terça-feira, 1 de setembro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXVI

Depois de passar um dia todo pensando e repensando sobre uma calça, que, por mais linda que possa ser, não merece tanto uso de neurônios assim, você precisa dar um jeito nessa sua cabeça vazia, né, amor? Aliás, vazia, em parte: ela tá cheia, sim, mas cheia de problemas com os quais eu não to com a menor vontade lidar nesse exato momento. Nem agora, nem tão cedo. Sabe quando dá preguiça de pensar no que deveria estar pensando? Pois é. Essa coisa tem me perseguido desde que eu acordei hoje. E ontem. E anteontem. E olha que pensar é um dos meus mais amados hábitos, hein? Ta bom. Confesso. É um vício porco mesmo. Nessas reflexões todas, chega sempre a hora em que temos o maior embate do milênio. É tão grande, que acontece todos os dias, com milhões de mulheres em crise, homens à beira do exame de próstata e menininhas que mal sabem a merda em que tão se enfiando, quando perdem a virgindade: o racional versus o emocional. Chamar de clichê? É pensar demais.

Com o passar da vida e as quebradas de cara, nariz e agregados, a gente aprende, sim, milhões de novas coisas, na marra ou porque nossa mãe nos falou (essa segunda vamos combinar que quase nunca acontece). Errando aqui, tentando acertar acolá, a gente, cedo ou tarde, bem ou mal, vai se moldando às previsibilidades da vida e passa a usar essa cabeçorra (que tem que existir pra mais alguma coisa, além de passar oleosidade pro meu cabelo) e a converte em um chicote, com o qual você maltrata o pobre leãozinho que são os seus sentimentos. O problema é que esse indefeso bichinho, há, pode virar uma fera, mas do que repente.

Você até se acostuma a sempre se domar com os seus pensamentos. Fica boa até com eles. Viram melhores amigos. Mas, como todo bom amigo, uma hora, ele vai viajar, ou passa um tempo fora mesmo. E você? Fica sozinha, à mercê dos inimigos da estabilidade: os Sentimentos. Aí, pronto: você até consegue racionalizar as coisas, sabe que aquilo não vai dar muito certo, e que aquele cara é muito diferente de você, e que não, e não, e não: na cabeça. Mas quem disse que ela manda o tempo todo? Aparece um que aniquila toda a sua estratégia de contenção da sua própria barreira (emocional), que, do nada, desaba, como se tivessem tirado o chão do Rebouças.

Fica assim: você sente. Não quer sentir. Pensa que não quer. Tenta não sentir. Mas, quando tá mais desprevenida, vendo um filme bobo que ama ou ouvindo uma música que ninguém sabe que ta no eu iPod, ele volta, e puxa o seu tapete.

Fica assim: se entrega? Será que seus sentimentos também não pensam? Eles são seus, afinal de contas, não? Têm que ter alguma semelhança com você e não podem te sacanear. São de você. Não?

Quem foi que inventou que pensar sobre sentir é útil? Quem disse que sentir sobre o pensar dá certo?

Acho melhor, mesmo, eu me concentrar, agora, em pensar sobre langerie. Pelo menos elas são mais fáceis de domar, né?

(Até que você se olha no espelho, toda empombada com sutiãs e calçolas-à-Bridget-Jones e pensa em quem? Nos sentimentos de nojo pelo seu corpo).

Um comentário:

Deian disse...

vamos pensar na cor da próxima saruel q é bem mais fácil...hahahaha