terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Monólogo de Dois - Parte XI

Desde a primeira vez em que eu fui buscar a minha amada mãezinha no aeroporto, eu me apaixonei por eles todos! Seja qual for, onde estiver, eu sei que essa vai ser a única relação estável e eterna que eu vou ter na vida: aquela entre mim e os aeroportos... Meu sonho, aliás, um dos meus sonhos é... Que você que tá falando, Priscila? Isso não é um sonho, meu bem! A não ser que você ainda tenha 10 anos de idade. Enfim, voltando ao foco do raciocínio (Raciocínio? Você chama isso de raciocínio?) Enfim, de novo! Uma das minhas maiores vontades loucas, além de querer colocar o sabonete na boca, quase sempre que eu tomo banho, é passar a noite presa em um aeroporto... Imagina, cara! Brincar de Tom Hanks, em “O Terminal”, seria má-xi-mo. E, nas férias, eu geralmente invento uma viagenzinha pra fazer, né? E viagenzinhas, quando pra lugares distantes, têm que ser da avião, né? Logo, lá me vou pro aeroporto.

Uma das coisas que mais me atrai neles são as pessoas: são, quase sempre, muito bem arrumadas, distintas, se preparando pra uma viagem de negócios, ou pra uma outra de férias, mesmo, mas viajar de avião é quase um evento. Não que você deva, queridinha, ir de longo pra lá, porque senão o pobre avião vira um daqueles de propaganda, que passam na praia, sendo que a calda do seu belo vestido longo vai ser aquela faixa. Mas, também, não precisa ir toda mulambenta, né, bem? Eu mesma já vi várias pessoas que vão viajar de avião como quem fica em casa, num domingo chatérrimo. Até de chinelo eu já vi, menina! Mas não é aquele outfit casual, estilo Mary Kate Olsen, não. É uma havaiana horrenda, com uma bermuda-peça-de-museu e uma camiseta que só não é daquelas de campanha eleitoral porque não tem a cara de um político safado na frente, porque a qualidade do tecido é a mesma, se não for pior. Isso não rola: afinal, você não tá indo pegar uma vã pra Cascadura, saindo da Penha, né?

Eu gosto mesmo é de me fingir de super habitual, como seu viajasse todos os dias, a mando da minha empresa, sendo uma executiva muito bem sucedida. O problema é quando aparece um conhecido, que você gostaria de desconhecer, e faz aquela festa, né? “Pri, querida! Como vão as coisas? Até que enfim resolveu sair daquele apartamento, né? Já tava na hora de dar uma voltinha por aí!” Aí, bem, de duas uma: ou você começa a berrar, igual a uma louca, dizendo que o respectivo conhecido é um terrorista louco disfarçado, que veio botar fogo no Galeão, ou você simplesmente concorda, e se veste, além de executiva, de monossilábica: “é.”; “urrum”; “pois é” e nada mais do que isso, sem dar papo, pra espantar aquela representação grotesca da sua realidade. Acho mais simples optar pela segunda, até porque, assim, você já cria uma inimizade de vez!

Chega a ser até engraçado, às vezes, porque eu gosto mais de ir ao aeroporto e de estar no avião do que da própria viagem em si, que pode trazer muito mais decepções do uma já garantida viagem ao aeroporto. Tirando as aeromoças antipáticas e pateticamente muito maquiadas, pras sete horas da manhã, e as eventuais companhias das cadeiras vizinhas, que podem ser péssimas, estar dentro da aeronave é bom demais. A não ser, queridinha, que o seu vôo tenha atrasado 13 horas, e que vocêzinha, queridinhazinha, esteja com a bunda numa cadeirinha (e isso sufixo não é fofo) há 5 horas, depois de ter rodado, entrado e não comprado todos os produtos de todas das lojas. Aí, benzinho, não há aeroporto, Tom Hanks ou destino que salvem!

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