadas, quando eu tô tensa, cara. Minha nossa senhora, mas só sai besteira! Na melhor das hipóteses, eu consigo não me embolar na minha fala aceleradérrima e até monto um comentário engraçadinho, daqueles que você faz com seu vizinho barulhento numa manhã de um domingo chuvoso. Agora, o desastre pode ser bem pior, com certeza: gaguejo tudo, troco as pessoas da piadinha, tento me consertar, fica pior ainda e, nesse meio tempo, a pessoa já tem que ir embora pra algum canto.

Mas sejamos realistas: pouco importa, afinal, como o cara vai achar que você tá, se você, a pessoa desesperada, fica mal. Não interessa, temos que nos preocupar, sim, com o nosso estado de espírito. Se possível, a gente faz uma pose de bem-com-a-vida, desde que se dê mais valor aos verdadeiros sentimentos. Falando em sentimentos, como é que a gente faz, então, quando o reencontro só te mostra que ainda rola alguma coisa?

É impressionantemente irritante. O cara pode ter a-ca-ba-do com a sua vida, te deixado no fundo do poço, sem nem uma cordinha pra te puxar. Não importa. Eu, a princesa Aurora dos relacionamentos – sem nenhum príncipe Felipe que cante pra mim, que fique claro -, consigo esquecer tudo que ele me fez, naqueles dez minutos de reencontro, e simplesmente me transporto praquele tempo em que tudo era um mar de rosas, margaridas, todas as flores que possa imaginar. Parece que eu me desligo da memória ruim e me seguro na boa, sabe Freud lá por quê. Aí, pronto, faço cara de idiota, fico toda derretida, e deixo claro pro cara que, sim, ele ainda pode me ter, mesmo que eu faça de tudo pra não deixar isso acontecer.

Muitos me dizem que eu devo parar de fazer o estilo caranguejo e andar pra frente mesmo, buscando novas experiências e deixando essa velha pro álbum de fotos. Dizem que eu tenho que me gostar mais e procurar a felicidade. Mas e se a felicidade que eu tanto procuro estiver do lado daquele cara que, apesar de tudo, pode ser o MEU cara? E se, mesmo com todos os problemas, é pra gente estar junto? Quem garante que o certo é sair correndo pro próximo namoro?

É. Ninguém garante. Será que a vela a pena tentar de novo? Não sei, mas vale a pena arriscar pra saber. Pelo menos, na pior das hipóteses, se a volta for uma péssima idéia e tudo der errado, a gente pode cagar baldes pro próximo reencontro e eu vou ter mais um capítulo pro meu futuro-já-fracassado-best-seller.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Monólogo de Dois - Parte XVIII

Ih, mas o que eu já ouvi de gente por aí fora dizendo que terapia (ainda) é coisa de maluco e doido, nem quero parar pra contar. Olha só, vocês, pessoas nascidas em 1758, pensem melhor na besteira que falam. Dizer que mulher não serve pra dirigir eu até entendo, aliás, aceito, porque tem uma base factual (tem, sim, infelizmente). Mas ofender a classe do divã só me mostra e confirma uma coisinha: aqueles que pensam assim são os que mais precisam de uns papos profissionais sobre si mesmos.

Pra começar, vamos dar nome aos bois, às vacas e aos cabritos: o terapeuta NÃO vai resolver os seus problemas, muito menos mudar quem você é. Pelo contrário, ele vai te ajudar a entender quem você é, e a como lidar com suas características essenciais, te mostrando os melhores caminhos a tomar e os melhores pensamentos e nutrir. Simples assim, como a teoria freudiana.

É evidente que isso não impede que você, caro paciente, se embole todinha no meio das suas divagações. Em primeiro lugar, é super compreensível que, no começo do tratamento, a gente se sinta desconfortável em falar tudo sobre a sua vida, principalmente as partes mais vergonhosas e desconfortáveis, pra um total estranho. Tudo bem que eu nunca tive esse problema, porque falar sobre as minhas preocupações é tão normal quanto não ter uma vida sexual ativa, de fato. Mas o medo, no começo, é super aceitável.

Agora, também não vai pelos extremos, né? Uma coisa é você ter intimidade profissional com o seu terapeuta. Outra é você ligar pra ele, no meio da madrugada, reclamando de que aquele cara, que você conheceu numa festa aleatória e em quem você, BÊBADA, chegou, não quer saber de você. Queridinha, o terapeuta também é uma pessoa, com problemas tão graves ou mais que os seus. Por isso, acorda pra vida, porque senão você vai acabar obrigando o seu próprio terapeuta a também fazer terapia (o que é super normal).

De qualquer maneira, é sempre bom manter uma distância entre você e o seu terapeuta maravilhoso, cheiroso, inteligente, com um sorriso magnífico e que te entende melhor do que outro homem que jamais conheceu. E ainda te dá balinhas toda semana, sem você nem precisar dormir com ele. Sim. Já me apaixonei pelo meu terapeuta! E foi a pior idéia que eu já pude ter. Por quê? Você quer realmente se lembrar dessa cena patética? Ok. Resolvi que iria, então, tentar impressionar o Doutor-gostosão lá. Por isso, na semana seguinte, fui maquiada igual a uma traveca, quando tem Baila Gay no Scala. Coloquei uma roupa com o decote que ia até o primeiro andar do prédio e fui. Chegando lá, comecei a me reafirmar toda, dizendo que já tinha me resolvido em relação a todos os meus problemas de relacionamentos e que já estava mais do que pronta pra embarcar em algo novo, com segurança, confiança, respeito e muito amor... Quando ia continuar o meu discurso, eis que olho pra mão do cara e ele está, ineditamente, com uma aliança de noivado. Menina, na hora, eu meti vinte e sete balas de caramelo na boca e fui ao banheiro. Tirei aquele Abapuru de Picasso da minha cara, me borrei toda, e comecei a chorar. De novo.

Voltando àquele povinho medíocre que condena a terapia, eu nem me estresso. Mentira, me irritar, é evidente que eu me irrito, mas nada que me faça descer do salto, pegar meu sapato finíssimo e encravar na testa do medieval que pensa assim. São pessoas superficiais que, na verdade, usam de preconceitos mal fundamentados (como todos são) pra compor um autossegurança e independência de mentira. Querida, NINGUÉM na face dessa terra do Aquecimento Global é completamente ok consigo mesmo. Todo mundo tem problemas, medos, vícios e preocupações, certo? Logo, benzinho, corre pro divã e se faz.

É por essas e outras que, hoje, eu me sinto muito melhor do que me sentia, ontem. Tenho mais confiança em mim mesma, mais força pra enfrentar os meus problemas e tempo. Tempo até demais, porque ficar pensando na teoria da terapia, sendo que você é uma jornalista, nem Freud explica. Vai arranjar o que fazer, antes que você se atrase pra sua consulta com aquele homem divino, inteligente, meu mais novo psiquiatra.

Merda.

terça-feira, 17 de março de 2009

Monólogo de Dois - Parte XVII

Eu juro por tudo que é mais sagrado (mesmo que não valha a pena tanto juramento) que eu já tentei milhões de vezes. Olha, já conversei com meus amigos, numa mesa de bar; com minhas primas, em festas de família; com a minha terapeuta, quando esbarrei com ela na fila do cinema, e resolvi fazer uma rapidinha; enfim, com Deus e o mundo e, até agora, ainda não cheguei ao consenso: sexo e sentimentos são, afinal de contas, coisas separadas?

Eu confesso que já transei sem amar e já amei sem transar. Já fiz assim, assado, de um jeito, de outro. Não, Priscilete, isso não é uma lista de posições à la Kama Sutra. É uma lista de tentativas à la livros de auto-ajuda mesmo, pra tentar responder a essa questão que, porra, tá mais difícil que do que fazer os judeus e árabes fazerem as pazes. Quem sabe se eles transassem? Hum, não. Só iria piorar a situação, com certeza.

É fato que o sexo, pelo menos na minha concepção, deveria ser um ato mais valorizado do que é, hoje em dia. Eu acho que, pra chegarmos nesse estágio e tudo ser maravilhoso, deveria haver um conhecimento maior entre os futuros-embolados-no-lençol. Enxergo dessa maneira, sim, e, por mais que eu esteja parecendo uma música da “Noviça Rebelde”, acho que é desse jeito que as coisas deveriam ser, cara.

E olha que eu já tive minhas dúvidas, heim? Por exemplo, eu tenho uma amiga, aliás, duas amigas, que nem se conhecem, mas que têm mais ou menos o mesmo comportamento. Amanda e Sheila. Eu sei Sheila é um péssimo nome, eu sei. Mas, pobrezinha, foi a mãe dela que escolheu, né? Enfim, Sheila me impressiona, cara. Ela se envolve com um aqui, outro acolá. Se enrabicha com aquele cara do trabalho, com outro lá do buraco onde ela nasceu. E tá sempre tranqüila, calma e serena, sem medo de ficar sozinha pro resto da vida, sem medo de se envolver nem nada, até porque, segundo ela própria, ela não se envolve. Já conversei com Sheilinha milhões de vezes. Até a entendo. Mas acho estranho. Já Amanda consegue ter essa capacidade de desprendimento também. Tem fases em que ela tá mega piranha, assim, a ponto de que quase assustaria a Sheilinha. Porém, cedo ou tarde, ela acha um cara legal e se envolve, de fato, com ele. Sendo que, nessa época, Amanda se transforma, cara. Aqui, temos dois casos de pessoas diferentes, que tratam o sexo de modo natural e prazeroso, sem muitas complicações, e que, aparentemente, vivem bem.

Eu, nas minhas confusões sexo-amorosas-sentimentais-finaceiras ( e eu poderia ficar colocando hífens ali pro resto da vida), tenho minhas dificuldades em conseguir separar as coisas. Tem dias, por exemplo, em que eu acordo estilo Sheila, sabe? Toda me querendo, com mais hormônios do que água no corpo e a fim de fazer de tudo com todos. Se eu achar um pra me satisfazer, até me entrego, mas, no dia seguinte, queridinha, falta pouco pra eu me entregar a um convento, pedindo o perdão eterno! Não que eu me sinta culpada, mas é que eu me sinto mal, mesmo. Ao mesmo tempo, achar alguém super legal a ponto de o sexo não ser uma culpa é tão difícil quanto ficar felizona, depois de dar pra um que eu conheci no dia anterior.

Ai, ai. Será que a parada é ficar virgem até o casório mesmo? Eu tenho uma outra amiga, a Vanessa, que me diz e jura de pé junto que é virgem até hoje. Em compensação, meu bem, a garota é baixa, mas muito baixa. (Baixa? Que termo estranho. De onde será que eu tirei isso? Nunca tinha ouvido falar...). Enfim, Vanessa me fala que nunca deu, mas dá no que falar. Gente, se já ta difícil achar um namorado, imagina um marido? E, mesmo se eu achasse, imagina só se ele fosse ruim na cama? Ah, aí eu iria virar Sheila pra sempre.

Pois é. A gente pensa, conversa, repensa, reconversa e nada de achar uma solução. Eu acho que as coisas devem tomar o seu fluxo normal, pra que o meu fluxo hormonal fique bem, né? Que que tem dormir com um cara legal, bacana, gente fina, bonito, que eu conheci há dois dias? Não pode surgir alguma coisa boa dali, afinal de contas?
Sei lá, né? Esse papo todo de sexo dá me dando, hum, vontade de... comer chocolate, de novo. Só falta criar uma super barra versão-homem, porque o prazer é quase o mesmo, e sem gastar com camisinhas. Vamos ao meu eterno e futuro marido, Mr. Hershey’s.

terça-feira, 3 de março de 2009

Monólogo de Dois - Parte XVI

Outro dia desses, vieram me dizer que eu me apaixono demais. É mais ou menos assim: a cada semana, Priscila, você se vê, imagina, se empolga e vibra com um novo futuro-amor. Óbvio que o negócio não é tão passageiro, mas me fizeram pensar sobre os meus amores, inventados ou não. E sabe que que percebi? Que ver, imaginar, se empolgar e vibrar faz parte de mim. E não há pessoa nesse mundo que vá me fazer diferente, até porque, babe, isso é impossível.

Realmente, eu me apaixono com muita facilidade. E sabe por quê? Porque eu gosto de me sentir assim: ansiosa, esperançosa, empolgada, leve, flutuante. Feliz! Não que eu precise de outra pessoa o tempo todo pra ter felicidade, mas se sentir querendo alguém é uma das melhores sensações que eu, na minha humilde e calejada vida amorosa, já experimentei. Gosto disso mesmo. So what?

Além disso, me peguei pensando, também, se essa minha porta aberta do coração, mesmo que com muitos arranhões, pode significar que os meus sentimentos são baratos ou efêmeros demais, assim como os de uma criança pirracenta por um brinquedo na vitrine da loja. Sabe que eu cheguei a me sentir uma delas? Mas, depois de cinco minutos, me bateu a realidade (em que eu quero acreditar, pelo menos): nada nem ninguém pode julgar a durabilidade dos meus sentimentos, até porque quem os sente sou EU. Sou eu quem passa noites sem dormir, sonhando acordada. Sou eu que não consegue ficar um dia sem mandar uma mensagem babaca ou ir na página dele no orkut, só pra ter mais fontes pros meus sonhos. Sou eu que sofro. Eu que amo. Eu que quero.
(Eu, eu, eu, eu! Leonina demais, você.)

É evidente, sim, que, quanto mais tempo dura um sentimento, mais valorizado ele deve ser. Mas isso não quer dizer, de forma alguma, que aqueles novos devam ser desclassificados e ignorados. Afinal, é exatamente deles que pode surgir algo a mais, mais importante, mais forte, mesmo que, por vezes, eu tenha certeza de que nada possa ser mais forte do aquilo que eu tô sentindo, naquela sementinha de amor. (Cafona. Tá ficando boa, heim?)

Já dizia Cazuzinha, meu grande amigo que não cheguei a conhecer: adoro um amor inventado. Gente, qual é o problema nisso tudo? Me diz! Valorizo tanto amores que vêm com o tempo quantos amores que vêm com a mente e a vontade de ser feliz. Tanto o faço, que, muitas vezes, arrisco amizades, dinheiro, sono e tudo mais por aquilo. Aquilo que eu não sei bem o que é, mas que me comanda e não me deixa pensar muito bem. É, quase uma criança sedenta por uma Barbie de novo. Ouço conselhos, concordo com eles, mas de nada adianta. (Sensação de que já pensei nisso antes... Estranho!)

Agora, para com esses devaneios todos e fecha o olho. Lembra? Quando a gente fecha o olho, na cama, pode sonhar acordada. Com ele. E eu não me arrependo de nenhuma noite perdida, nenhuma mensagem mandada, nem de nada. Arrependida estaria se tivesse me segurado.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XV

Olha, eu sempre fui uma pessoa bastante propensa à irritação. Desde um chinelo virado de cabeça pra baixo, até uma pessoa que limpa os dentes com a língua, fazendo aquele barulhinho insuportável, a irritação sempre foi minha fiel companheira. Agora, não há nada que me irrite mais, nesse mundo, do que não conseguir me controlar. Assim, controlar os outros é uma tarefa complicada, quase impossível, porque cada um tem a sua cabeça, né? Mas não conseguir controlar a você mesmo é quase um atestado de incompetência como ser humano racional. E emocional. Emocional! É aí que tá o problema.

Quando eu tô focada no trabalho, envolvida com o planejamento alguma viagem, enfim, momentos em que minha cabeça tá ocupada demais pra ficar pensando em relacionamentos fracassados e outros futuros, eu me pego pensando em como eu irei me portar, na próxima vez em que aquele anjo maldito, chamado Cupido, me machucar, sem dó nem piedade – mesmo vindo de um pretenso anjo -, com a sua flecha do amor, da paixão, do estar-a fim, enfim. Nesse período, é tudo muito fácil: “ah, Priscila, você irá fazer isso, ou irá fazer assado. Muito bem, então, a partir disso, se ele fizer assim, você vai e faz assado de novo. Perfeito! Um guru dos relacionamentos bem sucedidos.”
Muito bacana. Tudo resolvido, como um Jogo da Memória com duas figurinhas viradas pra baixo.

Porém (há sempre, SEMPRE, um “porém” no meio, pra estragar o meu “portanto” feliz), quando aquela viagem já foi feita, e quando o trabalho me deu um descanso – não bem quisto, que fiquei claro -, todos aqueles planos parecem ter ficado ou no meu antigo destino ou no meu escritório. Por quê? Porque, quando a vontade e o sentimento batem, não há joguinhos que se mantenham, posturas que se ponham ou objetivos racionais que se concretizem: é o coração, ele, somente ele, que vão comandar os seus passos, a sua mente, os seus pensamentos, idéias e tudo, tudo mais.

Porque não há nada que se compare a sonhar, antes de dormir, com algumas pessoas, imaginando situações que possam acontecer, encontros dignos de serem filmados pelo Walt Disney, e, no dia seguinte, dar de cara com o sonhado. Com a pessoa sonhada. E fazer o quê? Em vez de se portar como se tudo estivesse bem, como se VOCÊ, Priscila, estivesse muito bem resolvida com você mesma, sem nenhuma confusão, lá vai a Priscilinha, cumprimentar o rapaz: que ela faz? Dá um sorriso estranho. Tropeça no paralelepípedo. Faz uma gracinha sem graça, e sai, também sem graça. Tudo aquilo em que você tinha pensando fica só na cabeça, mesmo, esmagado pelo coração, imponente.

Pior ainda é quando esse cara é um amigo seu, de alguma maneira, ou sai sempre com você. Aí, queridinha, senta na boneca: ele já te conhece, bem ou mal, e sabe como é o seu jeito e seus trejeitos. Por isso, ou você vira, de repente, uma atriz magnânima e disfarça MUITO bem, ou o amigo-futuro-affair (quem dera) vai perceber, né? Se isso é bom ou ruim, eu não sei.

Eu tenho a leve impressão de que passei por essas reflexões e reclamações antes, mas não vou ficar nem um pouquinho surpresa se já tiver feito essa terapia toda comigo mesmo. É tudo a mesma coisa, sempre. Mesmo que a gente quebre a cara, caia no chão, e se levante depois, a nossa essência de amante continua a mesma. E sempre vai ser desse jeito desajeitado, confuso, sem muita coordenação. Fazer o quê?

Fazer o quê?

Sei lá. Pra que pensar? Afinal, na hora de agir, tudo vai sair ao contrário mesmo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XIV

Cansei de falar de amor. Cansei de pensar em amores. Cansei, inclusive, de procurar por eles e vivê-los, até mesmo! Não me venha chamar de covarde, porque eu juro que tentei. Me entreguei a um amor aqui. Me segurei mais um pouco em um outro acolá. Segui todas as regras que as minhas amigas me impuseram, obedeci a todos os conselhos que as minhas experiências me deram. Fiz a difícil com uns. A fácil e entregue à paixão com outros. Amores. Vários tipos, cores e formas deles! E pra quê? Pra acabar mergulhada na merda, Priscila. Mergulhada, afogada, nadando nela! Sendo soterrada por... Chega. Tô ficando enjoada.

E é engraçado, porque, quando a gente tá super apaixonada, não vê as coisas e nem as pessoas como as veríamos, caso estivéssemos em nosso estado normal. Sim, porque, quando envolvidos de sentimentos rosa e nojentinhos, é como se alguém viesse com uns óculos de natação tampados com fita isolante (Sabe aquele do Gugu? Nossa, que exímia referência cultural, querida.) e colocasse nos nossos olhos. A gente não pensa direito: parece perder toda a percepção obtida com a experiência da vida; todas as lições aprendidas parecem ter sido deixadas numa gaveta, amassadas por umas contas velhas e trancadas à chave. Então, lá vamos nós, naquela Montanha Russa no escuro, e sem cinto de segurança algum. Boa sorte. Sorte, sim, porque ela é mais do que necessária, nesses casos de amor. Amor. Há! Saco.

Bom, já que falar de amor é mais forte do que o meu atual nojo e desprezo por ele, deixa eu pensar de uma vez: sabe aquela história de que as pessoas têm que ser parecidas, pras coisas darem certo? Esquece. Aquela outra de terem os mesmo objetivos de vida? Bobeira, besteira, ladainha. O mais importante, além desses pré-requisitos todos, é a sorte, meu bem. Sorte, quando os dois estão na mesma sintonia, em relação aos sentimentos. Não importa que um dos dois esteja com-ple-ta-men-te envolvido com o outro, se esse outro, na verdade, não tá a fim de nada sério, no momento. Dá raiva. Dá irritação. Revolta, nervosismo, impotência agonizante. Tudo isso junto e misturado. Mas não há o que fazer! É pura falta de sorte e de compatibilidade de tempo.

Apesar disso tudo, posso falar? ODEIO casais fofos. Eu, quando apaixonada, me recuso a fazer o casal fofo. Jamais! Como assim, no meio da rua, me surge uma voz “fofa”, falada por uma marmanja vivida, ao pé do ouvido de um outro marmanjo crescido, que acha super bonitinho aquela demonstração pública de mongolice voluntária? Pelo amor de Deus! Tudo bem que – tenho que confessar – há poucas maneiras verbais, inventadas pela humanidade, pra expressar sentimentos, mas também não precisa apelar pra uma regressão mental, né?

Por mais irritante que possa ser, quem sou pra julgar como as pessoas se expressam? Pelo menos, elas se expressam, afinal de contas. Pior são aqueles outros que se vestem em uma capa dura de frieza e sarcasmo e se resguardam ao não-envolvimento. Dos males o menor, não é? Mesmo eu adorando estar apaixonada, e me sentir cega por aquele óculos do Gugu, e me jogar naquela Montanha Russa no escuro sem cinto, é bom – muito bom! –, de vez em quando, se entregar, sim, àquela capa de sarcasmo e veneno que borbulha e meter o pau nos apaixonadinhos! Morram todos!

Agora, para com essa zona sentimento-reflexiva, e vá se entregar à sua paixão, aliás, ao amor mais seguro e estável de todos: o meu pelo chocolate.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XIII

Sem palavras. Às vezes, mesmo aquelas que sempre têm várias palavras às suas bocas ficam somente com a saliva, que as mata a sede de conversas, e sua língua, agora, vazia e inútil. E isso acontece em várias situações da vida de cada uma, com seu cada problema e seu próprio grau de espanto: o quê?! É a única coisa que muitas de nós conseguimos soltar. E só.

Impressionante, porque, nas horas em que eles acontecem, tudo o que você quer é falar tudo aquilo que pensou durante horas, sentada na sala, fingindo ver um programa qualquer que você nem sabe dizer se é o Jornal Nacional ou o Pânico na TV. A gente ensaia na frente do espelho várias coisas pra dizer, com a maior pompa de todas, né? Monta frases lindas, que poderiam, perfeitamente, estar num livro de auto-ajuda best-seller. Sabe de tudo! Agora, coloca essa pessoa, essa própria, na frente daquele a quem são destinados todos esses ensaios. Ah, mas coloca! Não vai sair nem uma fala decorada, nem uma vírgula meticulosamente encaixada pra dar aquela pausa estratégica. A gente simplesmente olha. E se cala. Não por vontade própria, mas acho que pela sabedoria do subconsciente.

Será que falar tudo aquilo que a gente pensa vale a pena? Em relacionamentos amorosos, é o que a gente ouve, né? “Ah, tem sempre que falar tudo que está sentindo, tudo que está pensando, tudo, tudo!” Humf. Até parece. Não dá, mesmo, pra falar tudo o que a gente tá pensando, fazendo e sentindo exatamente por que a gente precisa de proteção, também. Quando começa a ficar com alguém, ou a namorar; quando casamos, enfim, a gente precisa se resguardar o mínimo que seja, pra evitar que o pior aconteça.

Olha o seu caso, Priscila: se resguardou? Não. Nem um pouco. Fez cerimômia em se expor? Nada. Teve medo de expressar todos, mas TODOS os seus sentimentos? Não. Receio em se entregar, e mergulhas de cabeça? Não, não! Exatamente isso que a gente ouve, no final das contas: não. E esse não é falado de mim pra mim mesma: não! Eu sei que já disse, várias vezes, que a gente tem que expressar todos os nossos sentimentos e blá, blá, blá. Mas só vale a pena, mesmo, quando a gente sabe em que asfalto tá andando. E, se ele for cheio de cascas de ovos, em que qualquer coisa a ser falado deve ser pensada, esquece.

É sempre uma questão de conhecer o caminho que se está prestes a perseguir, cara. Analisa o caso, racionalmente mesmo. Tenta perceber o que vai aparecer por essa estrada, se são borboletas ou morcegos, ou os dois. Tenta, também, se perceber: tá a fim de quê? Ah, é de amar e dar amor sem contar medidas? É? Ótimo! Então, veja pra quem esse pretenso amor está sendo destinado e veja, também, se essa pessoa merece ganhar isso tudo. Se essa pessoa te merece, de verdade.

Se não merecer, uma pena. Mas uma coisa nunca pode ser esquecida, Priscila: você sempre irá se merecer, seja na merda ou no paraíso. Então, abre os olhos, destranca o coração, sem jogar a chave no ralo, e vai dando os passos à frente. Parar com eles ou não é uma coisa que o tempo vai dizer. O tempo, sendo traduzido pelas pessoas aí afora.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Monólgo de Dois - Parte XII

Desde que eu consegui formatar o primeiro pensamento digno de ser exposto sobre a vida e seus percalços, eu sempre me achei A filósofa. Não sei se é por que eu sempre tive uma desenvoltura pra falar ou o que fosse, mas sempre gostei de filosofar mesmo sobre tudo que me envolvia. O mais engraçado era ver todos aqueles meus pensamentos serem rapidamente desmontados e destroçados por uma nova experiência que a vida me trazia. E é exatamente isso que está me acontecendo, agora.

Sabe aquela história de que a gente tem que levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima? Pois é, sempre vi total verdade nessa frase, ainda mais quando se trata do caminho percorrido nesse mundão de meus Deuses. É muito mais provável que a gente caia, tropece e se machuque do que a gente passar pela vida sempre seguindo passos constantes e ininterruptos. E essa Dona Vida adora pregar uma peça na gente, quando menos se espera.

Imaginemos a seguinte situação: você conhece um cara legal, gente fina, bonito, inteligente. Se envolve com ele. Se apaixona por ele. Passa a ver a sua vida somente ao lado daquela pessoa, ou melhor, não consegue se imaginar sem ela. E, de repente, vem a Roda Viva da vida e arrasta aquele cara legal, gente fina, bonito e inteligente pra longe de você. Falando em você, como você fica? No chão de si mesmo.

Eu confesso que eu nunca tinha passado por isso antes, mas essa experiência nova me fez ver com a maior clareza de todas que a gente tem, sim, que tentar levantar o mais rápido possível dos nossos tombos, sem tentar ficar colocando a culpa em um ou em outro. A culpa, na verdade, é da própria vida mesmo, que, afinal de contas, só faz o papel dela: sacanear a gente.

Sacanagem após sacanagem, a gente vai guardando, no peito e na memória, lembranças do ocorrido; e aquilo vai ficar marcado na gente pro resto de nossos dias, fazendo da gente o que se é, afinal de contas. Ninguém nasce e morre do mesmo jeito, até por que, ao decorrer da caminhada, passamos por várias pequenas mortes, que parecem ir lascando pedaços da gente e colocando novas peças nos lugares que deixou vazios. Tirando daqui, colocando de lá, a gente vai indo e vindo. Caindo e levantando, por mais fundos que os buracos sejam.

Isso tudo é muito bonito, né, Priscila? Muito poético e filosófico. Escreve um livro de auto-ajuda de uma vez, benzinho! Por mais verdade que essa baboseira toda possa ser, ninguém sabe como é difícil sair dos nossos próprios buracos da vida. Eu sempre dei altos conselhos pra amigas e amigos meus sobre o que fazer, como agir e como se portar diante deles, mas não sabia, mesmo, como é ruim se encontrar amarrada pelas circunstâncias da vida, e não poder fazer absolutamente NADA, a não ser continuar a andar, sem parar. Daqui a pouco, tudo se ajeita e a gente percebe que nada é, nem era, por acaso, As coisas se encaixam, né?

É?

Não sei. Não faço idéia.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XII

Tava conversando outro dia desses com uma amigona minha, contando pra ela das minhas neuroses de relacionamentos e das minhas psicoses sobre meus sentimentos e sobre a vida mesmo, e ela me disse que eu tava dramatizando demais as situações, aquilo que foi dito e o que não foi dito. E me disse também, logo depois dessa parte, que, se não fosse dramatizado, não seria eu, né? Exatamente isso! Se não tivesse drama, exageros, exacerbações, passadas dos limites, realmente, não seria eu mesma, mesmo. E desde quando isso é um problema?

Uma atitude que me deixa muito descontente com a raça humana é quando alguém me chama de emotiva demais. Normalmente, eu veria isso como um elogio, daria um baita sorriso e agradeceria, não é mesmo? Pois bem: fui descobrindo que, pra muitos, isso não é algo a ser elogiado, mas a ser corrigido e consertado. Desde quando a gente passou a reprovar expressões sentimentais? Desde quando a gente passou a condenar o exagero, o que vai além? Preferimos, então, o normal? O meio-termo? O controlado? Que vão todos à merda! Eu não me contento com médio, odeio gente em cima do muro, gente meio-termo me dá pena. Pena deles. Pena daqueles que não podem atingir os seus máximos, os seus picos, os seus ultrapassáveis!

Me chamam, às vezes, de Drama Queen. Drama Queen? Muito obrigada, pessoas que disse me chamam. Fico muito honrada pelo elogio. Sim, e-lo-gio. É óbvio, também, que não dá pra construir uma vida em dramas eternos e viagens completamente fora da realidade, mas eu decidi que a minha, a minha, vida vai ser traçada mais em corações do que em cérebros e seus neurônios nojentos. Mais em Literaturas surpreendentes do que em Matemáticas exatas e previsíveis. Mais em banhos de chuva no meio da rua de um verão que queima, do que em cinemas com os sempre jantares posteriores.

Não me envergonho em ser exagerada. Em ser expressiva demais. Fico triste, sim, quando não sou correspondida à altura do que eu me dou. Mas não condeno aqueles que são mais acanhados em amores e paixões, não. Até tento entender o porquê de essas pessoas, na maioria das vezes, não conseguirem aproveitar tudo que dois seres humanos juntos podem construir. Tenho, sim, esperança de que essas possam, um belo dia, ver como é maravilhoso perder a linha, esquecer que se pode ser ridículo ou não, deixar de lado o medo da vergonha e o medo de ter medo, e, porra, aproveitar o melhor que temos nessa vida: as emoções. Muitas emoções.