domingo, 6 de dezembro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXI

A volta dos que não foram.

Dos 7 Pecados Capitais até hoje estamentados, eu acho que a gente deveria criar mais um 7. Melhor dizendo, acho que uns 77 a mais, quem sabe, iriam dar vazão a todas as besteiras que a gente faz na vida e que, pelo seu sempre final trágico e herege, deveriam ser terminantemente punidas pela igreja. Não pela católica, óbvio. Mas pela igreja de todos nós, mocinhas e mocinhos, fiéis ao amor perfeito. Ou, pelo menos, ao pouco imperfeito.

Uma dessas posturas (praticada por mim em quase todos os meus namoros, ficadas, rolos, enrolos e indefinições sociais) é a maldita teimosia. Eu, na minha subconsciente pretensão e soberba, meto-me uma coisa na cabeça e só tiro de lá em dois casos: ou quando eu conseguir fazer o que quero, ou quando o insucesso chega a um ponto em começa a me fazer mais mal do que bem. E, em relacionamentos, essa cisma toda aparece em várias situações, mas em um, em especial: no querer (ferrenhamente, em alguns casos) mudar o outro, mesmo sabendo que isso é terminantemente impossível. Mesmo depois de todas as regras e tipos esclarecidos, ou seja, o que é aceitável e o que o outro tem como hábito imutável. Mesmo estando a par de tudo o que pode acontecer, você, burramente, fecha os olhos pra realidade e acredita na sua (in)capacidade de fazer tudo virar flores e borboletas.

A coisa vai mais ou menos assim: a gente conhece alguém que, mais do que naturalmente, tem as suas diferenças, defeitos e qualidades. O talento de um bom namorado ou boa namorada seria justamente conseguir lidar com as oposições e distinções que encontra no parceiro, certo? Pena que o mundo não perfeito. Pra ninguém. Diante daqueles contrapontos, eu faço de tudo, se gostar mesmo da pessoa, pra tentar me adaptar ao jeito dela de ser. Me condiciono a abrir mão de várias preferências minhas, experimentar novos programas (sociais ou na cama), ver gente nova, fazer coisas novas. A gente ta junto é pra isso mesmo! Pra evoluir, como pessoa, e melhorar, como parceiro.

O engraçado é que, em alguns casos, a gente vai se ajustando ao jeito do outro pra, ironicamente, depois de tomada, querer fazer com que ele (ou ela) se molde ao nosso! Estranho? Louco? Sim. Muito. Minha cabeça, de tão exercitada e utilizada, acaba se esticando tanto que vira uma corda pra eu me enforcar, sendo cada idéia um pedacinho que a ocupa. Nessa loucura toda, a gente vai se desmontando, contando com que o outro, diante do nosso esforço em se adaptar, também vá se desmontar tanto quanto a gente. Ótima opção, hein?

O problema acontece justamente quando a gente perde a noção do que é aceitável e daquilo que já vira um pecado inconcebível. Contra nós mesmos. Nessa cisma toda por tentar se adaptar ao estilo de ser do outro, muitas vezes, mesmo sem perceber, a gente vai perdendo a ciência do que nós éramos, antes de tudo começar a começar. Mesmo que ninguém saia de um namoro igual a como entrou, é indispensável que a sua personalidade e as suas crenças se mantenham minimamente coerentes, oras! Afinal, quem é você? Se essa pergunta soar como um vazio, na sua cabeça, no meio de um namoro, corre pra sua igreja e vai rezar uma novena: a coisa tá feia.

Tudo se desmorona quando começamos a contar quantas concessões cada um fez. Nessa história toda de se modelar ao jeito do outro, NUNCA vai se saber quem abriu mão de mais coisas. Só e apenas aquele que passou pelas mudanças (buscando melhorar um namoro) sabe o quão difícil foi pra ele fazer aquilo.

Temos um impasse. Um obstáculo. Mais um, depois que tantos que um namoro, naturalmente, tem que enfrentar. Eis que, sem mais saber direito quem você é (e isso não sendo uma remodelagem de personalidade, mas uma perda dela), sem saber o que quer, direito, só resta uma opção: colocar na balança, clichê, mas verdadeira, pesando o lado bom e o ruim. Mesmo que haja muitos momentos legais, se esses estiverem sendo esmagados e trucidados pelos ruins (que, inevitavelmente, parecem sempre ser mais pesados), é hora de parar e pensar na sua religião.

Pensar na fé que temos em nós mesmos, não como religiosos que freqüentam cultos, mas na fidelidade com a nossa felicidade, com o nosso bem-estar, a curto e a longo prazos. Conformar-se que as coisas fogem ao seu controle, que você não vai mudar o mundo, muito menos o seu namorado. Entender que namoros dão mais errado do que certo. E que, diante disso, você só precisa evitar o máximo dos pecados: a teimosia, que leva a uma possível autodestruição.

Entre os tantos pecados que a gente comete (contra nós mesmos), só existe uma punição, que não inclui setecentas ave-marias: é quando se sente, na pele, o reflexo dele, do pecado, que cismamos em cometer, mesmo com todos os conselhos e experiências. Nesse caso, nem Deus, nem ninguém vai te ajudar terminantemente: só você, o Céu e o Inferno da sua própria existência.

2 comentários:

Carol Assis disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carol Assis disse...

ÓTIMA essa.
Pior é que temos consciência desse tal pecado; mas que nada: nossa hipocrisia é redundante e gostosa.