terça-feira, 18 de novembro de 2008

Monólogo de Dois - Parte VII

Sem sono. Na internet. Um pouco de televisão.
Sem sono. Uns cigarros. Uns lanches na madrugada. E uns quilos a mais.
Sem sono. Umas músicas que me deixam com sono. Uma música que me deixa sem sono. Sem sono. Sem saco.
Sem sono. Confusa.

Eu só sei que me cansei dessa insônia que me dá, toda época em que eu tiro férias. Pseudo-férias, na verdade, porque, naquele escritório, eles te ligam pra avisá-la de que terá que trabalhar terça-feira, às 10h da manhã. Mas fazem essa ligação terça, às duas da tarde! Tá. Tudo bem, exagerei um pouco. Mas o desespero que me bate é o mesmo!

Então, é uma coisa engraçada: quando a gente tá trabalhando, reclama, xinga e soca as paredes de impaciência e cansaço. Quando vêm as férias, e a gente pensa que tudo será maravilhoso, que teremos tempo pra tudo e que faremos o que quisermos, vêm a falta do que fazer e a sobra de tempo. Sobra até demais! E já sabe, né, Priscila? Cabeça vazia, oficina da mulher-confusa-neurótica, ou seja, o diabo de saias.

Com essas férias de mentira, eu fiquei um tempo sem ver aquele que era a fonte das minhas confusões e alegrias. Pude pensar um pouco, então, no que estava acontecendo. No que estava me acontecendo. Porque, quando a gente tá na boa, no bem e bom, a gente nunca realiza a realidade, né? (Ih, redundante e óbvia. Nem pra filosofar você serve mais, chuchu.). É, a gente precisa estar fora da moldura pra analisar o quadro como ele é, entende? É aí que a gente consegue enxergar onde a gente se meteu, o que deixou acontecer, o que fez, e vem ele. Ele. O desespero! Será que fiz certo? Será que eu to sendo hipócrita? Platônica? Sim, porque, pra um relacionamento dar certo, precisa de... Hum... De que mesmo?

Eu só sei que não agüento mais ficar reclamando com as minhas amigas, nos sagrados bares de todo dia. Reclamo de que a vida é complicada. Mas reclamao falando sério, mesmo! Por que, oh, senhor? Por que as coisas têm que ser tão não-fáceis? Por que eu já não nasci com a bunda cheia de dinheiro, com um marido me esperando, com filhos prontos, sem problemas? Por quê? Óbvio que elas riem, e falam que a vida é pra ser difícil e complicada mesmo, pra que possa valer a pena, né? E me dizem, também, pra eu aproveitar os bons momentos, que é isso que deixa a vida mais prazerosa. Tem uma, aliás, que sempre me fala Carpe Diem.

Carpe Diem? Vai à merda! Como você pode “carpediemar” quando tá cheia de problemas, o que é uma constante?! O máximo que eu alcanço é rir das minhas próprias desgraças, com todo o humor negro e ironia possíveis. Desculpa, queridinha, mas aquela mulheres lindas, dos comerciais de iogurte e margarina (light) simplesmente não existem. Nada de praias maravilhosas, homens te segurando no colo e te rodando pela areia. O que eu tenho, há, o que tenho? Ipanema cheia. Areia suja de latinhas. Calor, muito calor! E nada de margarina light, pra mim: eu me encho é de manteiga mesmo. E daquelas boas, bem amarelas, da roça, que engordam horrores. Como mesmo! Isso, sim, é a parte boa da vida.

E outra coisa engraçada é que, quando a gente tá trabalhando, reclamamos sempre do celular que não pára de tocar, e daquelas secretárias antipáticas que te ligam com uma voz fanha chatíssima, e blá, blá, blá. E nas férias? Ninguém te liga, filha. O máximo que você tem é uma mensagem. De homem? Não: ou é o seu horóscopo (que me deixa mais tensa ainda, porque só anuncia tragédia e problema) ou é a Vivo, meu carma, que ainda me manda os saldos que me restam? Por favor, né? Manda esse povo da Vivo tirar férias também! Ou seja, a Vivo vem, e eu morro.

É nas férias, também, que os medos vêm com mais clareza ainda. Porque, quando trabalhando, a nossa cabeça tá cheia de outros assuntos: trabalho, projetos, café. De férias, não: alguma coisa tem que ocupar essa cabeçorra enorme, né, filhinha? E seriam pensamentos positivos? Óbvio que não: realidade, Priscila, lembra? Medo de quê? De escuro (tanto o físico, quanto o psicológico). Medo de magoar os outros. Medo de me magoar. Medo de me envolver. Medo do efêmero. Medo de não saber distinguir. Medo de decidir errado. Medo de ter medo.

Cansei de pensar. Já tô ficando com dor de cabeça. Chega, Pri. Vai ler alguma coisinha, alguma revista bacana. É: você assina trocentas revistas, e nunca lê nenhuma, mesmo! Lê agora, ora. Deixe-me ver essa daqui.

[...]

Página 34: “O que fazer nas férias”.
O que fazer nas férias?!
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