terça-feira, 22 de setembro de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXIX

Engraçado... Nessas minhas andanças pelas livrarias da vida (obviamente, enfurnada em um shopping, quando, lá fora, tiveram a brilhante idéia de fazer um “Dia da Bicicleta” em um tempo horrendamente chovoso) me toquei de que o que você mais encontra pelas estantes, além de milhões de livros de autoajuda comprovadamente de péssima ajuda, são os de romance. Ah, o amor! O mais nobre e plebeu dos sentimentos humanos. O mais amado e odiado de todos. Fonte inesgotável de histórias que vão desde Romeu e Julieta até uma patética entre um vampiro sedutor e uma babaca, nada-vampiresca, que cai como uma pata. Amores pra cá. Desilusões pra lá. Orgasmos do coração por todos os lados. Mas os autores, por vezes, esquecem alguns assuntos que são tão importantes, quiçá ainda mais recorrentes do que o tão procurado amor: a incapacidade de recebê-lo. Aí, querida, não há autoajuda que salve.

Todo mundo, sem exceções, está à procura do amor. Disso, ninguém escapa. Pode ser por amor entre pessoas. Pelo amor entre um alguém e a carreira. Até mesmo o amor entre um elemento e a sua tão prezada vida de desamores, só paixões. A verdade, estampada por todos os quatro cantos, é que qualquer ser humano, que tenho o mínimo de consciência da sua genialidade intelectualmente sentimental, quer saber do que se trata essa coisa toda. Muitos querem. Tantos quanto, às vezes, mesmo querendo, esbarram com uma escuridão que impossibilita, na hora, qualquer forma de achar o tão desejado amor.

Por medo? Por experiência passadas? Por egoísmo? Por ódio a si mesmo? Motivos não faltam na minha vasta cabeça de pensadora (mesmo que aplicada a tópicos retardados e inúteis) que poderiam justificar o porquê de aquele bendito indivíduo, ou aquela outra, não se deixarem levar pela paixão. Paixão, sim, como estágio inicial a um possível outro próximo: o tal do amor. Preguiça? Pode ser mais uma razão.

Nem tô falando só de joguinhos de relacionamentos, não, mesmo que eles se enquadrem perfeitamente em um dos exemplos mais freqüentes. Nesse caso, sim, por medo de se entregar, muitas pessoas criam e vestem um escudo dificilmente destrutível. Com ele, conseguem criar os mais embaraçados diálogos, inverter situações, calcular milimetricamente o que o outro vai fazer. Eo que o próprio vai fazer, também. Transformam o que duas pessoas têm (ou teriam) em um grande tabuleiro, na maioria das vezes, com as regras ditadas por um autoritário apenas que, mesmo que não seja verdade, acha sempre que tá ganhando de lavada. Pura distração pra não aproveitar o melhor prêmio de todo vencedor de um outro jogo: o da vida mesmo.

Esses hábeis jogadores se focam tanto naquelas regras pequenas e bobas, que acabam se esquecendo de outras ainda maiores e mais potentes. Regras, ao mesmo tempo, mundialmente conhecidas e pessoalmente modificadas: as suas regras; as regras do seu jeito de amar, que, convenhamos, são muito mais deliciosas e atrativamente perigosas do que umas efêmeras e reduzidas a pecinhas.

Qual é o grande problema que há em se sentir um babaca apaixonada? Eu, metendo o pau naquela menina do vampiro, coitadinha, mal sei como ela tá bem mais feliz do que, provavelmente! Qual é o problema, também, em se deixar levar pelos enlaces do coração? Mesmo que eles venham a se romper e deixar você cair, essa queda, por mais dura que seja, vai ser muito mais útil do que ficar se segurando, antes mesmo de tentar, não?

Em qualquer situação, não só nos relacionamentos já engatinhados, os que não conseguem se deixar amar são os mais dignos de pena. Aquele que amou, sofreu, chorou e voltou a amar merece, sim, o prêmio de melhor jogador, sem sombra de dúvida. Ele, ao menos, teve a coragem e autossuficiência de se pôr lá e ver no que daria. Já os primeiros, coitados, vão continuar batalhando.

E guerreando.

Mas, afinal de contas, essa luta toda, seja em que jogo for, vai ser dele contra ele mesmo.

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