sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XIII

Sem palavras. Às vezes, mesmo aquelas que sempre têm várias palavras às suas bocas ficam somente com a saliva, que as mata a sede de conversas, e sua língua, agora, vazia e inútil. E isso acontece em várias situações da vida de cada uma, com seu cada problema e seu próprio grau de espanto: o quê?! É a única coisa que muitas de nós conseguimos soltar. E só.

Impressionante, porque, nas horas em que eles acontecem, tudo o que você quer é falar tudo aquilo que pensou durante horas, sentada na sala, fingindo ver um programa qualquer que você nem sabe dizer se é o Jornal Nacional ou o Pânico na TV. A gente ensaia na frente do espelho várias coisas pra dizer, com a maior pompa de todas, né? Monta frases lindas, que poderiam, perfeitamente, estar num livro de auto-ajuda best-seller. Sabe de tudo! Agora, coloca essa pessoa, essa própria, na frente daquele a quem são destinados todos esses ensaios. Ah, mas coloca! Não vai sair nem uma fala decorada, nem uma vírgula meticulosamente encaixada pra dar aquela pausa estratégica. A gente simplesmente olha. E se cala. Não por vontade própria, mas acho que pela sabedoria do subconsciente.

Será que falar tudo aquilo que a gente pensa vale a pena? Em relacionamentos amorosos, é o que a gente ouve, né? “Ah, tem sempre que falar tudo que está sentindo, tudo que está pensando, tudo, tudo!” Humf. Até parece. Não dá, mesmo, pra falar tudo o que a gente tá pensando, fazendo e sentindo exatamente por que a gente precisa de proteção, também. Quando começa a ficar com alguém, ou a namorar; quando casamos, enfim, a gente precisa se resguardar o mínimo que seja, pra evitar que o pior aconteça.

Olha o seu caso, Priscila: se resguardou? Não. Nem um pouco. Fez cerimômia em se expor? Nada. Teve medo de expressar todos, mas TODOS os seus sentimentos? Não. Receio em se entregar, e mergulhas de cabeça? Não, não! Exatamente isso que a gente ouve, no final das contas: não. E esse não é falado de mim pra mim mesma: não! Eu sei que já disse, várias vezes, que a gente tem que expressar todos os nossos sentimentos e blá, blá, blá. Mas só vale a pena, mesmo, quando a gente sabe em que asfalto tá andando. E, se ele for cheio de cascas de ovos, em que qualquer coisa a ser falado deve ser pensada, esquece.

É sempre uma questão de conhecer o caminho que se está prestes a perseguir, cara. Analisa o caso, racionalmente mesmo. Tenta perceber o que vai aparecer por essa estrada, se são borboletas ou morcegos, ou os dois. Tenta, também, se perceber: tá a fim de quê? Ah, é de amar e dar amor sem contar medidas? É? Ótimo! Então, veja pra quem esse pretenso amor está sendo destinado e veja, também, se essa pessoa merece ganhar isso tudo. Se essa pessoa te merece, de verdade.

Se não merecer, uma pena. Mas uma coisa nunca pode ser esquecida, Priscila: você sempre irá se merecer, seja na merda ou no paraíso. Então, abre os olhos, destranca o coração, sem jogar a chave no ralo, e vai dando os passos à frente. Parar com eles ou não é uma coisa que o tempo vai dizer. O tempo, sendo traduzido pelas pessoas aí afora.

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