quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Monólogo de Dois - Parte XXIII

Minha mãe adora fazer. Minha avó, então, aprendeu com a minha bisa e trouxe como herança pra todos os netos, netas, sobrinhos-netos, sobrinhas-netas e agregados. Minhas amigas preferem fazer isso a ir ao cinema, como hobby. Na verdade, mesmo, todo mundo faz! Não tem jeito. Alguns assumem e dão a cara a tapas. Outros preferem disfarçar essa característica inerente ao ser humano, na eterna busca idiota pela perfeição inexistente. Não. O tópico não é sexo, Priscila. Eu sei que ele virou um problema pra você, justamente pela sua falta, mas vamos ao foco da reflexão. Foco! O que todo mundo faz? Falar mal dos outros. E haja agulhas de tricô.

Gente, por favor, sem extremismos, tá? Qualquer pessoa nesse mundão de meu Deus já falou, fala ou vai falar mal de alguém. Todos nós temos as nossas características próprias e que são, várias vezes, diferentes das dos outros. É mega normal, justamente porque diferença, por vezes, causa desconforto, não tem jeito. É a velha lei do Narciso, né? “O que não me é semelhante me é estranho”. Gente, que que eu fumei hoje, além das milhões de carteiras da Carlton? Tô tão filosófica.

Ah, mas essa filosofia acaba na hora, quando começa a malhação. Quem dera que ela fosse de glúteos, bíceps e tríceps, querida. É da vida alheia mesmo. Eu sou uma grande suspeita pra falar. Adoro criticar. Tudo e todos. É de fato o meu passatempo mais praticado. [...] Gente, você assume isso como quem ganha uma medalha de honra ao mérito, por ter reencontrado o dedo perdido do Lula, né? Não. Não tenho orgulho de ser assim. Mas acho, realmente, que a supercrítica faz parte da minha essência, sabe? Não é só em relação aos outros – e, amada, nisso eu sou boa -, mas o pior: muito em relação a mim, principalmente.

Todo mundo que é um pouquinho venenoso com a vida alheia tem, por trás dessa pose toda de autossuficiência, um grande e gritante recalque. Sim, sim, nem adianta tentar suavizar a realidade pra você mesma, querida. Já bastam os quilos de maquiagem que fazem isso todos os dias. O pior problema de quem é muito crítico é exatamente criticar a si mesmo! E, a partir disso, vem aquele velho problema: a não-aceitação.

Aí, meu bem, tudo se desenrola. Por trás daquela máscara de comentários afiados, é bem provável que tenha uma faca, bem afiada também, que machuca o crítico a cada vez que ele se olha no espelho, literalmente, ou quando ele vê a realidade refletida nos pensamentos. E é exatamente por isso tudo que ele mete o pau nos outros (mas sexo de novo?): quando ele fala mal de fulano e beltrano, desvia a atenção dos seus próprios defeitos. Defeitos esses que, se fossem avaliados por aqueles críticos que os têm, seriam destruídos com comentários. Isso mesmo: muitas vezes, a gente fala mal dos defeitos dos outros justamente por não aceitar que nós mesmos também tenhamos esses problemas.

Hipócrita? Não necessariamente. Há casos e mais casos, com detalhes e mais detalhes. Não dá pra generalizar, né? Nesse caso, só o Doctor Phill e Márcia Godlschmidt pra resolver essas pinimbas todas.

Meu Deus, que nojo de você mesma! Usando Márcia na sua reflexão? Aquela pretensa psicóloga moralista, que baseia a sua profissão em dar conselhos a pobres pessoas que ainda confiam na sua – falta de – capacidade pra palpitar sobre a vida alheia e que ainda é aplaudida por uma platéia de donas-de-casa que deixaram a panela no fogo só pra assistir ao guru dos desesperados sem TV a cabo?

[...]

Não disse? Acho que é genético.

2 comentários:

Goiabinha disse...

Pode falar mal de mim...se isso for ajudar a desviar o olhar deturpado que você tem a seu respeito...

Mais uma vez, enxergo em vc, Priscila, muito de mim, como se estivesse olhando a um espelho. E só tenho que agradecer, pois, assim, ao lhe conhecer, acabo me conhecendo mais, diariamente. Já li e reli seus monólogos diversas vezes!

Agora, sei que estou sendo brega, (ei, sou brega mesmo! Então é melhor reconhecer logo quem sou e viver!) mas você é linda. Aliás, muito mais que linda! E, não depende das roupas que você usa, ou dos quilos de maquiagem. Seu caráter não se define por essas superficialidades (que, por sinal, acho extremamente importantes, afinal, nada de sair horrorosa no mundo né!). Mas, caso a maquiagem não seja à prova d'água, por exemplo, ela sairá com a chuva ou lágrimas. As roupas, saem de moda. Mas seu caráter, SEU caráter, construído a partir de SUAS experiências, não depende de fatores unicamente externos.

Bom, terminando o momento brega (breguíssimo), gostaria de agradecer novamente: obrigado por ser assim, tão você.

PS - repare que, por analogia, quando eu lhe elogio, estou, em última análise, elogiando a mim mesmo né, afinal, disse que somos parecidos! hahah

Deian disse...

me senti um bonequinho de vodu sendo alfinetado! hahahahaha