sábado, 9 de fevereiro de 2008

Quando as Serpentinas Pousam

Mas o povo brasileiro é um bicho muito engraçado, mesmo. O mais engraçado, ainda, é quando essa curiosa formação beira a hipocrisia. Tudo bem que cada brasileiro, esteja ele no último andar de um prédio paulista imenso ou em baixo da terra, é simpático, hospitaleiro, cosmopolita e toda aquela ladinha nacionalista de que nós já estamos exaustos de ouvir. Tudo bem que a “mixagem” racial, originária daqui, é única e mal usada por aqueles que nasceram dessa mistura. Tem qualidades, tem defeitos, como outro povo qualquer. Agora, uma postura que me irrita os nervos é se vestir com a decência, a compostura, o conservadorismo ao longo do ano inteiro e, quando se chega a Fevereiro, é tudo ignorado e pisoteado por foliões quimicamente preenchidos. Esquece-se de todos os tão prezados valores de moral e bons-costumes, põe-se uma outra máscara (dessa vez, de onça, Bush ou Bin Laden) e cai-se na folia. Tudo bem, de novo, que o carnaval é uma entidade nacional, que representa toda uma cultura secular. Tudo bem que é um momento de alegria extrema e que dura instantâneos quatro dias (dependendo do estado de que se fala). Mas que é hipócrita, isso é.
Não. Não detesto carnaval; admiro, sim, o ânimo e a paixão de muitos por Ele. Também não detesto o meu próprio país, muito pelo contrário: é uma relação de amor e revolta. Amor por aquilo que nos rodeia e que, mesmo reclamando, por vezes, não conseguimos viver sem. E revolta por aquilo que não pudemos mudar... Afinal, se fosse possível mudar tudo aquilo de que não gostamos no nosso meio de vivência (no meu caso, de sobrevivência, também), atingiríamos a sociedade perfeita, e não a que se construiu. O sonho de consumo de Marx. Consegue imaginar? Eu consigo, e que puta saco ela seria.

Deixa o meu Brasil como ele está, oras.

2 comentários:

Lívia H. disse...

Nesse sentido, recomendo: Carnavais, Malandros e Heróis, do Roberto da Matta.

beijomeligacadêvocêsumido!

Anônimo disse...

Assim que passar, se passar, minha fase burra, eu comento. Mas até que compartilho de algumas virgulas.

Beijos!