quinta-feira, 4 de março de 2010

Monólogo de Dois - Parte XXXIII

Mesmo já sendo uma pessoa autoconsiderada experiente. Mesmo já tendo visto muita coisa bizarra, nesses meus longos a aparentemente intermináveis anos de solteirice involuntária, ainda fico chocada, quando ouço algumas opiniões e vejo, digamos, estilos de vida, declarados em alto, bom e conformado tom. Tudo bem que, hoje, não há como negar que a promiscuidade (valeu, idosa.) tem sido quase uma epidemia pessoal. Por todos os lados, é necessário estar com máscaras de gripe suína adaptadas a tal fim, para que não ser contaminado. Não que eu nunca tenha tido os meus surtos, quiçá períodos, de conversão em um peixe de água doce, com dentes afiados e perigoso, que teve seu nome readaptado a hábitos humanos, também afiados e perigosos. Já tive, sim. O que me deixa mais impressionada não é a existência desse modo de encarar os outros, mas a filosofia por trás disso tudo. Antes de mais nada, vamos deixar de meias-palavras: tô falando da piranhagem mesmo. Eu? Ficar me polindo comigo mesma? Pra quê, se, nas novelas de hoje, até palavrões eles falam? Enfim, a piranhagem, movimento social eminente na modernidade, beirando um estado de sítio social, muito me faz pensar e – pra variar – me deixa bem preocupada com as conclusões a que chego.

É conveniente convir: tudo bem, o corpo humano é atraente e, hoje, por causa dos mais variados motivos, o sexo, o carnal, o visual, o tato, são caminhos muito comuns e que, bem ou mal, também têm os seus benefícios e utilidades. Afinal, falamos de um quase instinto de nós, seres humanos, que, apesar de não querermos, somos animais. O problema, na minha chocada visão de mundo, é quando essa vertente animal ultrapassa a humana – lê-se racional e sentimental.

Sem entrar no mérito de que cada um faz o que quer com a sua vida (que é uma boa verdade), eu fico um pouco assustada com a maneira usada, nessa filosofia toda, para encarar os outros. Já ouvi de várias amigas minhas, e até de namorados, um pouco temerosos em me confessar seus feitos “heróicos” no passado (é, parece que eles me conhecem bem mesmo), que, na “vibe da piranhagem” (uma variação lingüística criada), o importante é a diversão e o prazer. Superficiais. Passageiros. Mas diversão e prazer. Desde que ambas as partes (ou mais de duas, nunca se sabe) estejam de acordo com essa visão hedonista e empobrecida do ser humano, beleza, cai de boca (literalmente, em alguns... Eer... Todos os casos).

O preocupante, na minha opinião, é que as pessoas, ao redor, são encaradas, quase sempre, como... Coisas. Sim. As avaliações não são feitas pela inteligência ou por uma conversa bacana, mas pelo tamanho da bunda e da capacidade de sedução visual. O que atrai, nesses casos, não é o sentimento ou a racionalidade, mas o instinto excessivo e, por que não, a animalidade.

Oi? Tem alguém aí? Alguém, quero dizer, uma pessoa, e não um bicho? Cara, eu não consigo entender como essa mentalidade funciona. Não que isso seja uma questão na minha vida, mas como alguns conseguem olhar pro outro e não pensar nos sentimentos que aquela pessoa tem, nas idéias que ela cultiva, nas filosofias que ela alimenta? Como têm a capacidade de abstração, a ponto de não... Pensar? Sim, porque, nessas situações, a idéia é o que menos prevalece.




Tudo bem que eu possa estar soando igual à freira do meu colégio, quando resolveu dar uma aula de educação sexual pra gente. Beleza, eu sei. Confessando pra mim mesma, até já tentei experimentar qual é a da vibe. Ver qual é a graça nisso tudo. E, honestamente, não achei muita graça. Mesmo com a vaidade inflada e uma leve, muito leve, narcisismo camuflado, “I didn’t see the point”. Eu fico, então, matutando (ih, mas essas referências senis tão começando a me deixar tensa): será que essas pessoas, autodeclaradas piranhas, valorizam o que têm?

Creio que, a partir do momento em que você olha pra alguém e não pensa na relação (de amizade, profissional, seja o que for) que tem com ela, muito menos no que ela significa para você, ou no que o seu ato de impulsividade pisciana vai causar, focando, somente, no sexual, no carnal, no carnaval fora de época, chega-se a uma suspeita: esse elemento, que pensa e age dessa maneira, provavelmente, também de encara assim. Vê, a si mesmo, como alguém de carne, osso e só. Se você não valoriza a humanidade dentro de cada um, na minha concepção, seja por dois segundos ou dois anos, tá, também, desperdiçado o que você tem de bom, além de um rebolado sensual ou uma língua habilidosa.

Minhas amigas já me chamaram de antiquada, revoltada, hitlerista sexual, daí pra baixo. Mesmo assim, um dia, quem sabe, eu venha entender o porquê de essas pessoas ficarem tanto tempo nesse quase (prepare-se: termo forte e cruel) retrocesso à evolução humana. Um dia, quem sabe, eu entenda.

Quem sabe.

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