domingo, 16 de março de 2008

Conexões

Nove meses de espera e, quando nascemos, o fazemos com um estridente choro inaugural. Sábio para um recém-nascido, afinal, já começa praticando algo que fará muitas outras vezes.
Estar vivo e ativo é, inquestionavelmente, uma porrada (sic) atrás de outra, com eventuais tombos e bombas, ao longo do caminho. Ao virmos ao mundo, parece que nos atiramos em um longo e infinito campo minado, recheado por armadilhas e arapucas. Dentre essas, uma das mais comuns é conviver com expectativas. Antes das más interpretações, disserto: lá estão elas, sempre, a todo tempo, dispostas aos montes. As expectativas são, de fato, atraentes como um pote de doces a uma criança, uma certeza a um adolescente, ou a felicidade eterna, ao adulto. Porém, diferentemente de suas comparações, as expectativas podem ser muito mais traiçoeiras do que simples balas e chocolates, moleque.
Sem elas, não há como evoluir. É elementar, básico, quase matemático. Sem elas, não se move, não se escolhe, não se acerta nem se erra. Em síntese, não se vive, apenas existe, como um peso de papel, ou como uma pedra, em meio ao nada. São essenciais, portanto, para quem quer fazer de suas férias nesse campo de batalha, que é o viver, algo útil e memorável.
Com elas, entregamo-nos a um outro infinito, mais colorido, cheiroso, tátil. Quase encantado. Há mil e uma possibilidades, todas realizáveis e perfeitamente possíveis de tornarem-se reais. Uma delícia! Mas, ao fazer o que se deve, é recomendado –e necessário- precaução.
Cuidado, sim, pois se é envolvido por todo um universo paralelo de fantasias e múltiplas-escolhas (sem ter que marcar um xis sequer; pelos menos no começo), e se perde por dentro dele, não realizando o que era pra ser efetivado. Viajamos e viajamos no que pode ser, no que poderia ser, sem nos concentrar no que será, de fato, sem hipóteses, sem ‘se’ e ‘caso’. E, quando a realidade nos puxa, com toda a sua força já por nós conhecida, levamos um bom tabefe na cara, como uma injeção de cafeína pura: acorda!
Eis mais uma questão sem conclusão; mais um prato sem receita; mais uma interrogação, sem ponto final, mas rebatida com outra pergunta. Independentemente de todas as conversas de botequim, todas as convenções e conferências da Filosofia, não se confeccionou, ainda, uma resposta objetiva à pergunta que não se quer calar, e que cala todos: usar ou não da vasta disponibilidade de expectativas no nosso próprio mercado imaginário? Sem baboseiras inconseqüentes de “se atire como se fosse num precipício, sem olhar pra trás” e agregados, cheguei à seguinte conclusão: como filhos, nossas expectativas são surpreendentes e devastadoras. Se não tê-las, como sabê-las? E eu, particularmente, não me atrevo em não as ter.

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